Não haviam carros para se esconder atrás, como nos filmes. Não existiam postes de luz. Estavam cercados por árvores e sua foto era vista a cada lugar que ela olhava. Galpões eram utilizados como casas. Crianças Vermelhas de uns dez anos aprendiam a atirar.
— Não podemos mesmo voltar? – perguntou mesmo sabendo a resposta.
Morrer ou morrer. Não havia escapatória.— Está tudo bem. Logo você vai estar segura.
— Sinceramente, acho que não ligo para minha segurança.
— Eu ligo. Portanto, vamos acabar logo com isso.
Depois de averiguarem que ninguém vinha em sua direção, foram para trás de um dos galpões.
Seguiram pela parte de trás de mais três. Rezava para que ninguém aparecesse.
Haviam centenas de assassinos atrás dela. Nenhum deles hesitariam em matá– la.
Se sentia como uma espiã de um livro, mas envolvendo perigo real.
Acabaram os galpões. Teriam que atravessar alguns metros em céu aberto para chegarem aos próximos. Morreriam. Não havia saída além da
desistência.— O que vamos fazer agora? – sussurrou.
— Continuar o caminho. A biblioteca é aquele edifício grande. – Apontou – Agora você pode ver apenas a torre, mas estamos próximos.
— Você está mesmo sugerindo que vamos atravessar cinco metros andando a céu aberto? Não sou eu a pessoa mais procurada? – Ele assentiu com a cabeça – Você é louco, muito louco, mas eu não. Eu não vou fazer isso – disse, cruzando os braços.
— Adivinhe? Não tem opção!
— O que eu estou fazendo com a minha vida? Prendeu o ar, estufou o peito e seguiu o magnífico plano de Charlie, que vinha logo atrás.
Pedia para que todos nos quais ela preferiu não olhar, ficassem cegos por alguns instantes.
Chegou à parte de trás do último galpão antes da biblioteca. Era igual à da outra realidade: linda.
Fora vandalizada, mas conheceria lugar mesmo se estivesse vendada.
— Não foi tão ruim, está vendo? – Charlie perguntou ainda em voz baixa.
Eleanor ouviu barulhos de passos. Um gatilho sendo puxado. Tinha chegado tão longe, por que agora?— Shhh — pediu por silêncio — Os passos ficavam mais próximos a cada instante – Corre. Apenas corre.
Seguiu seu próprio conselho, correu. Não sabia como suas pernas ainda aguentavam.
Abriu a grande porta da biblioteca. Não sabia se Charlie estava vindo atrás ou não.
Se virou, lá vinha ele, pulando dois degraus por vez, e duas crianças tentando correr com aquele peso enorme sobre seus braços.
Trancou a porta.
A mesa da Senhora Dollabella. Todos os corredores.
Era tudo tão igual.
Sentiu—se petrificar quando parou em frente à seção de “fantasia”. Sabia que seria difícil, mas não tanto.— Então é isso. Acabamos aqui – Charlie disse, mas ela fingiu não ouvir, não queria se despedir.
“Os Vermelhos em Livermoony” fazia todo sentido agora.
— Vou sentir sua falta – confessou com o portal em suas mãos e o abraçou.
Não queria soltá–lo, sentia que se o fizesse, o perderia para sempre.
— Talvez fomos destinados para viver assim, em realidades diferentes. Talvez exista uma na qual nós nunca nos amamos, na qual nunca fomos torturados por isso. Agradeço tanto por não viver nela, pois te amaria independentemente das consequências que enfrentaria por isso. Você é a única responsável por eu ainda estar aqui hoje Eleanor Rodriguez, e continuarei, quero honrar sua memória.
Um pedaço do seu coração tinha sido arrancado do peito a cada uma daquelas palavras, ainda não chorou, como era possível?
— Até a próxima vida, Miller.
— Até a próxima vida, Rodriguez.
“Vejo que cumpriu sua missão Eleanor Rodriguez. Livermoony lhe acolheu tão bem e tão mal ao mesmo tempo, não foi? Espero profundamente que você tenha gostado da experiência, mas é hora de dizer adeus".
Uma das pontadas que pensou nunca mais sentir novamente apareceu em seu estômago.
"Uma Marrom como você é excepcional, nunca algo parecido foi visto, é uma honra tê–la".
Mais uma pontada .
Espero que me conhecer pessoalmente tenha sido agradável, adeus Eleanor Rodriguez.
A última pontada. Olhou para sua frente. Adelyn Livermoony mirava em Charlie. Ela apertou o gatilho e bala vinha certeira em sua cabeça.
Piscou e no instante seguinte, aquilo tinha se tornado o maior arrependimento de sua vida.
Não se encontrava mais na biblioteca.
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Home by Eleanor -Maria Brandão
Fantasi|HOME BY ELEANOR| Eleanor, uma garota que entrou dentro de um livro pego em uma biblioteca, em um mundo onde pessoas eram divididas pela cor dos seus olhos: Vermelhos, Azuis, Marrons e Verdes. Assim, Eleanor se torna uma Marrom e deverá rapidamente...