Capítulo 3

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Carregar 6.000 tijolos cobrou seu preço. Mal sinto meus braços quando levo o copo de água a boca. Até a água daqui é ruim.

Jogo o copo descartável no lixo e pego minha mochila do chão.

Era sábado e não tínhamos aula, então vim fazer trabalho extra, nas construções. Quase desisti quando vi o que tinha que fazer. Não que eu seja preguiçoso, apenas querendo algo melhor que levantar tijolos e ganhar pouco para isso.

— Até mais! — diz o meu supervisor, Adam.

Ele é jovem, porém mais velho que eu. Devia ter 22 anos. Um loiro de olhos azuis, que trabalha na parte de finanças da construtora.

Retorno seu cumprimento com um aceno de cabeça, cansado até para falar.

Já estava escuro. Deviam ser 19:00.

Adam vai até sua moto, uma Bonneville Bobber Black, e liga o potente motor, coloca o capacete, depois dá partida, deixando o local.

Estávamos construindo um prédio de negócios. Não sei ao certo de que tipo, mas não importa. Estou ganhando algum dinheiro para sustentar a mim e meu pai. Quase não é o suficiente, porém estamos bem.

Respiro fundo para me dar a coragem de caminhar até a minha casa.

Respiro fundo para me dar a coragem de caminhar até a minha casa

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O trajeto levou uma hora.

Moro numa parte pobre de Fayeteville, uma cidadezinha da Carolina do Norte.

Parando em frente a minha casa, vejo a janela do meu quarto, que nunca fecho, e muitas luzes estão acesas no andar de baixo; sinal de que meu pai está em casa, com outras pessoas. Seus companheiros de jogos, provavelmente.

Não estava no clima para lidar com nenhum deles, mas não tinha nenhum outro lugar onde eu pudesse ficar. Com um suspiro, subo os degraus de madeira velha e já ouvia a conversa alta dos bêbados. Coloco a chave na fechadura. O que se mostrou uma tarefa desnecessária, pois ela não estava trancada. Meu pai nunca tranca. Isso era um problema enorme considerando o lugar onde morávamos.

Entro em casa e fecho a porta.

— Phil? Acho que o Phil chegou. Phil, é você? — meu pai pergunta se arrastando nas palavras. Algo muito comum. — Ah, Ben. Achei que já estava em casa.

Ele não disse isso de forma animada. Muito pelo contrário. Meu pai era um cara gordo, com barba. Seus cabelos estavam perdendo a cor e não havia nada feliz na aparência dele.

— Fui fazer trabalho extra hoje.

Tento esconder minha repugnância pelo seu cheiro de cerveja e suor.

— Sei. Recebeu algum dinheiro?

Meu corpo tenciona com a pergunta. Eu não tinha o hábito de dizer quando eu recebia e onde eu guardava o dinheiro. Meu pai não era uma pessoa confiável se tratando do assunto.

— Não. Não sei quando vou receber. — Eu sabia. Era na segunda-feira. Ele permaneceu ali, me encarando. Não sabia dizer se estava tentando se manter são ou descobrir se eu estava mentindo.

— De qualquer forma, estamos ficando sem cerveja. Vá comprar mais algumas caixas.

— Não tem nada aberto a essa hora.

— Então fabrique as malditas cervejas. — grunhe.

Está apenas tentando me irritar. Com os anos, aprendi a distinguir quando ele falava sério e quando a bebida falava por ele. Na maior parte do tempo, era a segunda parte.

— Tony, cadê você, cara? — Um homem grita da cozinha.

— O Phil está com você? — Outro pergunta.

— Não demore. — meu pai resmunga para mim e volta para seus amigos.

Subo as escadas a caminho do meu quatro. Lá, pego uma toalha e vou para o pequeno e único banheiro, no final do corredor.

Tomo um longo banho ao som de I Wish You Were Here de Pink Floyd, no celular. Não devia demorar tanto, porque água poderia faltar, mas não me importei com isso naquele momento.

Deixo que a melodia da música acalme meu espírito.

O refrão "Como eu queria que você estivesse aqui" sempre canto para a minha mãe. Pensar nela é uma triste melancolia e constante lembrança da minha culpa, mas é também consolo e paz. Um paradoxo muito estranho tipo músicas do AC-DC.

Desligo o chuveiro e enrolo uma toalha na cintura, sem me enxugar. Sou do tipo que sente calor com facilidade e é por isso que nunca me enxugou depois do banho e sempre deixo a janela do meu quarto aberta.

Pego meu velho celular, que já está tocando Born To Be My Baby do Bon Jovi, em cima do vaso e saio do banheiro.Tudo o que quero agora é dormir, penso quando fecho a porta do meu quarto.

Desligo a música e deixo o aparelho em cima da cama e então procuro minha calça xadrez na cesta de roupas. Faz muito tempo que eu não tinha um guarda roupa. Depois de vestido, me deito na cama e abro o Google no celular.

Já que não vou conseguir dormir tão cedo por causa do barulho lá embaixo, decido continuar minha busca pela família da minha mãe, mesmo sabendo que não vai dar em nada. Há tempos eu procuro e não tive nenhuma pista ainda.

Suspiro e deixo o celular de lado. Estendo o braço para pegar o meu violão.

Ainda deitado, dedilho algumas notas. Apenas isso já me acalma e me traz a sensação de não estar só.

Eu o chamo de BB: Big Ben. Big Ben foi o amigo que nunca tive, o cara que ficou comigo todas as horas da minha vida por 10 anos e não me deixou cair no poço da insanidade. É estranho que um objeto assim pode salvar a pessoa de se perder na própria cabeça, mas nunca fui um garoto normal mesmo.

Alguns minutos depois, o cansaço me vence. Devolvo Big Ben para o seu canto, ao lado da minha cama e ponho as mãos debaixo da cabeça.

— Boa noite, Mommy Cookie. Espero que eu sonhe com o seu sorriso hoje.

Falar aquilo todas as noites antes de dormir, talvez, diminuísse o peso da culpa pelo o que aconteceu.

Como se Fosse Verdade - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora