Capítulo 26

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Passou a noite em claro. Não sentia sono, então não fazia diferença.

Amanhecia, a casa estava em completo silêncio, exceto por pássaros que estavam no jardim. Resolveu ir até lá, ler sob a luz do sol era ótimo.

Se sentou no banquinho, a neve se derretia aos poucos, os raios de sol batiam delicadamente em seu rosto. Era bom se distrair diante de tudo que aconteceu.

— Psiu, Eleanor! – Alguém a chamava, mas ninguém estava lá.

Olhou para os lados. Nada. Voltou os olhos para seu livro.

— Eleanor!

O ruído parecia vir da casinha de ferramentas. Se levantou com cuidado e foi até lá. Abriu a porta de metal.

— Você está bem! Graças aos céus! – Charlie disparou falando baixo.

— O que raios você faz aqui? — a garota indagou.

— Eu queria adiar mas não é mais possível. Você precisa voltar.

— Do que você está falando? Pare com esses enigmas e me explique — Eleanor disse, fingindo não entender. Claro que ele sabia.

— Você não precisa fingir. Não para mim. Sei que não é de Livermoony.

— Como você sabe? – disse em um tom baixo.

— Bem, é uma longa história, mas se resume em eu ter achado um livro em uma biblioteca pública.

Não era real, não era real, estava sonhando. Ela dizia em sua mente.
Mas obviamente era real.

— Aconteceu assim comigo também... Admitiu.

— Sério? Eu sei como você pode voltar! Precisamos ir agora.

Charlie tentou puxá–la para fora do pequeno galpão, mas ela permaneceu imóvel.

— Você ainda não respondeu... Como você sabe?

Eleanor repetiu a pergunta.

Em contrapartida, Charlie suspirou.

— Nos conhecemos lá, éramos apaixonados, mas eu precisei voltar.

“Quando eu te vi pela primeira vez, — ele continuou — achei que estava sonhando. Tentei me aproximar da mesma forma que fiz na primeira vez. Doía tanto conversar com você e saber que você não lembrava de nada. Eu apenas queria dizer para o mundo o quanto eu te amava, e então, como em uma onda de azar, todos os Vermelhos cismaram com você. Querem te ver morta a todo custo, eu sabia que se me aproximasse as consequências seriam caras, e me escolheram. Não poderia matá–la, e eles sabiam disso."

Eles já se conheciam, tudo fazia sentido agora. Ele não se apaixonou subitamente.

Eleanor acreditava e confiava em suas palavras. Um grande erro, posso dizer.
Charlie é um Vermelho.

Novamente, ele tentou puxá–la para fora. E mais uma vez, uma tentativa falha.

— Para onde exatamente iremos? — Eleanor perguntou. Ao menos teve o bom senso de perceber que não poderia sair assim, sem mais nem menos.

— Vamos até a biblioteca pública da cidade, e o problema se encontra bem aí.

Charlie continuava falando de uma maneira que ela não poderia entender. Por que era perigoso?

— O que quer dizer?

— Fica em território vermelho. O portal é guardado ali. Então não temos escolha.

— Temos sim: ficamos aqui e não saímos — ela sugeriu.

Não parecia certo sair dali agora. Não queria ter que ir embora. Não queria que a magia acabasse.

— Você ainda não entendeu que corre perigo mortal? — Charlie disse, parecendo impaciente. Em seguida fechou os olhos e respirou profundamente – Precisamos ir, Eleanor.

— Não posso sair daqui — ela disse, soando como uma criança assustada.

— Virão aqui hoje e matarão todos — ele explicou — Prefere isso do que simplesmente fazer tudo voltar a ser como era antes de você chegar?

Não podia ocasionar mais mortes. Não podia sair de Livermoony.

— Eu não quero ir! Eu amo esse lugar. Eu amo as pessoas daqui. – Sentiu vontade de chorar. Charlie a abraçou.

— Por favor, precisamos ir.

A garota pensou por um momento. Tudo mudaria dependendo de sua decisão.

— Tudo bem. — cedeu — Vou apenas me despedir de Lily e Zach. Eles sabem de tudo.

— Não dá tempo. Chegarão em torno de uma hora, esse é o tempo que precisaremos para chegar ao lado Sul.

São três opções, a garota pensou: daria tudo certo e ela voltaria para sua incrivelmente terrível realidade;
O plano de Charlie daria errado e ambos morreriam pelas mãos de centenas de Vermelhos;
Ou todos morreriam se ficassem ali.
Não havia tempo suficiente para decidir. Não havia o que ser escolhido.

— Nenhum de vocês lembrará de mim, certo?

— Não. Infelizmente não poderemos lembrar o quanto você fez bem para todos — Charlie respondeu.

— Vamos.

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