Capítulo Vinte e Quatro

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Eleanor

Alyssa me ofereceu um quarto em sua casa. Estou ficando lá há um tempo. Talvez uns dois meses? Não sei. Não conto o tempo como fazia em Livermoony.

O mês de dezembro em Wivertown consegue ser ainda mais quente que o resto do ano. Detesto isso.

Pode parecer errado que eu esteja fazendo isso. Porém, não tinha outro lugar para ir, e afinal, eu nem fico tanto tempo lá.

Estabelecemos regras. Nunca foram ditas de verdade, é uma espécie de acordo tácito.

Posso ficar fora quanto tempo quiser, mas preciso me encontrar com ela todos os dias no Morro dos Vagalumes. No fim, eu apenas durmo no chalé.

Alyssa é completamente maluca, mas uma boa professora Cansei de animais. Quero um treino de verdade. Quando estiver lutando, não é a mente de um animal que você irá invadir.

Não penso em combates. Não penso em mortes. Porém, tenho que admitir, ela tem um ponto.

— Ok, tudo bem. — Vou para um ponto afastado e espero até que ela se posicione, mas Alyssa some. Droga.

— Me ache, Eleanor — ela sussurra em meu ouvido. Me viro rapidamente para tentar agarrá—la, porém, ela não estava mais lá.

Penso no que posso fazer. Sei o que preciso fazer: rastrear a mente dela, mas e depois? Não importa, tenho que parar de pensar e agir. Por que eu não aprendo?

Não, eu consigo. Tenho que conseguir. Procuro, vagando os olhos pelo lugar.

Roxo, roxo, roxo, roxo, roxo, roxo, roxo, roxo, roxo, roxo, roxo, roxo.

Continuo procurando, e sinto quando, finalmente, eles trocam de cor.

A encontro. Atrás de uma árvore baixa, perto de onde eu estava antes.

Sem sair de onde estava, procuro fazê—la ajoelhar, somente ajoelhar, sem dor.

Corro até ali. Alyssa está visível e de joelhos. Lhe ajudo a levantar.

— Você conseguiu! — Ela esboça um sorriso brilhante. — Finalmente!

Não sabia como reagir. Nunca sei como reagir.

— Obrigada — digo, em um tom que fazia a frase parecer mais com uma dúvida do que com uma afirmação. Definitivamente não é o que queria.

Me sento onde estava antes. Ignorando completamente a terra que suja minhas mãos.

Alyssa se aproxima.

— Estou indo pra casa. Vem junto? — indaga. Sempre a mesma pergunta. E sempre a mesma resposta.

— Não. Vou mais tarde.

Alyssa suspira, parecendo cansada. Não a culpo.

— Tudo bem — responde, finalmente.

Não queria atrapalhar. Não queria ser um peso. Mas acabei sendo.

Me ocorre que meus olhos ainda estão roxos. Procuro deixá—los marrons novamente. Sinto quando mudam. Espero que estejam no tom certo.

— Ficam melhor da outra forma — reconheço a voz. Não. Por que agora? Por que aqui?

Me viro mesmo assim. Não sorrio ao vê—lo. Charlie e Victoire.

Não esqueci do que Alyssa contou. Não posso confiar totalmente em suas palavras, mas de qualquer forma, o que ela contou é lógico para os padrões de Livermoony.

Não ouvi a versão dele ainda, e não sei se quero.

É exatamente como estar em uma espiral. Nunca estive em uma. Então, não sei o que fazer.

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