Uma dose, seus pensamentos

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°°••Neurônios queimados...

^Shivani Paliwal

Dizem por aí que somos capazes de sentir inúmeras sensações diferentes e que pessoas podem nos causar ainda mais delas.

É assim que eu me sinto, vendo os olhos sombrios do meu professor do FBI, sua pupila dilatada de uma forma tão escura que toma conta de todo o castanho.

O castanho de seus olhos que eu acho tão lindo.

- O que foi? - Bay sussurra quando eu viro meu rosto e seus lábios alcançam minha bochecha ao invés de minha boca.

Suspiro baixinho.

- Você não quer? - ele passa sua mão de meu queixo para minha nuca, eu sinto meu corpo se render aos poucos ao seu toque.

- Não é isso - encontro ar para responder de volta.

- Então o que foi? - ele deixa um beijo na maçã de meu rosto.

- É só que isso não pode acontecer, você é o meu professor, é errado e se alguém descobrir estamos ferrados - mexo em meu cabelo de um jeito compulsivo enquanto falo e tento convencê-lo daquilo.

Mas a verdade é que eu estava com medo, medo de não conseguir beija-lo novamente, medo das lembranças me atingir e eu travar, não conseguir dar o que ele quer.

- Não minta para mim Shiv - ele vira meu rosto mais uma vez, me fazendo o olhar - Eu sei que você quer que aconteça.

Eu reparo em como seu cabelo está bagunçado e então chego a conclusão de que os únicos momentos em que ele está bem arrumadinho é quando está trabalhando.

- May você viu o que aconteceu da última vez, viu que não consigo me entregar ao momento, nem ao menos te beijei direito, porque ainda insiste? - altero um pouco o tom de voz e ele suspira.

- Porque você é incrível Shivani, e não deveria deixar aquele dia ficar martelando em sua mente, minha vontade de beijar você ainda está aqui, mas de dizer que não quer eu não insisto.

E nem parece que no começo era eu quem estava tentando convence-lo a me beijar.

Mas agora suas palavras estão firmes em tantas verdades que é impossível não acreditar.

Então decido que vou confiar.

- Eu quero - sussurro e ele abre um daqueles sorrisinhos de sempre, me fazendo sorrir também.

- Não sei o que te deixou assim Shivani, mas nós vamos devagar, tudo bem? - eu assinto e ele olha para o próprio corpo - Quer que eu vista uma camiseta? - nego rapidamente, aliás a que ele me emprestou da primeira vez que vim aqui ainda está em minha casa.

Nós nos olhamos por alguns segundos, vejo em câmera lenta sua pupila se dilatar novamente.

- Você quer beber alguma coisa? - ele suspira enquanto se levanta.

- Café? - sugiro e o mesmo da uma risada boba.

- Só isso que bebe? - nego, por mais que seja quase verdade - Que tal um suco? - ele diz irônico e eu rio.

- Por acaso está pensando em oferecer bebida alcoólica a sua aluna professor? - pergunto em um tom provocador enquanto me levanto.

Ele me olha pensativo.

- Quem sabe? Se ela quiser - dá de ombros indo até a cozinha.

Eu me levanto e o sigo.

- Talvez ela queira - digo simples da mesma forma que ele.

- Só se isso for um segredo - ele some por trás do balcão pequeno, mas logo reaparece com uma garrafa de vodka na mão.

-Por acaso seu plano é me embebedar para depois me usar? - jogo as palavras de uma forma descontraída mas isso parece o deixar tenso.

- Não diga umas coisas dessas senhorita Paliwal - sua mãos deixam a garrafa sob o balcão - Se não quiser não precisa beber, é só uma sugestão.

Eu dou uma risada enquanto nego com minha cabeça e suspiro ao me sentar em um dos banquinhos atrás da bancada.

- Tudo bem - respiro fundo - Acho que posso confiar em você.

Ele ergue uma sobrancelha como se perguntasse se aquilo era realmente sério.

Eu levanto minhas mãos em forma de rendição e então ele assente.

- Tenho uma ideia - Bay começa - Que tal uma dose por seus pensamentos? - ele joga dois pequenos copos de vidro sob a madeira meio velha e úmida da bancada.

Penso um pouco, talvez isso não fosse dar certo, faz tempo que não bebo e não sei o que posso deixar escapar quando o álcool já tiver tomado parte de mim.

Mas ainda assim, concordo.

- Pode ser, porém, você também terá que me revelar seus pensamentos sombrios - forço uma voz e ele ri.

Bay da a volta na bancada e em seguida se senta no banco ao lado do meu, só que um pouco mais distante.

- É impressão minha ou aqui está mais claro? - olho em volta um pouco confusa.

- Sabina, ela é impossível e começou a colocar mais luzes pela casa, disse que eu vivia na escuridão profunda - ele faz uma voz dramática e eu rio.

É incrível como me sinto mais calma e ao mesmo tempo sobre carregada ao seu lado.

- Eu gostava de como era antes - ele derrama o líquido nos dois copos e concorda.

- Se quiser posso apagar uma das luzes - manda um copo na minha direção e fica com o outro.

- Não precisa - sorrio fraco e ele sorri de volta.

Sinto o fio de conexão que se estende entre nós, mesmo não nos tocando eu posso sentir um arrepio subir por minha espinha e atingir o último fio de cabelo de minha nuca.

Me sinto quente.

E agora ainda mais porque além de sorrir ele ainda me observa fixamente, seus olhos vagando por meu rosto e examinando cada traço, como se estivesse devorando minha mente.

- Aos seus pensamentos - ele levanta seu copo e em seguida bate ao meu.

Apenas abro um mínimo sorriso e viro o líquido garganta a baixo, sinto a sensação do álcool me invadir, uma sensação que eu não sentia a muito tempo.

Desde que resolvi deixar a bebida longe da minha vida.

Pressiono levemente os olhos, desperto quando Bailey bate levemente o copo na bancada, faço o mesmo.

- Porque não me diz o que está pensando exatamente agora? - ele diz eu suspiro.

Desço do banquinho com um pequeno pulo, talvez eu pudesse faze-lo beber até perder os sentidos e me contar o que aconteceu em seu passado, e porque ele é tão misterioso.

Puxo o banco para mais perto do seu, volto a me sentar e a pele de meu joelho roça ao seu.

- Que eu não deveria estar aqui, o inspetor acha que temos um caso - pego a garrafa e derramo em nossos copos.

- Acha é?

- Sim - respondo de volta e ele dá de ombros - Professor, porque não me diz o motivo dessa sua fixação em mim? - pergunto e ele aperta o copo.

Nós viramos as doses e dessa vez ela vem rasgando, como se queimasse nossos neurônios.

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Querido Amor Sombrio /:Shivley Onde histórias criam vida. Descubra agora