Chovia do lado de fora da sala de aula. Àquela temperatura, a água se transformaria em granizo antes mesmo de chegar ao chão.
Eleanor assistia a mais uma aula de história, e Charlie faltara novamente.
A garota percebera que ele quase nunca assistia às aulas da Senhorita Hattaway.— Abram os livros na página quatrocentos e três - O som do folhear típico invade a sala. Capítulo onze. "A reforma" — Senhorita Rodriguez. Poderia, por favor, ler os quatro primeiros parágrafos?
E Eleanor começou:
"Quando Adion Livermoony chegou às terras hoje conhecidas por nós, livermonianos, a vida já era conhecida.
Alguns pequenos grupos nômades — que se dedicavam à caça e à colheita e deram início à indústria lítica — habitavam o local, bons exemplos seriam: os Legér, os Trintignant e os Lemaître. Mas isso foi realmente definido anos mais tarde, através de estudos baseados em pinturas feitas pelos grupos anteriormente mencionados. Adion Livermoony declarou a terra como desabitada em seus registros.Vindo do norte do continente europeu (Antiga Livermoony) Adion trazia consigo as técnicas da metalurgia, da olaria, da fabricação do vinho e sua conservação em barris. Antes de sua ascensão, o antigo imperador e sua corte viviam em casas construídas sobre estacas à margem dos lagos.
Adion Livermoony expandiu seu império com o tempo. E fora denominado "imperador" pelos próprios habitantes do local onde se instalou (equivalente ao território de Prait). Vivia uma vida feliz e repleta de privilégios juntamente com sua esposa, Aarya, e mais tarde, com seus filhos, Aleksi e Demian.
O parágrafo acabava sem um final concreto, o que era bastante frustrante.
— Obrigada, Senhorita Rodriguez. O que Eleanor acabou de ler é basicamente um grande resumo do que iremos estudar este ano: Como e porque Adion Livermoony se tornou imperador; a Guerra dos Dois Irmãos; o fenômeno que acabou com a vida no resto do mundo e porque somos sobreviventes a ele — Ah, se ela soubesse — e principalmente o que nos dividiu nas quatro classificações as quais somos acostumados: Verde, Marrom, Azul e Vermelho.
O sinal tocou. E Eleanor agradeceu aos céus. A matéria parecia bastante interessante, mas a história ainda não era atrativa, e talvez isso justificasse o seu mau humor.
Eleanor havia sobrado na sala, queria revisar algumas matérias. Surpreendentemente, Miller a acompanhou.
— Rodriguez… — Charlie chamou por Eleanor, quebrando o silêncio.
— Meu nome não é tão difícil de se pronunciar sabia? Eleanor. Está vendo? É simples.
— Charlie também não é complicado… — disse em um sussurro alto demais para não ser escutado.
— Então Charlie, diga. O que eu posso fazer por você?
— Ontem, quando eu fui entregar seu lanche, não pude deixar de reparar no seu jardim da frente . Talvez seja necessário aparar, não acha?
— Bem, sim. Você conhece alguém que possa fazer esse trabalho pra mim? — Eleanor perguntou enquanto juntava seus próprios materiais.
— Eu mesmo. Foi só uma ideia, você não precisa concordar…
Convenhamos, era uma boa oferta. Eleanor detestava aparar a grama, e ter alguém para fazer aquilo por ela soava muito bem.
— Eu adoraria. Está bom para você às sete? Tenho que ajudar com a Biblioteca.
— Podemos nos encontrar depois disso, se quiser.
— Assim você me guia. Não sou muito bom em me situar naquele lado da cidade — Apesar de soar nervoso, ele não se rendeu a olhar fixamente para seus olhos. Entre um momento e outro, Eleanor percebeu um quê de surpresa nos olhos azuis. No momento seguinte, não estava mais lá.
— Tudo bem. Acabo à quatro — Eleanor sorriu e respondeu finalmente. Por fim, se dirigiu para fora da sala de aula.
*
Não havia intervalo entre as aulas. Não encontraria Lily e Zach hoje.
Organizara toda sua agenda em sua cabeça. Era um dom bastante útil: Depois das aulas, regressaria para casa e almoçaria. Em seguida, passearia pela cidade, aproveitando seu tempo livre.
Mais tarde, voltaria para o colégio e ajudaria na biblioteca. No fim, voltaria com Miller para casa.*
Eleanor pretendia ir até a praça no centro da cidade. Ficava na rua atrás do colégio. Não era longe e era um lugar bastante bonito. Haviam árvores de porte médio e bancos em cima da grama. Alguns moradores de rua estavam comendo pães e bebendo leite. Não era muito, mas eles estavam felizes.
Se dirigiu até o outro lado da praça, onde tinham trailers de comida. Estavam fechados, e não havia ninguém por perto.
Ficou por ali por pouco mais de uma hora.
Quando se deu conta, já passava de uma hora da tarde. Foi um dia produtivo.
— Boa tarde, Senhora Bennett. O que temos pra hoje? – Eleanor entrou afobada e sorrindo. Estava muito empolgada com aquele trabalho.
— Vou deixá–la com as estantes hoje. Está tudo uma bagunça! Você pode organizá–las com essas plaquinhas
– Surpreendentemente eram as mesmas plaquinhas as quais ela estava completamente acostumada.— Soa perfeito!
Ela foi até as estantes, realmente estavam em completa desordem. Livros de ciência junto com livros infantis… Demoraria horas para acabar com tudo aquilo, o que era maravilhoso. Nada ocuparia sua mente além de quais títulos se encaixavam em cada prateleira.
Mais tarde, a Senhora Bennett lhe avisou para ir embora. Porém, ainda faltavam organizar os livros de
fantasia, ela tinha uma espécie de esperança sobre eles. Todos os outros estavam em seus devidos lugares.— Mas Senhora Bennett, ainda faltam esses… – Eleanor apontou para a pilha de livros apoiada em uma mesa.
— Você terá de voltar amanhã.
— Eu não tenho nada para fazer agora. Por favor, eu acabo rapidinho.
— Amanhã Senhorita Rodriguez. Amanhã.
A batalha estava perdida. Não havia o que fazer. Não podia fugir.
— Tudo bem. Até amanhã Senhora Bennett.
— Até, querida, até.
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Home by Eleanor -Maria Brandão
Fantasia|HOME BY ELEANOR| Eleanor, uma garota que entrou dentro de um livro pego em uma biblioteca, em um mundo onde pessoas eram divididas pela cor dos seus olhos: Vermelhos, Azuis, Marrons e Verdes. Assim, Eleanor se torna uma Marrom e deverá rapidamente...