10 - Caderno

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- Aqui. Isto é para você.

Olhei para a mão de Law, que me estendia um caderno. Peguei nele com certa curiosidade e olhei o interior. Estava em branco, um simples caderno de linhas com capa preta endurecida e uma caneta no mesmo material.

- Para quê?

- Para escrever o que houve com você. Desde aquele dia em que foi levado, mais cedo se quiser, até eu o trazer para aqui. Quero que escreva tudo aquilo de que se lembra, como se fosse um diário.

- Ah? Não vou escrever nada, alguém pode ler e eu não quero que ninguém saiba disso! Quero esquecer essa parte da minha vida!

- Esquecer não apaga nada. Além disso as únicas pessoas com acesso á casa somos nós e isso é para você, ninguém mais vai ver, nem mesmo eu. Por isso quero que o faça, quero que escreva. Desabafe com esse caderno sobre tudo o que lhe passar pela cabeça, sobre o que aconteceu com você, deite tudo o que quiser cá para fora. No final, mostrar a mim ou a alguém, guardar ou apagar, será a sua escolha.

- Apagar? Se eu posso apagar, para quê escrever? Seria um desperdício de papel.

- Não, não seria. Você precisa desabafar. Eu sei que tem pesadelos, você falou ontem enquanto dormia. Pode deixá-lo onde quiser, desde que seja no seu quarto, estando aberto ou fechado, escondido ou á vista, eu não vou olhar. Se um dia achar que está á vontade para me mostrar ou quiser que eu leia, deixe na prateleira da sala. Aí, eu pego. Se quiser levá-lo com você quando voltar a casa e mostrar para os seus irmãos, tudo bem. É você quem decide.

- Nem pensar. Eu não posso falar daquilo para Ace e Sabo, mataria eles do coração - resmunguei - e... Mesmo que eu queira escrever, eu realmente... Não sei por onde começar. Foram muitas coisas a virar a minha vida do avesso de uma só vez.

- Então organize as suas memórias, comece pelo princípio. Tenho a certeza que consegue.

Olhei para a capa do caderno por algum longo tempo antes de o aceitar num bufar de desistência. Não era um bicho de sete cabeças, se eu quisesse era só deixa-lo pousado no canto sem lhe mexer. Essa parecia uma boa opção, apenas enterrar o assunto e fingir que nada aconteceu. Ainda assim... Acabei por dar razão a Law, talvez não fosse uma ideia ruim. Será que me ajudaria a deixar de ter pesadelos?

Virei costas e fui para o quarto com intenção de começar a escrever. Sentado na secretaria, fiquei a encarar a primeira página por um longo tempo como se ela fosse realmente me dar respostas. Organizar as minhas memórias... Como eu ia fazer isso?

- A prepósito, Luffy! É... Você e os seus irmãos realmente faziam algo que envolvesse o Pai Natal? - Questionou Law, da porta, enquanto coçava a cabeça constrangido como se não soubesse ao certo o que dizer. Porquê aquela pergunta? Não era óbvio?

- Claro que sim! Eu sempre escrevia uma carta e Sabo entregava para ele com as coisas que eu queria, mas que não pedia aos meus irmãos porque sei que eles já têm muita despesa comigo com comida. Uma vez até pedi ao meu irmão para me deixar entregá-la com ele! Mas... Ele disse que não e nunca cheguei a conhecê-lo. - Fiz cara de amuado. Ele riu, o que de novo, me deixou confuso. - Qual a piada?

- Certo, Luffy... Como eu posso explicar isso para você... - Law me olhou como se escolhesse as palavras. Parecia em dúvida sobre se dizia algo ou não. Por fim, desembuchou... - Esse vai ser o seu último ano com o Pai Natal a trazer prendas para você.

- O quê? Porquê? Eu porto-me bem!

- Sim, mas... É que... O Pai Natal só traz prendas as crianças. Você agora tem 17, mas para o ano terá 18 anos, ou seja, será considerado um adulto.

Meu carcereiroOnde histórias criam vida. Descubra agora