Paul McCartney tinha acabado de entrar no seu carro e fechava a porta.
O semáforo passou a verde.
Movido pelo instinto e pelo estímulo da mudança de cor no sinal luminoso, John soltou o pedal da embraiagem e acelerou, fazendo o carro avançar e atravessar o cruzamento.
Sentiu o suor empapar-lhe as axilas, de tão nervoso. Paul McCartney tinha sido seu colega na escola secundária, um grande amigo que partilhava com ele o gosto pela música. Escrevia letras e compunha canções simples de amor numa velha viola, ele gostava de complementar essas obras com alguns versos e uns tantos acordes. Enquanto Paul tinha seguido os estudos e frequentara um curso técnico numa universidade, ele tinha começado logo a trabalhar porque estava farto do ambiente académico, principalmente da prepotência dos professores que nunca lhe tinham ensinado nada que fosse útil e que o ajudasse na sua vida profissional. Os resultados estavam à vista: só com o ensino obrigatório não conseguia manter um emprego por mais de cinco meses.
Paul era inteligente e interessado pelo funcionamento da sociedade, não sabotava as ofertas que existiam e tinha uma vida organizada. Trabalhava num escritório de advogados e complementava os seus estudos com um curso noturno. Podia-se dizer que era um jovem adulto bem-sucedido, com objetivos razoáveis para uma vida organizada, simples e fácil.
Era seu amigo, cogitou John num pensamento rápido como um relâmpago fugaz a cortar-lhe o cérebro, estava em perigo de morte e desconhecia o facto, ao ter entrado inesperadamente naquele carro. Se acontecesse alguma coisa a Paul, ele sabia que a sua reação iria ser extrema.
- John, não vais dizer nada? Estás demasiado calado...
- Macca... – gemeu.
Paul ficou sério.
- Aconteceu alguma coisa?
- Costumas fazer serviço gratuito de táxi, é?
A pergunta partira do banco traseiro e Paul voltou o pescoço para descobrir o terceiro passageiro, recostado no banco de estofos estalados e queimados pelo sol. Este sorria-lhe e Paul hesitou.
- Eh... Olá... – Perguntou ao amigo, admirado: – Estás a passear ou...? O que se passa, John? Não devias estar a trabalhar?
John olhou pelo retrovisor e avisou, entredentes:
- Cala-te, Ringo. Limita-te a ser o... o que és nesta história.
- Com muito gosto.
Paul voltou-se outra vez para trás, estendendo a mão.
- Chamas-te Ringo? É um prazer conhecer um amigo do John... Chamo-me Paul.
O bandido apertou a mão a Paul. Pelos vistos, a pistola não se encontrava visível ou teria sido mencionada como pormenor anormal daquela cena que já passara a surrealista. John suspirou alto. Conduzia o carro pelas artérias ensolaradas da cidade, sem saber que direção tomar. Manobrava o volante fazendo as curvas, em modo automático. Conferiu as tabuletas que indicavam o centro. O mais prudente seria afastar-se da confusão, pois não queria provocar o bandido. Se por vezes parecia amável e confiável, noutras temia que se descontrolasse ao ponto de perder as estribeiras e desatar aos tiros. Estava armado, era um desconhecido, podia ser imprevisível.
Espreitou o lugar do pendura. O amigo estava bem vestido, como sempre, com um casaco leve de verão, uma gravata florida sobre uma camisa fresca, calças vincadas, os sapatos engraxados. Depois percebeu que Paul estava sério. Já tinha percebido que alguma coisa não estava bem... Não por causa do passageiro no banco traseiro, mas por causa das horas e de ele estar a passear-se pela cidade. Para evitar afundar-se ainda mais naquela situação, adiantou-se.
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Na Minha Vida
FanfictionE se o João, o Paulo, o Jorge e o Ricardo... Não! Vamos recomeçar. E se John, Paul, George e Richard, depois Ringo, se tivessem conhecido em circunstâncias diferentes daquelas em que se conheceram, adolescentes dotados para a música, apaixonados pel...