XIV - Exploração da selva

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Na madrugada, Ringo teve um pesadelo. De repente pôs-se a gritar e a esbracejar, adormecido. Levantou-se sonâmbulo como se possuído por um demónio, de olhos abertos e vítreos, a saliva a escorrer-lhe do canto da boca, a murmurar palavras incoerentes. Depois saiu disparado da cabana, levantando areia com os pés que espirrou para cima dos outros. Paul soergueu-se, apoiado nos cotovelos, John perguntou com a voz rouca de sono:

- Onde vai aquele maluco?

Assustado, George saiu atrás de Ringo a ver se o conseguia apanhar. Temia que ele corresse a direito e que se enfiasse no mar, caísse, perdesse a orientação e acabasse por se afogar.

Escutaram um baque e um gemido. De seguida um segundo baque e outro gemido. George voltou para dentro da barraca, a engatinhar.

- Bateu num coqueiro e desmaiou.

John bocejou e voltou a aconchegar-se.

- Deixa-o. Só assim dorme até de manhã e deixa-nos dormir também.

- Ele está com o saco de dinheiro...

- Ninguém o vai roubar, George.

Paul virou-se para o outro lado e despertou estremunhado com o brilho do sol a bater-lhe de chofre no rosto. Desde o episódio com Ringo até amanhecer parecia que se tinham passado apenas alguns segundos, que o dia se tinha insinuado depressa demais. Por outras palavras, ele queria dormir mais um pouco. Tinha o corpo todo amassado por causa das ondulações da areia mole, que mudava de configuração sempre que ele se movia e nem sempre para aconchegá-lo corretamente.

- Toca a acordar, mandriões! Rise and shine!

A voz de John foi como uma flecha a perfurar-lhe os tímpanos.

Se tivesse um travesseiro, tinha-o colocado cobre a cabeça e coberto os ouvidos para abafar os sons incómodos. Rolou até ficar deitado de costas, resmungou e sentiu os lábios secos, a garganta arranhada, grãos de areia abrasiva por todo o lado, a começar pelas mãos e a terminar no interior da roupa onde raspava na pele. Algo duro e redondo aterrou-lhe na barriga e Paul sentou-se admirado, atirando as mãos à coisa que envolveu com os dedos. Era um fruto rosado. Olhou para cima, John atirava um segundo fruto para cima de George, que lhe acertou na cabeça provocando um grito agudo e estava a comer um terceiro.

- A manhã está excelente. Muitos caranguejos a aproveitar a maré baixa, mas hoje apetece-me carne. Temos uma floresta para explorar!

- Isso doeu – gemeu George esfregando os cabelos despenteados.

Paul deu uma dentada sôfrega no fruto. Estava com fome e com muita sede.

- Vamos procurar água também. Não podemos só sobreviver com o sumo disto.

- Claro, Paulie – anuiu John falando de boca cheia. – As tigelas feitas com os cocos estão empilhadas à porta da barraca.

George olhou em redor. Não havia paredes e conseguiam ver a praia dali. A única parede era a dos fundos, que tapava a visão da selva escura e misteriosa.

- Porta?

John ignorou a sua observação e continuou:

- Estive a preparar uma lanças, afiando uns pedaços de madeira com o machado.

- Lanças? – insistiu George mastigando desesperado o pomo. Apesar da sua compleição magra era dos que comia mais e parecia estar sempre cheio de fome.

- Para apanhar os coelhos.

- Onde está o Ringo? – indagou Paul.

- A dormir onde caiu, depois de ter batido no coqueiro.

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