— Aonde eu os encontro? — Perguntei embalando-me no mesmo desespero.
— Matteo. Ele sempre os carrega em casos de emergência. — Alec começou a coçar a nuca, ofegante.
Sabia quando o vi tomando aquelas pílulas semanas atrás que havia algo de errado, mas resolvi ignorar. Então está de fato doente?
Olhei de relance para os tabloides e suspirei. Péssimo timing.
— Não saia daí. — Levantei-me. — Vou falar com ele.
Atravessei a rua outra vez com um turbilhão de pensamentos ecoando em minha mente. Alec não parecia realmente doente, mas essa é a função dos remédios, não é? Fazer com que ele pareça bem na maior parte do tempo, enquanto trata — ou controla — o caos interior. Talvez fosse alguma condição temporária, mas de qualquer forma, precisava de ajuda.
Avistei Matteo dentro do carro, fechando o vidro da janela. Ele estava prestes a ligar para alguém, provavelmente Alec ou até mesmo eu. Bati no vidro com as palmas das mãos e Matteo derrubou o celular no colo, assustado. Exclamei para que saísse do carro e atrapalhadamente, ele entendeu.
— Jesus! Quer me matar? — Exclamou, olhando para a multidão atrás de seu carro. — Achava que tivessem subido, mas sumiram muito repentinamente. O que aconteceu? Aonde está o Alec?
— Alec está passando mal. Eu não sei o que ele tem mas disse-me que precisa de seus remédios, e que você provavelmente teria guardado. — Expliquei ofegante.
— Ah... — Matteo mordeu o lábio inferior. Parecia estar compreendendo a situação. — Eu disse para levar o segundo para Chichester, mas esse menino não me ouve!
Matteo abriu o capô do carro e começou a procurar os comprimidos em alguma das malas.
— Vou controlar todas essas pessoas e tirá-los daqui. Tenho uma garrafa com água o bastante para ele engoli-los.
— Qual o problema dele? — Peguei os remédios e a garrafa d'água.
— É melhor ele explicar, sabe como ele é. — Matteo parecia preocupado enquanto caminhava até a multidão, afim de expulsá-los.
Parei de insistir e voltei até Alec. Ele continuava no mesmo estado.
— Estava certo, ele tinha os remédios. — Sentei-me no chão, ao seu lado. Depois entreguei as pílulas e coloquei a garrafa em seu colo, encostada em sua barriga.
— Não sei o que deu em mim. — Alec engoliu os comprimidos de uma vez só, com um pouco de dificuldade. — Não deveria ter achado que seria diferente.
— O que é isso tudo, Alec? Está me assustando.
Ele demorou alguns segundos para responder e tentou retomar o controle de sua própria respiração.
— Quatro anos atrás, estava há um ano no NYF. Fui a grande descoberta do time, foi realmente avassalador. Mas era só um garoto de dezenove anos. As pessoas, a mídia, a elite esportiva, elas são brutais, perigosas. Tudo era novo demais, o sufocamento constante, a falta de privacidade, as mentiras e fofocas estupidas em meu nome. — Ele remexeu a cabeça. — Não que eu não ame meus fãs, eu amo, são eles que torcem por mim, me apoiam. Mas existem pessoas que passam dos limites considerados saudáveis...
Alec parou de falar e pareceu perturbado por seus próprios pensamentos.
— Se não quiser continuar, tudo bem. Não estou te forçando.
— Não, só preciso dar uma respirada. — Ele murmurou "um, dois, três," marcando as pausas respiratórias. — Então, no meio dessa loucura toda, quando estava aproximando-me do meu aniversário de vinte anos, minha família veio me visitar. Achei ótimo, fazia quase três anos que não os via, nunca tinha tempo de viajar para Barrie. — Abaixou o tom de voz. — Ou talvez não abrisse tempo. A questão é que quando vieram, meu irmão, você sabe, Jacob... Ele não estava mais tão pequeno, já tinha dezesseis anos.
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Shattered Ice
RomanceO DESTINO É FEITO DE GELO Quando se é uma patinadora artística, baseia-se na confiança. Nos outros, e em si mesma. O gelo é o nosso fiel confidente, um reflexo de nossa alma. Prometemos manter o gelo que nos desliza por nossos destinos intacto, ...