20 - Salas

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"Desabafe com esse caderno sobre tudo o que lhe passar pela cabeça, sobre o que aconteceu com você, deite tudo o que quiser cá para fora. No final, mostrar a mim ou a alguém, guardar ou apagar, será a sua escolha... Se um dia achar que está á vontade para me mostrar ou quiser que eu leia, deixe na prateleira da sala. Aí, eu pego. "

Ainda me lembrava de quando Law me dissera aquilo e era incrível como as coisas mudavam. Desse dia em diante, eu havia criado estes diários e agora, podia dizer que depois de tanto tempo a guarda-los apenas para mim, me sentia pronto para partilhar o que escrevera. Pensei imenso antes de tomar essa decisão e finalmente, ganhei coragem de colocar os cadernos na prateleira da sala, tanto o original como a segunda versão que deixaria Law a par da mentira que inventara para o defender caso algo desse errado. Assim que os visse ali, caberia a ele ler ou não.

Um ano... Antes que desse conta, fazia um ano que não pisava em casa. "O tempo voa" - pensei para comigo ao dar uma última olhada para verificar que estavam ambos onde os deixei.

- Luffy, vacina!

- Vou já.

Aproximei-me da mesa e estiquei o braço, esperando que ele injetasse a dose daquela semana. Chumbo branco, foi isso que descobri que ele me infetou, algo que não era propriamente uma doença apesar de ser chamado assim, mas sim a reação do corpo a um determinado tipo de veneno. Este, espalhava-se lentamente pelas células, contaminando-as e causando dores fortes até à morte do seu portador. O seu tratamento, o mesmo que Law estava a testar em mim, passava por atrasar esse processo ao ponto de impedir o seu avanço e "congelar" no tempo os seus efeitos. Lentamente, o corpo ia se adaptando até que os anticorpos criados para o combater fossem suficientemente fortes para destruir o que existisse de mal no organismo. Uma vez eliminado na totalidade, eu estava livre.

O que tornara esta doença fatal, eram os efeitos do veneno que geralmente causavam mais estrago do que o corpo consegue suportar e os anticorpos criados numa primeira fase não eram fortes o suficiente para o contrariar. Conseguir tempo o suficiente para o corpo se fortalecer e eliminar, muito lentamente, esse mesmo veneno até não restar nada que pudesse fazer despertar esse seu efeito de destruição, era a única cura que até agora já fora possível criar e Law, era o seu autor. Por isso que se parasse, eu morria. Sem a ajuda daquilo, os efeitos voltariam a consumir-me com tudo e o corpo não suportaria.

Segundo ele, atualmente eu estava a reagir muito bem e esses mesmos anticorpos estavam a ser criados e fortalecidos no tempo previsto. Em alguns meses deviam ser capazes de limpar tudo, até lá era só continuar a atrasar os seus efeitos como estávamos fazendo e assim, eu deveria ficar bem. Felizmente, com o tratamento, a minha pele não ganhava as manchas características da doença ou pelo menos, não ficavam nítidas o suficiente para que alguém na rua percebesse que eu as tinha, o que evitava perguntas desconfortáveis.

Como sempre, Peter curioso subiu no balcão e ficou a observar enquanto o líquido era empurrado lentamente para a minha veia. Não que doesse, estava adaptado. Me sentei no sofá durante meia hora para atentar se sentia mais alguma coisa para além de sono. A resposta foi não por isso levantei, fui para a cama e adormeci até meio da tarde. Law tirara folga fixa á segunda para monitorar minhas reações ao tratamento e não trabalhava a menos que fosse chamado a uma emergência - o que raramente acontecia - no laboratório ou na ala cirúrgica do hospital onde aparentemente fazia algumas horas extra. Por isso, quando despertei, não achei estranho ele estar a observar-me da porta.

- Acordou? - Resmunguei e mantive os olhos fechados. A dor de cabeça depois da toma do medicamento era forte o suficiente para me incentivar a dormir até ao dia seguinte, com pausa apenas para comer algo contra vontade no meio da tarde que Law me trazia para não ficar com o estômago completamente vazio. Desta vez, deu-me uma laranja que encarei por um tempo. De algum jeito, notei que era de uma espécie muito específica... - O que foi? - Questionou.

Meu carcereiroOnde histórias criam vida. Descubra agora