Capítulo Oito

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Eleanor

Um viva à procrastinação! Sem nada pra fazer, folheio aquele livro que descobri ser inútil com peso na consciência por não tê—lo devolvido quando o prazo esgotou.

Espécimes;

Reinos;

Portais;

Joias.

Quão grande pode ser uma baboseira? Porque honestamente, Livermoony: Uma história fantástica ultrapassou todos os limites já excedidos. E continuo insistindo por estar cega, sem nada melhor para acreditar, fingindo não ter enlouquecido por algumas horas, enquanto supostamente estava em Livermoony. Tentando convencer a mim mesma que toda essa investigação ridícula não foi apenas uma grande perda de tempo.

"Lupinos, Ângelis, Sereianos, Fadas, Feiticeiros..."

Isso não existe. Não é uma história de fantasia, é o mundo real. Eu vi. Nada disso pode existir porque simplesmente não faz sentido. Não pode ser real.

Deixei muitas coisas de lado por Livermoony, coisas importantes, que definiriam meu futuro.

Ultimamente nem penso direito, tudo o que eu faço se volta para Livermoony. Tudo o que vejo, ouço e toco me traz essa sensação nostálgica de que algo está faltando.

Deveria ter pensado melhor antes de voltar, então. Bendito seja o complexo de herói!

Sim devia, perdi todos os argumentos possíveis que me fariam ganhar essa discussão, porque querendo admitir ou não: eu estava errada. Sempre estive errada subestimando tudo que envolva aquele mundo mágico. Nem mesmo sei dizer se o que é mencionado no livro é verdade ou mentira. Não confio mais na minha opinião para nada.

Será que é assim que acontece com os loucos? Eles sabem que estão enlouquecendo e se deixam levar, não fazem nada para impedir?

Não completei o raciocínio. Minha mãe abre a porta com força, me assustando.

—  Está atrasada. Não pagamos escola para você chegar tarde. Talvez se você pagasse a mensalidade com seu dinheiro, soubesse o quanto é difícil conseguir te dar o melhor.

Não respondo. Nem mesmo olho para ela. Sem paciência para discussões, pego minha mochila e saio do quarto.

Minha mãe está brava pelo teste de sexta. B+ foi minha nota. Digamos que não tenha aceito bem.

"Vermelhos: Soluxes, Telepáticos, Ignys, Warkanis..."

Não é real. Repito. Não é real.

Assim faço por todo o trajeto de casa até a escola. Vem sendo assim há vários dias.

Tenho sonhos com Adelyn Livermoony. Me preocupo com Sarah. Como estaria vivendo com alguém assim dentro de casa? É torturante passar tanto tempo sem notícias.

No meio do caminho, me sinto tonta. O mundo gira. Por alguns minutos, talvez menos que isso. Ok, mantenha a calma.

Isso, não perca o controle. Mas por tudo que é sagrado, deixe de ser tola. Soou a voz sibilante de, pelo que eu imaginava, Alyssa. Eu quase tropecei ao sentir isso. As palavras ecoavam dentro de meu crânio e ao meu redor. Parei abruptamente. Escutava a mesma frase no som dos carros e em meus ossos. No sangue que palpita no coração até no barulho dos pequenos pássaros. Fique parada, por favor. Vai acabar sofrendo um acidente.

Instantaneamente obedeço. E para. Tudo para.

— Tive que chamar sua atenção de alguma forma. Sinto muito.

Dou um salto e me esquivo para o lado, colocando as mãos no coração.

— Como você fez isso? — Minha voz falha, então repito a pergunta mais autoritariamente.

— Magia, querida.

— Como? — Tenho o pressentimento de que ouvi errado, minha audição não costuma falhar, mas nunca se sabe.

—Eu sou de Livermoony. Sou Vermelha — Alyssa diz orgulhosamente, com um sorriso satisfeito no rosto. — Foi bastante tedioso enxergar sua cabeça funcionando. Sempre que tinha a resposta em mãos, passava para o lado lógico. Era irritante. Então tive que dar meu jeito. Juro que achei que você estava na beira da loucura.

Subestimei Livermoony de novo, o mesmo erro se repetiu.

Espera. Na minha cabeça?

— O que eu tenho a ver com isso? Digo, tudo bem, eu aceito a magia; Livermoony; outros reinos; espécimes e todo o resto daquelas coisas estúpidas. Mas eu não tenho nada com isso, eu sou normal.

Alyssa olha pra mim, sorrindo ironicamente. Odeio quando faz isso, me dá vontade de arrancar cada um dos dentes dela.

— Morro dos Vagalumes? — pergunta, sabendo que venceu a discussão sem nem mesmo tentar.

Droga. Caminho sem saída, de novo. Ela tem todas as cartas na mão.

— Te vejo lá.

E ela some. Simplesmente some.

Fraca.

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