Zach
Houve um massacre.
Eleanor está sendo caçada e eu briguei com ela, ok.
Sarah terminou comigo alguns momentos antes, ok.
Estou indo até sua casa a pé neste momento, ok.
Caramba, é muito para raciocinar.
Longos minutos de caminhada me fazem refletir: deveria mesmo ir lá?
Sim, eu devo.
Bato na porta. Está de madrugada, não estranharia se nenhum empregado atendesse.
Sarah atende.
Ok, não estava em meus planos.
Ela olha para mim com olhos tristes. Ainda usa o vestido do baile. O de Eleanor claramente em um estado pior.
— Podemos conversar? — pergunto, soando idiota.
— Não. Não podemos — Sarah responde sem rodeios. A expressão outrora triste foi substituída por uma de indiferença.
— Vai ser rápido. — Sorrio, tentando aliviar o desconforto que pairava no ar. Em resposta, ela tenta fechar a porta, o que impeço com um movimento hábil do meu pé.
Sarah abre a porta novamente, suspira e diz:
— Entre e seja breve.
Adentro o corredor da sala e ela me guia até a cozinha. Um lugar estranho para trazer alguém, ouso dizer.
— Ninguém poderá ouvir aqui. Diga o que quer. — Cruza os braços e se apoia em uma bancada.
— Você sabe o que é — acuso, ainda sorrindo.
— Sim, eu sei. Tinha esperança de que fosse algo mais importante. — Sarah passa as mãos no cabelo e esfrega os olhos, em seguida bate o pé no chão, impaciente.
— Eu te amo, Mon Ange . Não entendi o que aconteceu na festa, mas agora eu entendo. Sei que está arrependida de sua atitude e...
— Não — Ela interrompe — Não me arrependo e não, você não me ama. Isso é muito forte para dizer, sabia? Portanto, posso facilmente dizer que não te amo. Muito longe disso.
— Não é verdade. Você sabe que não é. Podemos simplesmente fingir que isso não aconteceu e seguir em frente. O que acha? — Tento me aproximar, mas ela se afasta. Então paro e lhe dou o devido espaço.
Sarah passa as mãos no cabelo de novo. Vejo um arranhão no antebraço com esse movimento.
— Essa situação inteira é vergonhosa! — Os olhos dela lacrimejaram e uma lágrima solitária caiu por sua bochecha. Não me sentia preparado, nunca havia visto ela chorar antes. — Não gosto de você e essa relação inteira é ridícula.
Mais e mais lágrimas, que me fazem desejar nunca ter vindo aqui.
— Ei, não foi minha intenção... Não quis fazê—la chorar, sinto muito. — Dou um passo à frente, como ela não põe objeções, continuei até chegar perto. Lhe abraço. E ela chora, e soluça. — Me escute, eu te amo Sarah...
— Por favor, pare — ela interrompe de novo e se afasta para perto da despensa — Pare de dizer isso. Pare! Você não me ama! — Sarah dizia isso com desespero extremo. Não queria que eu a amasse.
— Por que é tão ruim? Qual é o problema? — pergunto, claramente preocupado com a resposta. — Você é muito boa, Sarah. Muito boa mesmo. Mas precisamos ter confiança.
As lágrimas param de rolar. E ela me olha com confiança
— Porque você é Azul, ok? Não quero alguém inútil ao meu lado. Agora, saia já da minha casa. E, preferivelmente, não volte mais. Pare de gastar o tempo que não tenho.
No momento, achei que não poderia ouvir nada pior do que isso. Mas bem, as coisas mudam, e há sim coisas piores do que isso.
Hoje, não penso que doeu ter ouvido aquelas palavras — você se acostuma com o tempo — mas sim quem as disse.
— Tudo bem. Se é o que você quer.
Saio da cozinha e posso jurar ter ouvido mais soluços. Até penso, mas não volto para olhar.
Abro a porta da frente hesitante e de repente não estou mais na Residência Livermoony. E sim, na casa de Eleanor. Hoje, provavelmente inexiste. Não voltei para ver como ficou, nem tenho curiosidade.
O corpo de Lily arde em chamas, o cabelo ruivo queimando, a carne humana quase como um bife. Me aproximo para apagar as chamas com a água de um vaso. Pelo visto, a água tinha efeito de álcool. As chamas, antes queimando em Lily apenas, se espalham pela casa de Eleanor. O teto queima, o lustre cai e as labaredas vêm em minha direção. Tento me mover, mas a figura morta—viva de Eleanor agarra minha perna e as chamas chegam. E eu, acordo.
Outro sonho, quase uma hábito. É impressionante como conseguem ser cada vez piores.
Olho o relógio, seis da manhã. Não tenho trabalho hoje. Seria perda de tempo me levantar agora, porém não tenho mais sono.
Me sento na cama bocejando e batidas ecoam na porta do trailer. Quem poderia ser à essa hora?
Passo os dedos no cabelo, tentando ficar apresentável e atendo.
Homens de terno, nunca é um bom sinal.
São dois, ambos Marrons, com uma boa diferença de altura.
— A Primogênita, filha de Alastair Livermoony — seu governante — Senhorita Sarah Livermoony, requisita a presença de Zacharias Carter imediatamente na Câmara do Conselho — o homem da frente, e mais baixo, diz.
A frase inteira não parece fazer sentido.
— Agora? Digo, não posso ir agora. Estou com crianças aqui e não apareceria na Câmara do Conselho vestindo um pijama — respondo.
— Não é nosso trabalho saber disso. Estamos apenas seguindo ordens — O mesmo homem prossegue.
— Não seria bom deixá—lo ao menos se trocar, Senhor? Não demorará mais que alguns minutos e não acho que o Senhor Livermoony gostaria de ver alguém chegar lá, assim muito menos hoje — O outro diz.
O primeiro homem parece pensar um pouco. Finalmente diz:
— Você tem exatos dez minutos.
Vou para dentro e tento me arrumar o mais rápido possível. Deixo o café da manhã pronto para Emma e Will e um recado colado na geladeira dizendo: "Tive que sair. Há frutas e suco para o café da manhã na geladeira". Saio do trailer e os dois homens me guiam para um carro. O chão da rua molhado pela água de chuva do dia anterior.
Não gosto muito de ter que ir para qualquer lugar a essa hora e gosto menos ainda de ter que ir neste lugar específico. Infelizmente não há como negar uma Requisição séria. O que eu certamente faria, se pudesse. Não sou uma das cadelinhas afinal.
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Home by Eleanor -Maria Brandão
Fantasía|HOME BY ELEANOR| Eleanor, uma garota que entrou dentro de um livro pego em uma biblioteca, em um mundo onde pessoas eram divididas pela cor dos seus olhos: Vermelhos, Azuis, Marrons e Verdes. Assim, Eleanor se torna uma Marrom e deverá rapidamente...