Capítulo 30

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— Ele está acordado

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— Ele está acordado. Ainda muito debilitado e suas funções sensitivas lentas, mas acordado.

A única coisa que eu consegui fazer foi olhar para o rosto o médico negro e segurar os ombros de Fluflu.

Ele estava acordado. Não ousei dizer a frase em voz alta. Talvez fosse um sonho.

— Nós podemos vê-lo? — Fluflu pergunta. Sua voz não era mais que um sussurro trêmulo.

Consigo ouvir meu coração bater em meus ouvidos. Ele estava acordado.

— A situação do Sr. Finlay ainda é muito crítica. — O Dr. Jordan nos olha sério. — Termos que continuar a fazer exames e observá-lo a todo instante. Ele está muito sensível agora e seu coração diretamente comprometido com a situação. O sr. Finlay não pode se esforçar demais ou ter reações extremas. Ele precisa de repouso 100%.

Uma visita de Fluflu enquanto ele está consciente poderia piorar muito a situação. A tensão nos ombros dela me disseram que ela sabia disso também. Massageio o local.

— No entanto, vocês podem fazer visitas curtas de 5 minutos, duas vezes por dia. Se a situação dele for melhorando, o tempo e frequência de visitas podem aumentar também.

— Ok. — expiro. — Você quer ir? — pergunto baixinho a mulher pequenina à minha frente.

Fluflu começa a tremer.

— E-eu… não sei.

— Deixarei vocês à vontade, mas precisam ter o máximo de cuidado lá dentro. Lembrem-se que o Sr. Finlay não pode se esforçar muito em qualquer situação. Uma enfermeira virá para checar os sinais vitais dele, que é quando vocês precisarão sair. — Os olhos do doutor pedem confirmação de que entendemos tudo o que ele disse.

— Certo. Obrigado, doutor. — agradeço com a garganta cheia de emoção.

— Não se preocupem. Ele tem grandes chances de melhorar sua condição. — Dr. Jordan acena com a cabeça e sai pelo corredor.

Fluflu continuava a tremer sob minhas mãos.

— Eu não posso entrar lá. — sua voz não passa de um sussurro.

Eu queria dizer que ela estava errada, que tudo isso não passava de uma bobagem e que ele ficaria melhor ao vê-la. Mas seriam mentiras.

— Você vai. — sussurra, virando-se para mim. Os olhos cansados e tristes, que acostumei a ver ultimamente.

— Fluflu…

— Tudo bem. — Me interrompe com uma mão levantada. — Eu ficarei bem. Vá. Não o deixe sozinho.

— Eu vou. — suspiro, assentindo.

— Estarei esperando na sala de estar. — Fluflu luta bravamente para se manter firme.

Sem esperar por uma resposta, ela sai batendo os saltinhos no chão e desaparece no corredor.

Olho para a porta à minha frente, onde o meu vizinho está deitado numa maca. Respiro fundo diversas vezes, procurando acalmar meu coração acelerado e evitar que eu me acabe em lágrimas. Se o Sr. Finlay me visse agora, com certeza iria me xingar e dizer para me recompor.

Dou um passo. Dois. Luto contra o tremor no corpo, fechando as mãos em punhos. Três passos. Ele está bem, está acordado. Quatro passos e estou em frente à porta. Levo a mão à maçaneta. Fecho os olhos e engulo em seco. Sem pensar mais, eu abro a porta e entro no quarto.

Por um tempo fiquei ali, piscando para o corpo do meu vizinho. Piscando para os olhos dele. Acordado.

— Você vinha para perto, antigamente, para que eu não precisasse me esforçar. — diz com uma voz mais rouca do que custumava a ouvir. Ainda assim, ele está falando.

Um soluço escapa. Não consigo evitar.

— E-eu… eu…

— Eu sei, garoto. Eu também. — Sr. Finlay deixa aparecer um fantasma de um sorriso.

Encaro seu rosto cansado, os olhos pesados e simplesmente não consigo mais. Com as mãos no rosto, eu choro.

Ele está acordado.

Soluços fazem meu corpo tremer até que caio de joelhos.

— Eu espero que essas lágrimas não sejam de tristeza, Benjamin. Não vou morrer tão cedo. — sua voz voz rouca e lenta, me repreende.

— Eu senti sua falta. — sussurro enquanto lágrimas silenciosas rolam pelo meu rosto.

Era um alívio, uma benção ver que ele estava acordado, falando comigo. Uma parte de mim achava que eu nunca mais falaria com ele de novo e, por mais que eu rezasse, não conseguia afastar a agonia de que a qualquer momento receberia a notícia de que o Sr. Finlay tinha partido.

Levanto-me do chão, tentando me recompor limpando o rosto, e me aproximo da cama.

— Como está se sentindo? — sento numa cadeira ao lado da cama e me inclino para pegar a mão flácida dele.

— Acho que você precisa mais desta pergunta do que eu. — brinca. Seus olhos estão tão pesados, a respiração tão irregular, mas ele está vivo. Está aqui e é real.

— Talvez nós dois precisamos dela. — consigo sorrir. Com a minha mãe livre, limpo meu rosto molhado pelas lágrimas.

Falhei em parecer forte para ele. Me quebrei no momento em que o vi olhando para mim.

—  Mas o senhor não pode se esforçar demais. Não fale muito. Apenas descanse. — Faço círculos em sua mão com o meu polegar.

Sr. Finlay bufa. Ou tenta.

— Eu não sou um inválido ainda.

Eu ri e mais algumas lágrimas caem. Ele está mesmo de volta.

— Claro que não. Mas precisa seguir as recomendações do médico se quiser sair logo daqui.

— Eu odeio os hospitais. — Seus olhos pareciam ficar mais pesados a cada instante.

— Sim, eu também. — com a mão livre, ajeito o seu cobertor. — Agora descanse.

— Cante para mim. — pede num sussurro com os olhos fechados.

Minha garganta se aperta e preciso engolir várias vezes até conseguir falar de novo.

— Claro. — Me concentro nas nossas mãos unidas enquanto canto um trecho de Dust in the wind baixinho.

"A mesma velha música.

Apenas uma gota d'água em um mar infinito.

Tudo o que fazemos

Cai em pedaços embora nós nos recusemos a enxergar.

Poeira ao vento.

Tudo o que somos é poeira no vento. "

Como se Fosse Verdade - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora