Capítulo Vinte

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Sarah

Meu corpo dói. Minha respiração está afetada. Me resfriei.

Ah, como eu adoraria que isso adiasse a transmissão, que me ajudasse ao menos um pouco.

Não tenho disposição, mas e daí? Quem se importa?

Fico de pé e o mundo gira. Não interessa, estou bem. Bebo um pouco de água e me sinto levemente melhor.

Eu chamei Zach aqui.

Eu requisitei Zach aqui.

Ele deve estar a caminho.

Droga. Droga. Droga.

Dou um passo e o tudo gira novamente. Ignoro as necessidades do meu corpo e visto algum vestido preto qualquer. Agradeço aos céus por Adelyn não estar aqui.

Tento checar o relógio, mas minha cabeça dói quando movo. Vamos apelar para a sorte.

Meu nariz está vermelho, passo uma camada de maquiagem por cima.

Batidas ecoam na porta e solto um: "Entre!". Era Liz.

— Senhorita, precisamos ir agora. Você está bem?

Me olho no espelho rapidamente e ajeito um fio de cabelo. Espirrando em seguida.

— Resfriada. Pareço bem? — Aponto para o vestido.

Liz me analisou dos pés à cabeça. Fazendo ajustes aqui e ali.

— Está bom. Tem certeza que está bem? — ela repete sua pergunta.

— Sempre estive. — Espirro novamente. Não posso fazer isso durante a transmissão, me lembro.

Liz não fica satisfeita com minha resposta mas assente.

Saímos do quarto e nos deslocamos até a garagem.

Meu pai e um motorista que não sei o nome nos esperam.

— Não se atrasou tanto hoje — meu pai tenta brincar. Em condições normais responderia com um "Nem você" ou "Eu nunca me atrasei antes" mas hoje, em um combo de dia ruim, apenas não respondo.

O caminho até a Câmara é silencioso. Todos calados e ainda assim palavras ecoam. Ninguém precisa dizer nada. Há como sentir o desconforto de cada um ali dentro.

***

A grande sala utilizada por nós como estúdio cheira à comida servida para compensar o café da manhã. Sabiam que não tínhamos comido. Está tudo armado, como sempre.

Cabos perpassam quase invisíveis sob nossos pés, passando pelos rodapés de cada parede. Uma visão comum aos meus olhos. As câmeras, o equipamento de transmissão, as luzes exageradas.

Zach não está aqui. Não ainda. O que é bom.

Um homem alto, de pele escura e olhos no mesmo tom, vestindo um terno — como apropriado — me entrega uma folha, sem dizer uma palavra. É simples descobrir o que é: o roteiro.

Estranho. Tenho muitas falas.

Ando até quem me entregou a folha e o confronto:

— Olá. Suponho que haja um erro aqui. Provavelmente não falarei tudo isso. — Aponto para a folha, gesticulando.

Ele pega a folha da minha mão e analisa, me devolvendo logo em seguida.

— Não, está certo. Você falará tudo o que está marcado. Não é o usual, mas é inteligente.

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