IV - Outro refém

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E agora, o que fazemos...

Ao acalmar a ânsia que o corroía e fazia-o suar, sujando o casaco de verão debaixo dos braços, Paul acabou por perceber que John referia-se somente a ele e ao amigo e não aos três, como se fossem um bando de ladrões.

Prendeu a respiração, fechou os olhos com força. Queria que fosse um maldito de um pesadelo e que este se diluísse com esse gesto infantil. Estava a sentir-se magoado, desesperado e cansado por estar numa situação incapaz de dominar. Isso era um golpe fundo no seu orgulho. Desde pequeno que a sua vida era serena e ele facilitava o seu próprio caminho, tomando decisões que o conduziam a objetivos simples que lhe permitiam subir degrau a degrau a escada longa das suas ambições.

Podia terminar ali. Podia perfeitamente terminar ali. O ladrão era o indivíduo que estava no banco traseiro, não ele, nem o amigo.

A resposta mais acertada seria o indivíduo despedir-se deles, agradecer a boleia e ir fazer o assalto que lhe competia, eles não tinham nada que ter participação naquela loucura. Fazia-se um pacto de silêncio, ele e John não contariam nada, desejavam-lhe boa sorte e cada um ia à sua vida.

Infelizmente não bastava suster o fôlego e deixar de ver.

Sentiu uma coisa dura a picar-lhe o ombro esquerdo.

- Tu, vens comigo.

Animou-se.

- Vou contigo? – perguntou, fervendo em indignação, olhando em frente. Cerrou os punhos, as mãos tremiam.

- Ei, calma aí, Ringo – interveio John. – Ele não precisa de ir contigo.

O bandido indicou o edifício do Banco Central com a cabeça.

- O assalto vai ser rápido, mas depois de me aviar com uns bons sacos de dinheiro vou precisar de fugir. Este será o nosso veículo de fuga. – Bateu com a arma nas costas do assento de Paul. – Como garantia levo o teu amigo comigo. Assim, saberei de certeza que estás aqui, à nossa espera.

- O meu carro não anda nada – justificou-se John. – Esta sucata não passa dos cem quilómetros por hora. E queres fazer deste, o teu veículo de fuga?

- Esperemos que não seja preciso acelerar pela cidade para escaparmos com sucesso desta empresa.

- Por que é que falas sempre na primeira pessoa do plural?! – zangou-se Paul. – Nós não fazemos parte de nada que tu possas liderar. Nada! Nem um grupo em excursão, nem uma banda musical e muito menos um grupo de delinquentes!

Ringo fingiu não ter ouvido a observação mordaz.

- Olha só! – apontou para o exterior, para a fachada do banco. – Nem um só polícia à vista. Vai ser um piquenique. Eu disse-te, a esta hora o banco nunca está guardado, mudam as rondas. Sei disso porque já tinha passado por aqui e apontado as rotinas... Para o caso de querer assaltar o banco. Percebes? Sou alguém prevenido.

- Os teus piqueniques, parece-me, causam indigestão – insistiu Paul, cruzando os braços.

- Mais uma razão para não precisares de nós – insistiu John. – Vai lá assaltar o banco. Se saíres a pé, ninguém irá em tua perseguição. Vão estar todos bastante assustados para reagirem nos minutos seguintes, não sabem se terás cúmplices à tua espera cá fora e vais conseguir um grande avanço, mesmo a andar.

- Nem penses! Vocês conhecem-me, podiam denunciar-me. Não vou correr esse risco.

- E se entrássemos num acordo?

Ringo fez um sorriso irónico.

- Pois, pois... Boa tentativa. Liga o motor e mantém-no a trabalhar. Daqui a menos de cinco minutos estaremos de volta. – Deu um segundo toque com a pistola no ombro de Paul. – Tu, lá para fora!

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