XLII

1.6K 113 75
                                    

Alto. Ombros largos. Torso forte e malhado. Flexível.

Alec Covington possui todos os aspectos físicos necessários para patinar em dupla, não é a toa que havia sido escolhido anos atrás para patinar comigo.

Mas isso não quer dizer que tenha experiência e treinamento.

No entanto, há algumas coisas que estão facilitando sua adaptação:

1) Ele patina há dezoito anos.
2) É ágil.
3) Consegue rodopiar em um 360° excelente.
4) Sabe como realizar um triple toe, o que facilita sua iniciação para outros saltos.

E o mais característico:

5) Odeia e não aceita não ser impecável em algo.

Foram essas, entre outras, coisas que anotei em meu bloco de notas enquanto assistia aos seus primeiros treinos. Pensei que Eve havia sofrido durante muitos anos com o meu baixo temperamento, perfeccionismo e obstinação. Porém, mudei de ideia ao ver Alec adaptando-se a patinação artística. Em alguns momentos, penso se ambos não vão colidir e explodir como uma erupção vulcânica.

Assisti muitos treinos e jogos dele. Alec já saiu ensanguentado e com as mãos latejando. Já caiu de diversas formas diferentes contra o gelo ou a grade do rinque. Ainda assim, agora conseguiu juntar todas as quedas em um grande coquetel. Claro que é normal, porque não importa quantos anos de experiência tenha, haverá dias em que falhará até mesmo o salto mais básico do glossário da patinação artística. Mas leva um tempo para o seu cérebro memorizar e passar as informações para os seus ossos. Essas informações ficam guardadas em nosso corpo, e a cada dia torna-se mais intuitivo e fácil realizar todos os saltos.

Alec está treinando há quase um mês. Um mês aonde passa doze horas por dia no Davis Rink — o rinque de patinação que fica do outro lado de Nova York, e bem distante do Hamerson Rink. Escolhemos não treinar, ao menos por enquanto, em meu rinque por questões pessoais e de privacidade. O Hamerson Rink possui muitos patinadores que nos conhecem, além de o fato de que toda a mídia já decorou minha agenda — minha antiga agenda — e não pouparia esforços para acampar dia e noite a afim de nos perturbar com muitas perguntas.

E acima de tudo, possui Natasha. A Natasha, que fraturou o meu tornozelo e mesmo assim irá competir nas Nacionais na semana que vem.

Essa mesma Natasha que pretendo buscar pelos cabelos. Como qualquer competidor, ela possui duas opções: ganhar ou perder. E no caso, irei excluir quaisquer alternativas que ela tenha.

— Um, dois... Covington! — Eve gritou após apitar. — Essa postura será sua morte se não alinhá-la.

— Postura é o que eu mais tenho! — Rebateu, jogando os cabelos para trás.

De. No. Vo. — Eve sibilou lentamente com as mãos nos quadris.

— Eu me lembro de estar no lugar dele. Espero que alguém tenha piedade de sua alma. — Elijah comentou ao meu lado.

— Ela está mais bruta agora ou é impressão minha? — Ponderei, encostando-me na arquibancada.

— Com certeza. Mas não é como se o bonitão estivesse facilitando... Ele é a única pessoa que tem coragem de refutar tudo o que diz. Precisa ajustar esse temperamento.

— Exatamente! Mas ele está melhorando.

— O salchow e o toe loop que fez hoje foram ótimos. Se ele estivesse aprendendo tudo do zero de fato, seria muito pior.

— Mas acha que ele está bom o bastante para ser aprovado?

Alec terá que apresentar-se para a banca interna da Confederação Americana de Desportos no Gelo amanhã de manhã. É algo particular e sem um tema específico, mas há muita tensão para que seja aprovado. Alec tem muito dinheiro e contatos, ele conhece a maior parte das pessoas que trabalham internamente e são associados da CADG. Isso dá a ele a chance de não ser descartado de primeira para poder competir comigo nas Nacionais. São favores e pequenos empurrões que se não tivesse influência, não conseguiria alcançar.

Shattered IceOnde histórias criam vida. Descubra agora