XXIX - Adrenalina

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John e Paul encontraram a loja facilmente, seguindo as indicações de Margaret. Era um supermercado acolhedor, bem arranjado, com o requinte que o primeiro esperava encontrar num estabelecimento daquela zona, um local de compras que condissesse com o bairro arranjado e imaculado, que fizesse par com a mulher que os acolhia no seu apartamento. A impressão que ela passava naquele segundo encontro, a estadia do barco era outra questão, o convívio fora forçadamente amigável, era de alguém proveniente de uma esfera diferente da dele. Já em relação a Paul, as possíveis diferenças esbatiam-se pois o amigo estava habituado a conviver naquele tipo de ambiente rebuscado.

Agarrou numa maçã e sopesou-a. Não sabia escolher fruta e fingiu que estava a avaliar o produto, como todos os compradores exigentes faziam. Para ele estava tudo com bom aspeto, brilhante e vermelho. Ótimas maçãs. Ele gostava do aspeto das maçãs. Aliás, a frutaria era um escaparate de pomos imaculados. Não era possível enganar-se a escolher o que quer que fosse, mesmo não percebendo nada de fruta. Ficaria sempre bem servido ali, era a vantagem daquele tipo de supermercados. Abriu o saco de plástico e começou a enchê-lo seguindo as indicações escritas no papel que Paul segurava na mão esquerda e que conferia amiúde com as secções que ia atravessando, empurrando o carrinho com a mão direita. Cinco, seis, sete maçãs. Achava que tinha sido esse o número... Na dúvida colocou uma oitava maçã. Tinha sido um número ou um peso? Dois quilos? Não via uma balança em lado nenhum. Fechou o saco, enfastiado. Não gostava de ir às compras.

- Então, vais contar-me o que se passa?

Olhou para Paul que parara ao seu lado. No carrinho tinha garrafas de vinho tinto, embalagens de massa, latas de molho de tomate, queijo, natas, bolachas salgadas, conservas de peixe, azeitonas, pimentos vermelhos em calda. Não se tinha apercebido de que estavam dentro do supermercado há tempo suficiente para que Paul completasse a lista de compras. Ou Paul era muito rápido a escolher, ou ele estivera bastante distraído com as maçãs.

- O que se passa contigo? – insistiu Paul um pouco mais agitado do que o normal. – Estás a ser demasiado bruto com a Margaret. Até para os teus padrões, Lennon.

A sua oportunidade para se explicar chegava. John foi sincero. Queria absolutamente ser verdadeiro com o amigo, ele precisava de contar o que estava a sentir.

- Não sei, Macca. Tenho um qualquer pressentimento...

- Que pressentimento?

- Não te sei especificar...

Paul avançou com o carrinho depois de deixar aí dentro o saco de plástico com as maçãs. Dirigia-se ao talho. Sorriu trocista, condescendente. Amaciou a voz para dizer:

- Serão ciúmes?

John lançou as mãos ao ar. Esperava uma réplica mais inteligente do amigo. Esperava que ele visse para além do encantamento tosco da mulher, daquele jeito delambido, das ofertas aparentemente gratuitas de casa, comida e amor.

- Oh, claro! Vai pela explicação mais simples! – exclamou frustrado.

- E que explicação querias tu que...

John espetou um dedo no peito de Paul. Pararam no corredor do supermercado, rodeados de frigoríficos que apresentavam garrafas e pacotes de leite, embalagens de ovos, manteiga e outros produtos lácteos.

- Quando começarmos a correr, lembra-te que eu tive um pressentimento.

Paul resolveu levar a sério o que ele estava a dizer. Endireitou as costas.

- Estás a dizer que a Margaret poderá... denunciar-nos?

- Somos procurados. Qualquer um pode achar a recompensa apelativa o suficiente para dar à polícia a nossa localização.

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