Capítulo 1

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Certa vez, quando Eleanor Rodriguez acordou, o mundo estava igual, e ela praguejou silenciosamente. Em seguida saiu para mais uma de suas frequentes visitas à biblioteca da cidade.

— Bom dia Senhora Dollabella!

A Senhora Dollabella era bibliotecária, e grande amiga de Eleanor. Ela era o sinônimo de perfeição. Seus cabelos loiros sempre estavam presos em um coque estranhamente alinhado.

Seus olhos marrons faziam um contraste perfeito com suas sardas e suas roupas pareciam nunca amarrotar.

— Bom dia querida!

Eleanor foi em direção à todas aquelas enormes estantes. A biblioteca é dividida por gênero. Eleanor sabia a ordem de cor, direita para encontrar livros de estudo, esquerda para romance, literatura nacional e biografias e seguindo reto para fantasia, drama e contos.

Ela sempre foi fascinada por fantasia, era de longe seu tipo favorito de leitura. Seguiu pelo corredor estreito entre uma prateleira e outra até encontrar, escrita em letras enormes, mas com uma caligrafia exuberante: “fantasia”.

Passou os dedos por um livro e outro. Não sabia qual escolher. Então ali, em um canto, um livro velho, meio escondido, pequeno e grosso, com um nome interessante: “Os vermelhos em Livermoony”. Do que aquilo se tratava? Ela não sabia, e essa era a parte favorita de Eleanor sobre os livros: você só vai saber do que se trata quando ler.

— Então querida, o que escolheu para hoje? – a Senhora Dollabella perguntou, com um tom de curiosidade em sua voz.

— Esse aqui: Os Vermelhos em Livermoony – disse, lendo o nome na capa azul marinho com letras grafadas em dourado.

— Ah sim, este é interessante. – Anotava o nome de Eleanor enquanto falava – Aqui está.

— Até mais Senhora Dollabella.

— Até, querida.

De volta à sua casa Eleanor foi até seu quarto, seus pais não estavam, o que significava que ela poderia passar a manhã toda lendo. Era o primeiro dia de aula do semestre. Ainda restavam mais algumas horas até a abertura do o colégio.

As páginas do livro eram amareladas e velhas.

“Olhos, algo tão insignificante para qualquer um. Não em Livermoony, aqui a cor dos olhos significa o que você vai comer, onde vai viver e, o mais importante, definirá o seu caráter.”

Eleanor sentiu um breve desconforto abdominal, porém continuou:
“Somos divididos em Verdes, Marrons, Azuis e Vermelhos. Os Verdes são os membros da família Livermoony, governam, os únicos que podem. Marrons têm dinheiro suficiente para sustentar a família. Os Azuis, como eu, são desprezados por Marrons e principalmente por Verdes, geralmente não temos dinheiro suficiente para manter uma casa, então vivemos em trailers ou em locais abandonados. E por fim, os Vermelhos, eles sim são perigosos, matam por diversão, há registro de vários massacres feitos por eles. É muito raro pegarem–nos. Pois podem fazer os olhos mudarem de cor quando bem entenderem, é uma habilidade útil, mas nada pode anular o fato de que eles continuarão sendo Vermelhos, perigosos por natureza.

Mais uma pontada, o que era aquilo?

“Eu sou Charlie Miller, as pessoas não se dão conta de mim. na maioria das vezes. Enfim, espero que esteja preparado para me conhecer pessoalmente.”

Como assim “conhecer pessoalmente”? Antes de ter a oportunidade de entender o que estava acontecendo, Eleanor foi puxada. A pontada do seu estômago se expandiu por cada milímetro do seu corpo. Era desconfortável, mas não doloroso.
Quando aquilo acabou, Eleanor não estava mais em seu quarto nem em sua cama grande e confortável, mas sim em frente a um grande estabelecimento: Centro Educacional de Livermoony. O que isso significava? Eleanor se perguntou.

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