Capítulo 20

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— Tudo bem, ok? O senhor vai ficar bem

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— Tudo bem, ok? O senhor vai ficar bem. Aguente firme! — Foram minhas últimas palavras antes de soltar a mão de um Sr. Finlay desacordado e deixar que os médicos o levassem para a sala de exames.

Passei a mão pelo rosto, preocupado. Só podia esperar que ele ficasse bem. Sentei-me em uma das cadeiras da sala de espera e pus os braços nos joelhos. Foi muito rápido. Apenas fechei a porta da frente da minha casa para me encontrar com Kate e acenei para o Sr. Finlay.

Ele não parecia bem, mas retribuiu o cumprimento mais lento que o normal. Cheguei mais perto para me certificar de que não tinha nada de errado, mas quando perguntei sobre o que estava acontecendo, ele não falou. Comecei a me preocupar e fui chegando mais perto. Sr. Finlay não reagia. Meu coração acelerou. Até que chegou um ponto em que ele desmaiou em sua cadeira de balanço.

Chame-o diversas vezes, mas nada acontecia. Peguei o telefone e liguei para a emergência. Só deu tempo de falar o endereço e qual era o caso, antes do meu celular descarregar.

Vim com ele na ambulância, segurando sua mão, como se aquilo fosse mantê-lo comigo. Sem comunicação, eu só podia esperar que Kate entendesse quando eu lhe explicasse amanhã.

Agora, eu só podia pensar que meu amigo, de tantos anos, está em uma dessas salas de hospital com o risco de não sobreviver. Não. Eu não posso pensar nisso. Ele é velho, eu sei, mas é um velho forte, teimoso. Não pode simplesmente partir assim. Não pode.

Pela primeira vez na vida, eu estava sentindo o pavor que era ver alguém que você ama indo embora para sempre. Ou ao menos, a enorme possibilidade disso. Não tive esse sentimento com a minha mãe. Ela estava comigo em um momento e no outro... Se foi. Não tive tempo de pensar direto, de ficar angustiado com a possibilidade de sua partida. Estou sentindo isso agora e quero que pare.

De repente, penso em sua família. Sr. Finlay não tinha uma. Ele havia falado sobre uma mulher e seu filho, mas nada de localização ou nomes. Tudo tão vago. Meu vizinho vivia num mundo de solidão e dor. Talvez sua única saída não fosse sair daquela sala, ou deste hospital. Talvez eu estivesse sendo egoísta querendo que ele ficasse, sendo que a paz que ele merece, não está aqui.

Comecei a chorar naquela sala de espera, com outras duas pessoas sérias. Não havia motivo para sorrir, ou para querer isso. Minhas lágrimas nada mais eram do que tristeza. Não por mim, mas pelo Sr. Finlay. Se ele partir agora, não terá ninguém para chorar sua morte. Ninguém além de mim. Nenhuma pessoa merece isso. Mesmo depois de todos os erros que cometeu, ele está arrependido e não merece morrer sozinho.

— Por favor! Por favor! Eu preciso saber como uma pessoa está. Ele entrou aqui há pouco... — Eu conhecia aquela voz.

— Fluflu? — tirei a mão do rosto e olhei para a mulher desesperada que estava na recepção.

— Por favor, eu preciso saber como ele está. — Flora estava diferente. Seu semblante repleto de apreensão e seu visual sem nada rosa, me deixaram ao mesmo tempo preocupado e confuso. Quem ela estava procurando

— Calma, senhora. Preciso que me diga qual o nome do paciente para que eu possa lhe dar mais informações.

— Eu... Ele... E-eu... — Ela estava tão nervosa que fiquei com medo que desmaiasse ali mesmo.

— Ei, Fluflu!

— B-Ben?

— Se acalme. Ei. Calma. Vamos sentar ali. — passo meu braço sobre seu ombro e a acompanho até uma das cadeiras da sala. — Você quer um copo de água? — me abaixo num joelho para ficar do mesmo tamanho que ela.

Sua respiração era curta e rápida. Ela balança a cabeça em sinal de afirmação.

— Volto logo, está bem? — beijo sua testa e me levanto para buscar água. Olho para os lados até ver um bebedouro no fim do corredor.

Pego um copo descartável no dispensera e encho-o de água. Ainda estou tentando entender o que diabos aconteceu ali. Volto para onde deixei Fluflu e a encontrei chorando. Aquela imagem fez meu coração doer ainda mais. Ela estava sofrendo e não era pouco.

— Ei! Eu estou aqui. Shhh. Shhh. — deixo o copo no chão e a abraço firme. — Estou aqui com você. — ela começou a soluçar. Nunca a vi naquele estado.

— Eu devia ter voltado. Fui uma idiota egoísta. Eu devia tê-lo dito que o amava mais que tudo. — Se meu coração não estivesse quebrado, ali seria o momento em que ele quebraria.

— Ele está aqui? — acariciei suas costas. Senti apenas o balançar de sua cabeça. Brevemente me separei do abraço e peguei o copo de água. — Aqui. Beba devagar. — assisti enquanto Flora esvaziava o copo.

— Eu fui tão burra!

— Não diga isso, Flulfu! Você é uma das pessoas mais sábias que eu conheço.

— Idade. — zomba. — Idade não define a sabedoria de ninguém. São apenas números que contam quanto tempo estamos aqui na Terra. As escolhas sim, definem a se você é sábio ou não. E eu escolhi errado.

— Não estou entendendo.

— A pessoa que procuro... Ela... Você a trouxe.

Levo um tempo para compreender o que ela queria dizer. E meus olhos se arregalaram quando percebi de quem se tratava.

— O nome dessa pessoa é Oliver.

Oliver Finlay.


Como se Fosse Verdade - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora