Capítulo Um

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                                                                                          Eleanor

Se fechasse os olhos, podia simplesmente imaginar que estava de volta em Livermoony e ignorar as últimas vinte e quatro horas. Então o olhei, evitando seus olhos. Me hipnotizaria se olhasse muito. Respirei fundo e um sorriso fraco, tímido, surgiu. É, ele ainda continua sendo a pessoa mais linda que eu já conheci.

— Charlie Miller? É você?

—  Sim, sou eu. Precisa de algo? — Ele oferece sorrindo.

— Não, nada — Na verdade, preciso sim. Acho que estou enlouquecendo.

— Que bom, porque eu preciso.

— Em que posso te ajudar?

—  Onde exatamente eu estou? — Eu sabia a que ele se referia, mas é irônico, não?

— Ah sim, você é novato. Quer que eu te leve na diretoria?

— Só precisa me dizer onde fica.

—  No térreo. A primeira sala do corredor da direita.

—  Obrigado... Eu já vou, te vejo por aí!

Não me dei o trabalho de responder. Nada mais importava, ele estava ali, sólido, vivo. Que diferença faz se ele não faz ideia de quem eu sou? Pelo menos não tem o crânio perfurado por uma bala, não mais.

Obrigo meus pés a andarem para a sala de aula. Meu cérebro trabalha em ritmo constante tentando entender como uma pessoa morta ressuscitou. Talvez as dimensões sejam algo mais complexo do que alguém como eu possa entender.

Os corredores não se parecem com os da escola em Livermoony. Me sinto um pouco perdida, meses ou dias — não posso definir — sem passar por aqui me fizeram esquecer como é tudo tão tumultuado.

Último ano do ensino médio. Último ano na escola. Último ano até minha vida virar de cabeça para baixo, de novo. Largar a escola com dezessete anos não é o meu maior desejo, mas fazer o quê? Não posso mudar o que meus pais decidiram há anos — sem meu consentimento — porém eu só tinha nove anos. Entre avançar um ano e acabar a escola mais cedo e esperar até fazer dezoito anos para então acabar o curso, eu escolheria acabar mais cedo. Não faria diferença.

Entro na sala, vacilante. Sou a mais nova, passo os olhos à procura de uma figura familiar e encontro uma conhecida até demais. Sarah?

Movo—me até ela, confusão invadindo minhas entranhas. Mas como? Pergunto para mim mesma, sem obter nenhuma resposta. Triste.

Sento—me ao seu lado. Não, definitivamente não é Sarah, é somente uma garota parecida. Sarah tem uma postura confiante, costas eretas, traços marcantes; ela é completamente o oposto, parece desleixada. Além disso, alguns traços do rosto entregam não ser ela, mas os olhos verdes penetrantes são os mesmos. Arrisco tentar puxar assunto.

—  Olá — começo, tentando me convencer de que eu sabia o que estava fazendo.

Ela acena com a cabeça, pelo visto é seu jeito de dizer oi.

Você está enlouquecendo. Sussurro em minha mente.

Não. Preciso de uma maneira mais drástica de ter certeza de que não é ela. Ir direto ao ponto. Por que eu achei que houvesse a opção de todos estarem aqui? Não faz nenhum sentido. Somente seus olhos dizem o contrário, são tão iguais.

—  Então, Sarah, não é? — Ela se vira para mim, me encarando com aquele par de esmeraldas perfurantes e uma expressão confusa.

—  Alira. Alira Ferri. Muito prazer, Eleanor Rodriguez.

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