XXV - Famosos

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No interior do acanhado porta-luvas estava, sim, a harmónica que John tinha roubado na vila piscatória, antes de Viejos, mas também estava uma pequena bolsa plástica, fechada, embrulhada num segundo saco transparente onde se viam papelotes brancos. A bolsa que formava o núcleo daquele pequeno sistema plastificado continha uma amálgama seca de uma tonalidade verde acinzentada que se constituía em pequenas folhas trituradas, obtidas a partir da planta cannabis sativa.

Paul obrigou-se a fechar a boca, forçou-se a engolir.

- Co-como... Como conseguiste isto? – gaguejou, perplexo, um sentimento que se permitiu a ter para não se irritar demasiado logo no início, pois ele sabia que iria explodir, numa fúria tremenda.

- Foi o homem que nos vendeu, ou alugou, ainda não sei precisar exatamente o que existe em relação a este carro, se somos donos ou se somos uns meros clientes e que o teremos de devolver mais tarde, que nos deu esse presente. Uma bonita surpresa, não concordam?

- Sabes o que é isto?! – A voz de Paul subiu alguns decibéis. A ira, lentamente, estava a emergir dentro dele, lava a escaldar num vulcão ativo.

- Sei, claro que sei... É erva!

George e Ringo mantinham-se cautelosamente calados, à espera que os dois gladiadores tombassem na arena, vítimas de um golpe mortal recíproco, para depois avançarem no terreno sem o perigo de saírem machucados.

- Erva...

- Sim, marijuana, Macca. Uma ganza das boas. Maconha. A nossa amiga Mary Jane.

- Como pagaste isto?

- Eu não paguei. Já te expliquei, foi um presente do homem...

- Não acredito que te tenha dado um presente destes! – Paul esticou os braços e indicou o porta-luvas aberto com as mãos de palmas abertas.

- Mas foi assim como contei. Eu não tenho dinheiro comigo para andar a pagar o que quer que seja... Tu e o Ringo é que são os homens da massa.

- O carro... O preço do carro...

- Foste tu que o pagaste. Foi o preço que o homem estava a pedir e sem outros encargos acrescentados. Até achaste barato e ficaste todo contente por termos conseguido um Cadillac clássico por essa bagatela... Creio que foram essas as tuas exatas palavras. Uma bagatela. Daí a minha dúvida, se é que me entendes. Será que só pagámos um aluguer? Porque comprar um Cadillac...

- Não vejo qual é o problema – disse Ringo, por fim.

Paul girou o pescoço e encarou-o com espanto.

- Não podemos ser apanhados com isto na fronteira. Já basta termos de esconder um saco de dinheiro da alfândega! – explicou agitado. – Como vais conseguir explicar que tens erva na tua posse? Eles têm cães que farejam este tipo de produtos e não adianta refundi-lo dentro de um dos bancos ou coisa parecida. Vamos ser apanhados!

George dobrou-se e retirou o saco do porta-luvas. Ao ver o objeto temido viajar diante dos seus olhos, Paul deu um salto.

- O que estás a fazer?

- Bem, só vejo uma maneira para resolver isto.

John exclamou:

- Ele percebeu!

- Qual é a solução? – indagou Paul, desconfiado, respirando muito depressa.

George virou-se para John:

- Ele sempre foi assim, tão certinho e tão ingénuo?

- Acho que tem piorado com o tempo... Mas sempre o conheci certinho e ingénuo. O bom rapaz, James Paul McCartney.

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