John Lennon pareceu despertar com um estremeção que o sacudiu de cima a baixo. Pestanejou pronunciadamente, fez uma careta e arremedou a voz do velho companheiro de escola:
- Uma ilha?!
- Pode ser a nossa salvação – opinou George.
- A nossa única salvação – acrescentou Ringo.
- Tens alguma ideia melhor, John? – perguntou Paul desafiador. A fadiga ainda lhe sombreava o olhar mas parecia ter sido espicaçado com a possibilidade de uma discussão.
Inacreditavelmente, John negou com a cabeça, cruzou os braços e assumiu a derrota da peleja, aligeirando a tensão da sua postura.
- Não, não tenho nenhuma ideia. Dizes que existe uma ilha perto se formos na direção oeste?
- Sim, John. Conheci o sítio há um ano, ano e meio. É um retiro quase secreto dos ricos e famosos. Num pedaço de rocha foi construída uma vivenda enorme com jardins à volta, um porto privativo, piscinas, campo de golfe, todas essas comodidades que esse tipo de gente aprecia. Estive lá algumas ocasiões, para umas festas, com a minha ex-namorada. Fica muito próximo do continente, mas é um ponto geográfico suficientemente pequeno para se tornar quase secreto, um retiro exclusivo dos endinheirados. Não se faz muita publicidade dessa ilha para evitar a exposição pública. Depois deixaria de ser... um retiro. Entendem? Pouca gente já foi até à ilha. Só se vai por convite e se tiveres um barco, claro.
- E dizes que nesta época não está lá ninguém? – quis George saber, interessado. – Tens a certeza?
- Sim, certeza absoluta. A temporada das festas ainda não começou.
- Existe uma temporada de festas?
- O Paul costuma arranjar namoradas na alta sociedade – esclareceu John, piscando o olho.
- Oh! – exclamou George impressionado.
- Muito bem, convenceste-me – anunciou Ringo levantando-se do assento da popa. – O leme é teu.
Sem largar o manípulo, para que o barco prosseguisse no seu rumo, Ringo fez um gesto com a mão a pedir que Paul se aproximasse e tomasse o seu testemunho, enquanto condutor da embarcação. Este assim fez, caminhando com cuidado pois logo que se levantou aconteceu um ligeiro balanço que aproximou o pequeno barco das vagas, alguns salpicos molharam George que se encolheu ainda mais friorento.
Paul agarrou no manípulo, sentindo-o trepidar sob a mão por conta do motor que prosseguia na sua velocidade máxima, sentou-se no banco que ocupava todo o comprimento da popa. John sentou-se ao seu lado.
- Percebes alguma coisa de navegação marítima, Macca?
A pergunta destinava-se a esclarecer o grupo, mas sobretudo servia para deixar a certeza de que a ideia, aquela única e preciosa, tivesse o resultado desejado. Ou seja, que aquela viagem se saldasse num objetivo concreto, o alcance de terra firme, longe da polícia, um lugar onde poderiam descansar, abrigar-se da humidade da noite, comer e beber qualquer coisa.
- Basta seguir o pôr-do-sol – respondeu Paul indicando o horizonte que ainda conservava alguma claridade.
- Quantos minutos?
- Poucos, menos de uma hora. De certeza.
- Certo. – John esticou o pescoço e semicerrou os olhos, como que a querer lobrigar algo na distância, para além do manto líquido e infinito do oceano. – Então quer dizer que em menos tempo já devemos conseguir ver a ilha.
- Provavelmente.
- Daqui a meia hora?
- Não sei, John. Talvez... Sim, talvez meia hora.
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Na Minha Vida
FanficE se o João, o Paulo, o Jorge e o Ricardo... Não! Vamos recomeçar. E se John, Paul, George e Richard, depois Ringo, se tivessem conhecido em circunstâncias diferentes daquelas em que se conheceram, adolescentes dotados para a música, apaixonados pel...