32 - Mudança de planos

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- E… Já está! Última dose.

O fim de um tratamento para uma doença que supostamente me mataria em pouco tempo poderia ter sido o melhor momento da minha vida, se não fosse pelo seu significado. Não me refiro às dores de cabeça bem mais brandas naquele dia, mas sim á aproximação da queda do submundo. Isso me assustava… Queria fazê-lo, terminar com a existência deles mas ao mesmo tempo, temia as consequências disso não por mim, mas por todo mundo que estava envolvido.

Law parecia sentir o mesmo mas aparentemente, comparado comigo, encontrava-se bem mais calmo. Ele sabia controlar as emoções bem melhor do que eu. Já Peter, parecia compreender-nos aos dois ou pelo menos, notar o aumento do nosso stress.

- O tempo voa – murmurei. O Torao deu um suspiro pesado em concordância. – Acabaram as seringas?

- Ainda não pequeno, precisa de desviciar nisso primeiro, reduzir a dose desse medicamento progressivamente até que ele desapareça do seu corpo e dar-lhe tempo para se adaptar, se não tudo vai por água abaixo. Vou lhe dar uma dose reduzida dia sim dia não, até completar duas semanas. Depois disso, se não sentir nada que indique abstinência, ai sim, acabou.

- Vou ficar de cama dia sim dia não?

- Nem tanto, vai só se sentir meio tonto por umas duas horas e depois passa.

- Hum... Ei, Torao… Tem algo que eu sempre lhe quis perguntar.

- O quê?

- Porque você escolheu justo essa doença para descobrir a cura? Tem outras bem piores, não? - Ele me olhou como se me avaliasse e chegou bem perto. Fiquei me perguntando o motivo que veio logo em seguida como uma explicação.

- Minha irmã.

- Irmã?

- Eu tinha uma irmã mais nova quando criança. A Lammy. Ela morreu com essa doença.

- Desculpe, eu não queria-

- Tudo bem. Tenho de começar a falar mais de mim a você, estamos juntos, é normal se sentir curioso a respeito disso… - Notei uma certa tristeza no seu tom de voz. Uma que eu não sabia se queria compreender…

- Quando você quiser realmente falar, eu oiço.

- Combinado – sorriu – então, me deixe pensar um pouco sobre o que posso contar a você.

- Quer falar disso agora?

- Não. Agora você vai deitar e dormir antes de ficar tonto. Quando acabar o tratamento, a gente fala sobre esse assunto. Fica prometido.

- Não tenho muita escolha, tenho? Deita comigo?

Ele cedeu, como sempre acontecia quando eu lhe fazia olhinhos e ficou junto a mim. Como combinado, dali a duas semanas o tatuado me contou a sua história.

Law nasceu na França, filho de emigrantes que voltaram ao seu país de origem assim que ele completou um ano. Cresceu no sul do país até á morte da sua irmã mais nova, o que levou á queda da família.

- Minha mãe perdeu o rumo, já para não falar de que as pessoas são maldosas em relação a esse assunto então foi ainda mais complicado ela se recompor. Meu pai nos sustentou sozinho por um longo tempo. E quando finalmente começaram a seguir em frente… Acabaram sofrendo um acidente.

- Provocado pelo submundo.

- Encenação de suicídio, só eu sei que não foi assim. Acho que estavam precisando de crianças para o tráfico naquela época e o cenário em que eu vivia encaixou na perfeição para isso... No fim, acabei perdendo os dois, mas mesmo no submundo tive sorte.

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