8 - Carta

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Não sabia como reagir. Não sabia se ficava triste, chateado, feliz ou com raiva. Enquanto via aquelas reportagens uma após a outra, o meu coração apertava cada vez que um dos meus irmãos olhava para as câmaras como se através da TV, os nossos olhares realmente se cruzassem. Como se eu pudesse sentir a dor quase palpável que guardavam enquanto que eles me desvendavam daquele jeito que sempre faziam quando eu estava mal. Eu sentia a falta disso... A falta deles...

Ao meu lado, Law não falava nada. Só ficava atento às minhas reações, estranhando quando desliguei a TV da sala e dei apenas um suspiro pesado diante do que me mostrava.

- Luffy?

- Tudo bem, já tinha dito que não ia fazer disparates. Vou me controlar, prometo. Obrigado por me mostrar isso.

Peguei na folha na minha frente. A verdade era que apesar de tudo, apesar de numa primeira fase não saber o que exatamente sentia em relação à busca incansável deles, em relação a Law, não tinha dúvidas. Eu não estava bravo por ele me ter escondido aquilo nem por não ter dito nada antes, pelo contrario, estava grato por poder ter a oportunidade de contactar com os meus irmãos de algum jeito e amenizar o que sentiam, mesmo que por meio de uma simples carta. Podia até ser um pensamento demasiado passivo da minha parte, mas guardar rancor não me ajudaria em nada, não mudaria nada, não faria eu ter visto aquilo mais cedo. Eu preferia o melhor caminho, aquele que não tivesse brigas nem discussões desnecessárias. Eu sabia que realmente tinha sorte nesse aspeto. Sorte em ter sido Law a trazer-me e considerar-me um humano normal. Tinha, acima de tudo, sorte em estar vivo... Porquê ficar bravo por ele me dar uma oportunidade de voltar para eles? Não era a sua obrigação, então estava feliz apenas por poder ter essa chance.

Isso não era um pensamento só de agora. Eu podia até ficar frustrado ás vezes por ter de passar lá tanto tempo, mas logo passava ao lembrar disso. Querendo ou não eu lhe devia muito, não tinha como reclamar daquela vida.

- Menos mal - ouvi-o murmurar. Enfim, não evitei sorrir. Apesar de tudo, das saudades, estava feliz em ver eles bem, dentro dos possíveis. Feliz em saber que ainda se preocupavam comigo, que me procuravam... Queria tanto pedir-lhes desculpa, falar com eles, que o meu coração parecia pular pela boca de ansiedade só de pensar nisso. - Luffy - chamou Law - se for realmente enviar isso, tem outra condição. Tem algo que quero que escreva aí.

- Você? - Estranhei. - O que você quer com Ace e Sabo?

- Com eles em especifico, nada, mas se isso parar nas mãos erradas eu posso ficar em sarilhos então, em primeiro lugar, precisa dizer que leiam isso sozinhos, longe de todos. Depois, que tem gente que não pode saber disso, de jeito nenhum. Eu lhe dou os nomes, você escreve.

- Isso é importante? - Ele acenou positivo. Olhei com certa interrogação. Tá certo, ele me tratava de jeito diferente dos outros, mas porque isso traria problemas? O que ele fazia depois de me comprar não era da conta deles, certo?

- Sem isso, nada feito. Além de que, não seria só eu a ficar em perigo, eles também. Cabe a você decidir, Luffy-ya.

- É tão grave assim? Eu sei que você só usa o "ya" quando está nervoso.

- Nossa, já desvendou a minha personalidade a esse ponto? - Sorriu como se fosse uma brincadeira. Encolhi ombros e enfim, apenas cedi. Uma coisa eu sabia, se pudesse trazer problemas para Ace e Sabo, eu não arriscaria. Anotei o que ele queria e conciliei com o restante da carta. Estava confuso, sim, eu mesmo não sabia exatamente o que estava a escrever, mas dava para entender que não era uma brincadeira. Me perguntava com que tipo de pessoas estava-mos lidando afinal...

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