Refúgio

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Shivani Paliwal

A morte sempre é uma surpresa ruim, porque não podemos preve-la, mas se quisermos podemos apressa-la.

Quando vovô morreu a vida que ele mais atingiu foi a minha, tudo em mim se quebrou e o que realmente me matou aos poucos foi o peso da culpa.

Da desconfiança.

Eu tinha apenas oito anos, como poderia tirar a vida de alguém?

Principalmente do vovô, que era como um pai para mim.

Any do terceiro ano exibe sua linda voz em uma canção melancólica, enquanto todos jogam e desfazem suas rosas brancas sob o caixão de madeira preta.

O dia está nublado, a dor parece se alastrar por cada um de nós.

A ponta da esquerda Hina e Joalin estão juntas, a direita Sofya permanece imune, como se a dor dela fosse pior que a do senhor Ardakani, que derrama lágrimas secas e sem emoções.

Consigo enxergar pelas árvores o senhor May, seu olhar cabisbaixo e suas expressões que examinam cada rosto nesse temível velório.

Eu ao menos consigo acreditar que ele existe.

Causa da morte: assassinato a sangue frio.
Objeto utilizado: ainda não identificado.
Principal suspeito: Para todos, Shivani Paliwal.

Sim, eu.

Mamãe que está agora ao meu lado comentou sobre eu dar um tempo das aulas.

Quando a intimação para eu prestar depoimento chegou em minha casa foi como se uma facada tivesse me acertado em cheio a milímetros da razão.

Porém eu não vou ceder novamente, não matei a senhorita Ardakani, não vou arcar com esse peso.

Ele não é meu.

O senhor May? Talvez um ótimo e perfeito suspeito, apenas para mim, claro.

Pois sei que ninguém em sã consciência desconfiaria dele.

Mas eu sim, a minha consciência já não está muito boa, a verdade é que ela já não está a um bom tempo.

Quando volto a olhar para o professor sou levada a um outro estado, porque agora ele me encara de volta, seus olhos me queimam como se eu fosse submetida a ele.

Como uma propriedade.

Desço meu óculos escuro na intenção de quebrar o olhar, percebo pela sua movimentação que um suspiro se esvai do seu corpo.

— Tudo bem? — mamãe pergunto e eu apenas concordo.

Respirando o ar fundo, não nego, chorei bastante noite passada, ainda que não nos déssemos bem eu tinha um amor especial por Nour.

Ela foi a minha primeira amiga na cidade e acabou de algum jeito ganhando meu coração.

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Caminho pelas trilhas do cemitério, sai da cerimônia de despedida antes que Sofya me expulsasse por conta própria.

Tudo o que sinto em meu corpo é um aperto, meu coração está sufocado e eu só queria um lugar para me esconder.

Ainda não acredito que ela se foi, não acredito que acham que eu a tirei desse mundo horrível e cruel.

— Hey, nerdinha — eu me viro para trás como na cena de um filme.

Meu pulso acelera e eu não posso acreditar.

Apenas uma pessoa me chamava assim no mundo todo.

Querido Amor Sombrio /:Shivley Onde histórias criam vida. Descubra agora