XV - A tribo

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Paul foi o primeiro a regressar à clareira. Corria, feliz, com água nas duas metades de coco, uma para cada um dos amigos que ali tinham ficado a descansar, pisando com cuidado apesar da pressa, para que não derramasse o líquido que iria saciá-los. Já se saciara, juntamente com John, na fonte que tinham descoberto, um veio de água que brotava em suaves gorgolejos de uns rochedos escuros num local disfarçado por grandes plantas viçosas. Foi só através do silêncio e de se terem posto a escutar atentamente que deram com a fonte, por causa do rumorejar que fazia. Se tivessem continuado a conversar nunca teriam dado com o local e começaram a suspeitar que as cantorias e os diálogos só estavam a afugentar a caça. Combinaram que seriam discretos, dali para a frente, e então poderiam, finalmente, surpreender os tais coelhos.

Os dois, Paul e John, beberam diretamente da fonte até sentirem os estômagos inchados, até a secura desaparecer do céu-da-boca e da garganta arranhada. Tossiram engasgados, riram-se, entraram em brincadeiras infantis, dando chapadas na água para molharem o parceiro e depois Paul disse que iria encher o seu coco, levar uma primeira porção de água a Ringo e a George e que iriam a seguir conduzi-los até ali, para também eles ficarem com as barrigas a estoirar.

A sua felicidade espontânea dissolveu-se de imediato ao verificar que a clareira estava deserta. Estacou, com a água a pingar das metades de coco, a escorrer-lhe pelos dedos. Girou a cabeça da esquerda para a direita e da direita para a esquerda, várias vezes, mas todos os detalhes do cenário lhe pareciam corretos. Aquele era a sítio onde tinham deixado os companheiros menos de meia hora atrás, só que agora ninguém estava ali.

John postou-se ao seu lado e exclamou:

- Eh... Onde estão?

Paul respondeu intrigado.

- Não faço ideia. Atrás de nós não foram... Estranho... O Ringo estava com cara de quem não queria dar nem mais um passo e o George não me parecia com intenções de que iria abandoná-lo. – Num lampejo recordou-se: – Não existem mesmo tigres nesta selva, pois não?

- Acho que não, Paulie... Mas nunca se sabe. Também podem existir dinossauros.

Um arrepio desceu pelas costas de Paul.

- Não brinques com essas coisas, Johnny.

John rasgou um sorriso perverso.

- Ei, Macca! Estás com medo de ir até ao tronco onde deixámos os outros dois sentados e descobrir um banho de sangue?

- Não brinques com essas coisas, Johnny! – repetiu Paul.

- Oh, estás com medo, sim!

Para demonstrar que não havia quaisquer sinais de um massacre recente naquela plácida clareira, John saltou até ao tronco. Inspecionou-o e soltou uma exclamação que sobressaltou Paul. Deu algumas voltas com um ar atento e inquisitivo, a abanar a pequena lança de pau, riu-se e disse:

- Não, senhor. Ninguém foi devorado, posso assegurar-te.

Enchendo-se de coragem, confiando na palavra do amigo, Paul avançou com as metades de coco na mão.

- O que aconteceu, então? O que lhes deu para terem saído daqui? Nós iríamos voltar... Trago água para eles!

- Alguma dor de barriga e tiveram de ir aliviar-se atrás de umas moitas mais afastadas? Para não sujarem a clareira?

- Os dois ao mesmo tempo?

- O Ringo tem medo de dinossauros. E pode ter sido uma dor muito forte.

- Hum...

Paul mordeu os lábios. Alguma coisa não estava totalmente esclarecida naquele cenário aparentemente bucólico, inofensivo e quieto. Havia agitação estranha entre as sombras, sussurros não decifráveis... Tinham de procurar pistas para desvendar o paradeiro dos amigos. Não conseguia estar tão à-vontade com o que via, como John. Este disse-lhe:

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