Capítulo Seis

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Sarah

Louise está na varanda, enrolada em um cobertor, apenas observando a neve cair. Particularmente, acho uma perda de tempo: principalmente porque corre o risco de ficar doente, mas deixo—a aproveitar sua liberdade. Nunca ficou fora de casa por muito tempo, sua origem não permitia.

Os olhos Vermelhos que nunca poderiam ser Verdes. Minha mãe lhe considerava uma doença e dizia a plenos pulmões, mesmo que fosse a genética dela ali estampada.

No momento, estou acabando o primeiro volume de Cor e Poder. São sete no total, mas está valendo a pena: é uma leitura prazerosa e cheia de detalhes. Passo grande parte dos meus dias na biblioteca, trabalhando na maioria das vezes. É um ambiente incrível, até mesmo no inverno. Não gosto do frio, mesmo aquecida, a casa fica gélida e tenho que manter a lareira acesa todos os dias.

— Sarah. — Dispersa em meus pensamentos, me assusto quando Louise me chama, já dentro do quarto.

— Sim, Lou? — Não exijo que ela tenha um apelido para mim, duvido da existência de um.

— Neste ano vou poder aparecer nas transmissões que você e o papai fazem? Ou ir para a escola? Talvez simplesmente ir ao parque montar um boneco de neve antes que o verão comece? — Lou pega a caneca com achocolatado da mesa cabeceira enquanto diz.

"Não" é a resposta para todas as perguntas, de novo. Odeio privar ela de tudo que merece.

— Louise, nós já tivemos essa conversa várias vezes. Eu prometo...

— É claro que você promete! Você sempre promete. Em todos os anos. Mas cumpre? — Ela me olha com fúria. — Vamos Sarah! Você cumpre as promessas que faz?

Me pergunto qual poder ela teria e qual seria sua divisão. Obviamente aprendi sobre cada um deles separadamente, fazendo anotações.

Ignys, Warkanis, Soluxes e Telepáticos. Laranjas e Roxos.

Apesar de só saber essa parte da vida dos Vermelhos, me sinto bastante bem informada. De qualquer maneira, não me deixo perder o foco e respondo:

— Não na grande maioria das vezes, mas não posso fazer nada. Você sabe como as coisas funcionam. — Estaria sendo fria demais? Não sei, mas definitivamente minha resposta não teve o efeito que queria.

— Eu li pedaços do seu livro, ok!? Uma matadora, eu! Você é mentirosa como nossa mãe. — Ah, como eu adoraria ter derramado algumas lágrimas. — Foi você quem disse para eu não escutar o que ela dizia, mas no fim ela estava falando a verdade. Eu sou doente!

Louise sai do meu quarto a passos rápidos e bate a porta com força, o vidro da grande janela em frente à minha cama se agita.

Vou atrás dela, sem me importar em colocar o sobretudo, um erro. O ar frio me atinge mais do que deveria, mas continuo correndo atrás da minha irmã.

O livro se referia pessimamente aos Vermelhos, com adjetivos cruéis para uma garotinha ler.

A encontro encostada numa parede no corredor dos quartos, não muito longe do meu. De braços cruzados em frente ao corpo e bochechas molhadas.

— Sou Igny, sei que você quer saber. Coloquei fogo numa rosa uma vez. Mamãe disse que era uma queimada natural e que eu não deveria me preocupar — Lou explica quando me vê indo em sua direção. Me surpreendo por um momento, mas não demonstro. E eu sou Aqua, o elemento oposto. Penso em responder, mas descarto a opção por ser rude demais.

— Então, não é porque você é a garota do fogo que pode sair desse jeito, certo? Eu sinto muito por ter mentido sobre algo tão importante, mas sempre foi para o seu bem. Eu entendo que está se sentindo mal, e entenderei se não quiser falar agora, mas se quiser conversar eu vou continuar aqui. — Por não obter resposta, continuo tagarelando. — Aprendi muita coisa. Talvez a gente possa fazer um acampamento, e você acenderia a fogueira — Ela esboça um sorriso brevemente.

— Você vai apagá—la depois fazendo chover ou algo do tipo? — É minha vez de sorrir, sem mostrar os dentes, mas ainda sim um sorriso.

— Fico feliz que não está chateada. Quer voltar para meu quarto devidamente aquecido agora, por favor?

Meus dedos dos pés tremiam estranhamente e os da mão de Louise se encontravam no mesmo estado.

Abraço suas costas e voltamos para o quarto. Fico grande parte do dia com ela, tentando não parecer zangada comigo mesma, pois sabia que ela não gostava.

O fogo e a água, lindos separados. Juntos, a água apaga a chama.

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