Capítulo 27

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— Então, como tem certeza de que não seremos mortos no meio do caminho? – Eleanor indagou. Estava aflita.

— Sou um Vermelho também, lembra?

— Por longos momentos, parece mentira. Uma resposta impertinente.

— Acho que entendeu — Charlie disse, mudando de assunto — Vamos passar pela rua da frente, andar alguns quilômetros até o beco que eu lhe disse, o que dá na rua deserta. Dali vamos andar até chegarmos na parte Sul.

— Tudo bem.

A garota tentava se concentrar. Sentia como se estivesse na ponta de um penhasco. Qualquer movimento brusco a faria cair.

— Nada vai acontecer enquanto eu puder impedir — Charlie garantiu.

— Mas e se você não puder impedir? — Outra resposta desnecessária.

Nenhum dos dois se atreveu a dizer mais nada. Entraram na casa, o mesmo silêncio prevalecia.

Nenhuma movimentação.

Eleanor subiu os degraus de mármore. Olhou para Anne na poltrona.
Se despediu mentalmente de Emma e Will.

Zach e Lily. Não queria pensar tanto neles para não começar a chorar. A acolheram em um momento de vulnerabilidade. Tudo poderia acontecer, e eles ainda estariam ao seu lado.

— Pronta? – Charlie perguntou.

— Não. Mas vamos logo.

E saíram. O caminho até a rua da frente foi tranquilo. Ainda estava cedo, a rua estava vazia.

Chegaram até a ponta de um beco escuro. Não era possível ver nada ali, nem mesmo a luz do outro lado.

— Parece sem saída — a garota disse.

— É somente um pouco longo —
Charlie estendeu sua mão. Eleanor hesitou, porém a segurou.

Tropeçava em coisas durante quase todo o percurso. Como uma lanterna fazia falta.

Quando o atravessou completamente, sentiu um alívio imenso percorrer por suas veias. Não poderia aceitar a ideia de Charlie mentindo para ela novamente.

A rua em que se encontravam era realmente deserta, provavelmente por ser perto do território Vermelho. Era escura também. A luz do sol não entrava por conta das densas árvores, que ficavam cada vez maiores.

— Estamos a dez passos de onde o território Vermelho é considerado — Charlie disse. Sua voz parecia um tanto incômoda após tantos minutos de silêncio.

— Isso me parece uma floresta — Eleanor disse.

— Por que acha que nunca fomos descobertos?

Estava comprando sua morte, ela sabia que estava.

— Temos mais quanto tempo? — perguntou.

— Chegaremos lá em dez minutos. — ele respondeu.

— Devem estar no caminho para sua casa neste momento.

No instante seguinte, ouviram barulhos dentro da mata, e antes que pudesse explicar, Charlie a puxava para dentro de todas aquelas árvores.

— Você está maluco!?

Sentia medo, o cheiro podre Vermelho invadia suas narinas.

— Confie em mim.

Enquanto percorriam a mata, o barulho diminuía consideravelmente, junto com a quantidade de árvores. Ela não entendia.

— Será que podemos ter uma pausa? Não era para termos chegado?

De repente ele parou, e ela fez o mesmo.

— Eu gostaria de ter lhe mostrado mais do meu mundo, mas como não foi possível fazê–lo antes, vou te mostrar apenas a melhor parte dele. Bem vinda a minha fábrica de arte.

Estavam parados em frente a uma pequena caverna, não devia haver espaço para mais de três pessoas.

— Você pinta aqui? — perguntou, já sabendo a resposta.

— Sim. Quer entrar? – Não queria. Não parecia certo. Ele era Vermelho.
Porém se despedir de maneira decente para com alguém soava como algo bom.

— Tudo bem — respondeu por fim.

Seguiram até chegarem perto da caverna. Charlie acendeu uma vela que por si só iluminava todo o lugar. Era possível ver tintas, cavaletes, e telas. Prontas ou não. Só aquilo ocupava todo o espaço. Não era possível se locomover direito.

— Não é muito, mas queria que você visse.

— Eu adorei. — mentiu — Obrigada por me mostrar. Passaram mais um breve momento em silêncio.

Quase nunca conversavam.

— Temos que ir, não estamos muito longe — Charlie disse.

Seguiram de volta para a mata densa. O barulho de passos aumentava cada vez mais. Seu estômago revirava. Quando percebeu, estava em uma vila. Vermelhos circulavam mais para frente, havia chegado.

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