5 - Regras

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Já acordei a querer não acordar. Meu corpo ardia, literalmente, de dentro para fora. Quando olhei o meu peito vi o motivo... Um "X"enorme na minha pele que agora, fumegava e cheirava a queimado. Gritei em agonia, ao que o homem de antes se apercebeu que eu acordara pelo choque do que acabara de me fazer.

- Pouco barulho, pirralho! - Mas eu não conseguia ficar quieto. Enquanto ele arrefecida o ferro em água, a minha respiração doía, meu peito ardia, não parava de chorar. - Inconsciente fica melhor. Quer gritar? Vou lhe dar um motivo para isso...

Comecei a entrar ainda mais em pânico quando ele se reaproximou, desta vez com um bastão na mão. "Porquê, porquê, porquê..." - Pensava eu. - "Porquê isto, porquê comigo, porquê agora, o que eu fiz de errado? Porque isto está acontecendo?" Mas quanto mais pensava, mais magoava. Realmente doía...

Doeu ser queimado com ferro quente e ser jogado numa prisão só com um pedaço de farrapo a cobrir o estrago na zona, doeu ter sido espancado com uma barra de metal, doeu passar tanto tempo sozinho numa cela húmida e fria com apenas água da chuva com ferrugem para beber e pão bolorento para comer.

Doeu a humilhação, a ferida que não infetou por um milagre e tentava cicatrizar como dava me impedindo de mover e sobre tudo, doeu na minha consciência. Porque o medo do que ia acontecer comigo aumentava junto com o medo da morte, porque ia morrer sabendo que a última vez que vi Ace, Sabo e os meus amigos foi numa briga com eles. Doeu saber que nunca os veria de novo e doeu saber que a culpa era minha, por ter desviado naquela porcaria de estrada.

Sabo... Ace... Pessoal...

"Me desculpem... Por favor.... Me ajudem... Alguém..." - Murmurei, como se fosse realmente acontecer.

Perdi a noção da realidade. Sabia que era noite e dia pelo movimento de pessoas, mas os momentos de inconsciência não me permitiam contá-los. Assim, passou a primeira semana. Sete dias quieto para tentar que a ferida cicatrizasse minimamente, o que começou a acontecer de forma bem lenta e gradual. Vez ou outra, sentia alguém olhar por entre as grades como se verificasse se eu estava a respirar, mas... Não sei dizer se isso era realidade ou coisa da minha cabeça, já que quase não me mexia...

O retorno da violência foi marcado quando senti um pontapé nas minhas costas, mas o gemido de dor saiu mais baixo e rouco do que o esperado. Nem notei quando virei no chão, só sei que o meu olhar vazio e a dor não me deixavam levantar, mesmo que quisesse. Talvez quisessem testar se eu estava vivo?

- Você exagerou, quer matar o pirralho, Teach? - Não conheci o dono da voz que se pronunciou. Lembro-me apenas de que não tinha a mínima emoção ou sensibilidade e de decorar esse nome. Teach... Era esse o nome do cara que fez aquilo comigo?

- Fique quieto, ele estava a dormir, só fiz uma experiência. Já vi que não deu certo. Certo, vou esquecer de marcar os nossos a ferro para os diferenciar. Que chatice!

- Você pode marcar, mas não nesta gravidade. Escolha uma cocha ou um braço! E me chame para avaliar o processo!

- Não precisa de tanto, precisa?

- Precisa, sim. Se não acabam neste estado. Tem de ser gentil. - Comentou um terceiro individuo em tom de gozo.

- Para quê? Saem daqui para pior!

Ouvi alguém rir enquanto um dos homens verificava a minha pulsação. Colocou um cateter no meu braço um pouco á bruta e pendurou uma bolsa com algum líquido na parede que passou a ser injetado diretamente na minha veia. Abri um dos olhos com muita dificuldade, tentando entender o que se passava, mas logo desisti e voltei a fechá-lo.

Meu carcereiroOnde histórias criam vida. Descubra agora