18 - Peter

3.6K 381 437
                                    

Havia passado meio ano desde então. Law tornou rotina sair pelo menos uma vez por semana, já que eu precisava urgentemente de apanhar sol e estar entre outras pessoas, motivo pelo qual esqueci a tinta temporária de cabelo e comprei uma peruca. Num voto de confiança, a certo ponto arriscou me deixar sair sozinho por uns minutos, seguindo-me (desconfio eu) pelo localizador do chip e desde ai, era comum deixar dinheiro em cima do balcão e me mandar com uma lista de compras ao mercado nas lojas em baixo do apartamento.

Com essas mesmas saídas, fui retomando um pouco da rotina de uma vida normal e claro, tinha acesso facilitado aos doces! Esse era - segundo ele - o objetivo. Não que me empanturrasse, mas que me reintegrasse lentamente na sociedade mais uma vez, que fosse comunicando um pouco mais com as pessoas á minha volta, mesmo que isso se limitasse a cumprimenta-las enquanto trabalhavam na caixa da mercearia. No fundo, que me adaptasse um pouco mais a ser independente sem sair - obviamente - do control dele por enquanto. Podia falar á vontade e ir onde quisesse, sem expor quem era e sem me afastar muito para não me perder.

Foi numa dessas idas sozinho ao mercado que ouvi miar num beco atrás de um restaurante e com isso, interrompi o percurso. Fiquei com receio de lá entrar em simultâneo que queria tentar entender de onde vinha o barulho, então, só fiquei especado a olhar em busca de algum sinal que me fosse dado pelo seu produtor. Alguma coisa que me dissesse que havia algo ali. Nisso, estava tão distraído que dei um pulo ao sentir uma mão desconhecida sobre o meu ombro e me assustei ainda mais ao olhar para trás. Vi um homem alto, com olhos dourados diferentes de Law e um bigode um tanto peculiar.

Primeiro, racicionei que aquela aparência não me era estranha. Depois, quase cai para trás ao perceber quem era. Eu conhecia ele... Mihawk... Porra, o que o professor de esgrima do Zoro estava fazendo ali, naquela cidade?

- Tudo bem, garoto? - Me acalmei. Não tinha como ele me reconhecer. A maquilhagem estava perfeita e eu havia mudado tudo em mim, até adotara uma postura mais tímida em público para me diferenciar do meu antigo "eu" extrovertido que era muito bem capaz de falar toda a sua vida com um estranho em pleno meio da rua sem motivo algum. A prepósito, esse era um péssimo hábito que felizmente, perdi ao começar a desconfiar de tudo e de quase todos os que me rodeavam, como se algum deles fosse me raptar de novo. Improvável, não impossível.

Enfim, apenas apontei para o beco.

- Está a miar... - Ele olhou para mim como se me analisasse, depois para a rua estreita e suja sem saída, onde entrou. Junto aos caixotes do lixo, abaixou-se para analisar alguma coisa e me encarou de volta.

- Tem um gato aqui. É bebê ainda, está bem magro. Deve ser abandono. - Fiquei com pena, admito. Olhei em volta para ter a certeza de que não tinha nada semelhante a carrinhas sinistras por perto e me aproximei, de vagar, constatando que era verdade. Tentei colocar a mão, recebendo um bufar e uma tentativa de arranhado como resposta da parte da pequena bola de pêlo negra com olhos verdes reluzentes. Torci o nariz.

- Vá lá, pequeno... - Ele continuou a fazer alguns barulhinhos esquisitos. Peguei pelo cachaço como me lembrava de já ter visto outras pessoas fazer, encostei-o ao meu peito e fiz um carinho na sua cabeça. Ele, que até então estava desconfiado, começou aos poucos a ronronar e a sossegar. Parecia ter encontrado em mim um ponto seguro. Sorri com isso.

- Gostou de você. O que vai fazer com ele, garoto?

- Não sei - comentei baixinho - será que ele se importava se eu o levasse para casa?

- Não sei quem é "ele", mas eu posso sempre levá-lo ao canil, se quiser.

Canil. Uma cela fria e solitária ou arriscar levá-lo para uma casa confortável? Eu tive essa experiência e sabia que era horrível. Também sabia que o "não" do Law era quase certo, mas... Arrisquei...

Meu carcereiroOnde histórias criam vida. Descubra agora