Capítulo 9

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Eleanor marcava cada dia em um calendário. O outono estava no fim. E outubro também.
Lily e Zach haviam se tornado a melhor coisa que ela poderia desejar.
Os treinos das líderes de torcida exigiam cada vez mais dela. Sarah dividia as coreografias. As partes mais complicadas e que exigiam mais trabalho para executar ficavam sempre com Eleanor. Ela não poderia reclamar, tinha feito o teste por conta própria.
Então era realmente agradável quando lhe buscavam com o pequeno e velho carro azul de duas portas que Lily possuía.
Os testes acadêmicos haviam começado. Eleanor conseguia se sair bem na maior parte deles.
A ajuda na biblioteca era mais burocrática agora que a Senhora Bennet estava doente.
Charlie era um assunto complicado, talvez mais do que arranjar um jeito de voltar para sua dimensão.
Depois do acontecimento no jantar, nunca mais tiveram uma conversa além de cordial.
A ideia de explodir e contar toda a verdade para Lily e Zach passava por sua cabeça há alguns dias. Eleanor sabia que se contasse, eles duvidariam. Qualquer um, em sã consciência do que faz, duvidaria. Era óbvio. Mas ela não precisava que eles acreditassem. Bastava que ela tivesse alguém para poder dividir suas ideias. Bastava ter alguém que soubesse.
Sua cabeça estava a mil, quando batidas na porta soaram. Se levantou para atender. Era Charlie.
— Oi. Posso entrar? — perguntou. Parecia desesperado demais, e suas roupas estavam sujas de tinta.
— Pode, eu acho — Eleanor respondeu, de certa forma, desconfiada.
— Obrigado — Charlie entrou, fechando a porta. Seus sapatos estavam imundos. Não que Eleanor tenha percebido.
— Por que você está... — Ela se interrompeu, receava dizer algo errado — Não sei exatamente o que está acontecendo, mas, ao meu ver, parece que você está fugindo — disse com cautela.
Charlie respirou profundamente e passou as mãos pelo cabelo.
— Eu adoraria poder lhe contar tanta coisa, mas não é o momento. O caso é que enquanto estivermos aqui, estamos protegidos.
— Protegidos? De que exatamente? – Ele desviou o olhar para a porta dos fundos e foi até ali. Em seguida, trancou-a – Será que você pode me fazer o favor me explicar o porquê de você aparecer em minha casa no seu estado e fugindo?
— Eu já disse: não posso – Charlie se aproximou e tocou seu rosto. Eleanor não queria estar ali, mas também não se esquivou – Como eu queria que ficássemos juntos…– Ele olhou fixamente em seus olhos até ir até sair do seu transe e voltar a prestar atenção no que acontecia. Foi até uma das janelas.
— O que exatamente você quer dizer? — ela indagou. Não apreciava meias—verdades.
— Quero dizer que te amo, mas não poderia acontecer. Entende? — Se seus pais ouvissem aquilo, ficariam tão decepcionados. Tinham um lema, algo como não aceitar que uma pessoa qualquer a amasse.
Talvez, por isso tenha ficado tão tocada. Seus pais nunca lhe disseram “eu te amo”. Eleanor jamais tinha ouvido alguém dizer aquilo, não para ela.
Após uma última olhada na janela, ele saiu, sem explicar nada além. Típico.
Nem ao mesmo teve a oportunidade de responder.
Eleanor voltou a seus livros mesmo sabendo que não conseguiria prestar mais atenção. Ele a amava? A amava mesmo?
Como? Eles se conheciam a pouco mais de dois meses, e possuíam a relação mais distante existente.
Charlie Miller, o maior mistério de sua vida a amava. “Não poderia acontecer”. O que os impedia? Cores? Classe social? Hierarquia? Ou algo maior do que até onde a imaginação dela poderia ir.
Ele realmente a amava ou disse da boca pra fora?
Parecia sincero.

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