19 - Versões

3.6K 370 197
                                    

Assim, chegamos ao dia de hoje. Fazia um mês que Peter estava connosco, ele era uma gracinha e cresceu imenso. O lado ruim era ter de lhe limpar a caixa de areia, mas era um mal necessário.

Law continuava inseguro com o animal, mas não tanto quanto antes. Aparentemente tinha receio que isso viesse a afetar o meu sistema imunitário, já que eu nunca tivera animais e era algo novo inserido 24 horas por dia no ambiente em que vivia. Após verificar que estava tudo bem, acabou deixando para lá. Se adaptou ao Peter e até estranhava se não o tivesse a dormir na sua cabeça ou aos seus pés durante a noite.

Entre as idas ao mercado, ao parque ou a qualquer outro local que precisasse, acabei sendo um pouco descuidado e a dona do prédio que notara ser hábito eu entrar e sair dali, um dia finalmente me abordou e perguntou qual era exatamente a minha relação com Law. Apanhado de surpresa, e sem contar com tal pergunta repentina, sendo a primeira vez que eu estava frente a frente com ela, corei e desviei o olhar envergonhado sem saber exatamente como reagir.

- Não sei bem - respondi, por mais que o meu olhar denunciasse que estava totalmente perdido á conta dele. Ela deu um sorriso pelo meu constrangimento, percebeu os meus sentimentos e mudou de assunto para não me deixar pior. Enfim, finalmente fez o que devia ter feito no começo e se apresentou. Shakky, era o seu nome. Não parecia do tipo preconceituosa e não me julgou por gostar de um homem. Afinal, já tinha visto como Law me olhava e chegara á conclusão que era mútuo por mais que ainda lhe fizesse confusão eu ser tão alegre e ele tão rezinga. "Simplesmente aconteceu" - comentei antes de acenar e voltar para casa com os sacos de compras na mão.

Nessa mesma noite, falei com Law sobre aquela estranha abordagem e acabamos por assumir esse mesmo papel de casal para evitar justificações. Então, era isso... Não bastava gostarmos um do outro e ficarmos juntos, ainda éramos um casal na visão de quem nos conhecia de vista por aqueles lados. Bom, pelo menos isso facilitava o não ter de esconder os gemidos durante a noite.

- Está analisando esses documentos de novo? - Perguntei ao ve-lo com aqueles papeis na mão outra vez.

- O que resta deles, sim.

- Vai finalmente dar-lhes uso?

- Você realmente quer fazer isso? Sabe onde se vai meter?

- Na boca do lobo. Mas não responde á minha pergunta. Vai dar-lhes uso, ou não?

- Para sua felicidade e minha dor de cabeça, eu simplesmente não sou capaz de jogar fora tudo o que o Cora-san arriscou a vida para conseguir. Então, sim. Parabéns, você ganhou. Vamos derrubar o submundo ou morrer a tentar.

Dei um sorriso. Desde á uns dias para cá, Law analisava os relatórios que encontrara na garagem, dentro de uma caixa que encostou num canto no dia em que fizemos aquela grande limpeza. E bom... O que continha ao seu interior, era tudo o que Corazon tinha descoberto sobre o submundo, algo que nenhum de nós conseguiu ignorar. Law tinha a vida do pai nas mãos e eu, uma oportunidade única para acabar com o comercio de escravos, o mesmo que me fez as duas maiores cicatrizes que já havia carregado: um "X" no corpo e as memórias que por vezes, pareciam fazer falhar as batidas do meu coração.

"Se você não quiser fazer nada com isso, deia para mim. Eu quero pelo menos tentar acabar com eles." - Foi o que eu disse na altura, recebendo um não imediato como resposta. Law não queria me pôr em risco, disse que nunca se perdoaria se mais alguém morresse por aquilo como aconteceu com o Cora-san.

Não falei mais nada a respeito desse assunto, pedi desculpa por falar o que falei quando vi o medo e a tristeza que ele tentou esconder, ainda assim, o meu olhar vazio nesse momento o atingiu. Tentei me recompor, mas Law não esqueceu e pareceu ter gravado a minha expressão de desânimo e talvez até frustração, por ter uma chance única de fazer algo que não poderia realizar por causa da teimosia dele. Eu lhe disse que pensasse pelo menos em dar uso aquilo, mesmo que tivesse de deixar a outra pessoa. Algo que ele não faria... Não confiaria a vida do pai a qualquer um...

Meu carcereiroOnde histórias criam vida. Descubra agora