XXXVIII

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Alec não me deixou.
Eu não deixei Alec.
Eu nunca recebi sua carta.
Mas ele recebeu a minha.

Eu tinha certeza de que havia sido manipulada, mas não esperava que fosse por uma terceira pessoa. Eu jurei que Alec colocou suas ambições na frente, que me deixou como segundo plano e que arruinou toda a minha vida profissional que poderia ter tido em Toronto.

Que quebrou o meu coração.

E ele foi embora, mas por minha causa. Ele foi embora por conta de minha carta. Uma carta que eu nunca escrevi para começo de conversa. Quando cheguei da formatura e vi minha mãe fumando na varanda tão tarde, quando meu celular magicamente sumiu depois que tirei o vestido surrado do baile... Foi ela.

Ela escreveu a carta, pegou o meu celular até que eu adormecesse e esquecesse dele para começo de conversa e destruiu os meus planos. É engraçado como eu nem consigo me sentir triste e com raiva a respeito do um ano que passaria patinando com Alec, da vida e das pessoas que conheceria morando em Toronto.

Porque eu gosto da minha vida. Eu posso não ter sido tão recíproca com Elijah quando começamos a patinar mas ele se tornou uma das pessoas mais importantes em minha vida, e aquele rinque também me presenteou com Charlie.

E então o New York Flame presenteou Alec com Max, Rafael e Isaac. E Max e Charlie se apaixonaram, Rafael se tornou meu amigo, Isaac pôde reencontrar Aisha por nossa causa e Elijah se apaixonou por Jacob, que nem teria aplicado sua inscrição para a NYU para começo de conversa se o irmão não morasse em Nova York.

Minha relação e a de Alec foi interrompida pela crueldade do tempo e das pessoas, mas nossos estilhaços resultaram em bens maiores. Nós ganhamos amigos próximos que não imaginávamos ter antes e eles ganharam seus propósitos de vida. Mas no meio disso tudo, eu e Alec nunca estivemos condicionados a encontrarmos nosso caminho de volta para o outro.

Nós tentamos, mas quando tocávamos nesse assunto, era como se o mundo explodisse. Podíamos sentir que queríamos ficar perto um do outro, e chegamos perto de fingir que não havia um grande passado de cinco anos acumulados para ficarmos juntos. Mas nunca deu certo, e nem daria.

Se não fosse pela minha avó.

Ela me deu o maior presente que poderia ter recebido: a verdade. Ela teve uma das melhores histórias de amor e queria ter a possibilidade de me dar a minha.

E reli a carta de Alec. Muitas vezes. Eu não conseguia largá-la porque ele disse todas as coisas que jamais imaginei que pudesse dizer. E ele disse mesmo depois de ler o que eu supostamente havia escrito. Ele morava em Nova York há um ano e eu estava presa em Barrie sem conhecer Andrew ainda. Ele não tinha nenhuma obrigação de me mandar aquela carta se eu fui a vilã da história, mas ele mandou.

Ele mandou a carta de sua vida e eu só pude lê-la três anos depois.

E ele me amou a vida toda. Eu não posso dizer que estive apaixonada por ele na adolescência, porque não foi o caso. E na verdade, não sabia que ele sentia isso até a formatura. Apesar de não ter me apaixonado, eu tinha um ciúmes frequente, mas achava que era algo na amizade. Também nunca namorei sério, apesar de ter tido algumas quedas por alguns meninos mais velhos. Ele tem razão, recusei muitos convites para sair, e usei a desculpa que não era a pessoa que queria para mim. Estou pensando se isso era ser seletiva ou talvez eu sentisse o oposto.

Shattered IceOnde histórias criam vida. Descubra agora