Capítulo Quatro

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Eleanor

Há exatamente quatro dias. Quatro infinitos dias. Estou mais ocupada do que jamais imaginei poder. Meus dias se resumem em estudar e ler. Já fui mais produtiva. Livermoony: Uma história fantástica é o pior livro que eu já li. Nunca fui a maior fã de História, mas poderia ser apenas um pouco menos enrolado: a leitura é tão chata e arrastada que demorei horas para terminar apenas cinquenta páginas. Até agora só aprendi que uma guerra aconteceu entre dois irmãos e o nome de sete reinos nunca citados em nenhuma aula que eu tive em Livermoony por quatro meses.

Livermoony, Lupinem, Fey, Miftim, Komets, Profanum e Thano.

Os nomes ecoam em minha cabeça a cada segundo, me agonia não conseguir entender nada que acontece.

É só mais um dia sabendo que não vou encontrar nenhum deles aqui. Dói olhar para Zion e Alira, dói encontrar Charlie em um corredor qualquer e não poder olhar nos olhos deles. Não sou próxima de nenhum e não posso ser. Enlouqueceria procurando por detalhes. Detalhes a serem consertados. Porque Zach não teria as mesmas atitudes de Zion. E Sarah não faria algo que Alira absolutamente poderia fazer.

Charlie é igual ao original sem esforço algum, mas Alira e Zion são pura aparência, não há nada que seja semelhante à Zach e Sarah. Posso saber, mesmo sem termos convivido muito.

Participo do Jornal da Classe há um bom tempo. Em tantos anos, fui promovida à Editora Chefe. Como é o começo do ano letivo, uma papelada enorme me aguarda. Para resolver tudo o mais rápido possível, aproveito os minutos que tenho antes das aulas, adentro a sala escura onde o jornal é feito e pego meus papéis. De soslaio vejo uma figura excêntrica. A garota da biblioteca. Seu cabelo loiro, quase branco, caía no rosto por estar com a cabeça baixa, lendo.

— Com licença, preciso fechar a sala. Você poderia, por favor, se retirar?

Sem explosões. Bom trabalho. Minha mente sussurra. Nesse ponto já não me é mais incômodo.

— Eu sou Editora Chefe, posso ficar por quanto tempo quiser. – Ela levanta a cabeça e me olha com seus grandes olhos de tempestade. — A menos que tenha algo a resolver aqui, você deveria se retirar.

Mantenha o controle, você sabe que faria a mesma coisa.

— Desculpe, acho que você se confundiu, eu sou a Editora Chefe.

Ela me olha cinicamente e sorri.

— Vamos dividir o cargo este ano. Ninguém lhe avisou?

Movo—me para pegar seu pulso, com agilidade já reconhecida por mim. Porém ela rapidamente move a mão para a têmpora, me olhando como louca e outra mão segura a minha, ainda no ar. Viro—me e me deparo com uma moça de pele negra quente e cabelo cacheado preto, não olho em seus olhos para distinguir a cor. Alira vem até nós em passadas rápidas.

— O que está acontecendo? — Ela pergunta a mim e à loira.

— Está tudo bem, Alira. Foi minha culpa, Eleanor não sabia que dividimos o cargo do Jornal. Erro meu e do meu talento para arranjar confusão. – Se levanta e pega seu livro ao dizer. Não gosto dela.

Alira me olha dos pés à cabeça, como se estivesse olhando por dentro da minha alma. Pela primeira vez, vi algo de Sarah nela, bem rapidamente.

— Que bom que entendeu. Espero que não se repita. – Sento—me onde ela estava e observo o que quer que esteja à minha frente. Pelo canto do olho, vejo Alira dar uma risadinha breve. Os olhos e o sorriso são assustadoramente iguais.

A moça à minha frente não se move em momento algum. Não é professora, é nova demais. Não é aluna, não usa o uniforme da escola.

— Sabe quem é ela? – pergunto para a mulher enquanto ela me encara.

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