Capítulo Vinte e Dois

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Zach

Eu realmente amei aquela garota.

E sempre, verdadeiramente, e completamente, amarei.

Mas ela jamais me amou de volta.

Percebo enquanto ela fala. Os olhos verdes penetrantes fazem um bom trabalho se mesclando com a voz falha.

Sarah tenta não chorar, observo.

Não tinha como me manter bravo com ela. Digo, ela acabou de perder a irmã, juntamente com a mãe.

Pretendo contá—la sobre a origem de Eleanor, talvez ela possa ajudar a encontrá—la.

Alastair Livermoony diz sua parte do discurso. Ele não se renderia aos Vermelhos. Como poderia?

As câmeras desligam. Sarah suspira e relaxa os ombros. Vejo uma lágrima solitária escorrer por sua bochecha. Ela vem até mim.

— Gostou do espetáculo? — Era uma pergunta retórica, eu sabia.

— Podemos conversar? — pergunto, depois de uma pausa. Percebi vários pares de olhos me encarando. Incluindo os do governante. Com toda certeza não era uma sensação agradável.

— Claro. — Sarah pega uma maçã de uma cesta posta sobre a longa mesa em uma das pontas da sala, e joga outra para mim.

Fazemos menção à sair da sala. Ainda posso sentir olhos me encarando. Quando Sarah toca a maçaneta da porta, uma voz rouca e grossa diz:

— Filha, não vai me apresentar seu amigo? — É como se voltasse a ter quatorze anos. E consegue ser ainda mais embaraçoso. Ele é o governante. É um Verde. Durante toda minha vida fui ensinado que pessoas como ele eram superiores. Que eu deveria beijar o chão onde ele pisa.

Aquela sala estava lotada de pessoas que eu jamais vira, e que jamais verei novamente. Impressionantemente todas elas pareciam mais interessadas em mim do que em seus próprios trabalhos.

Sarah olha para mim, e como em um pedido de desculpas, segura meu ombro. Nem mesmo ela pode dizer não à Alastair Livermoony.

Andamos até ficarmos próximos do governante. Ele estica sua mão, devo segurá—la? Não sei. A encaro por tempo demais, o que justifica a cotovelada de Sarah.

Aperto a mão enrugada de Alastair.

Sinto que devo dizer algo, mas não tenho certeza do quê.

Opto pelo básico:

— Sou Zach... — Não, sou Zacharias Carter. — É um prazer conhecê—lo, Senhor Livermoony.

— O prazer é meu, rapaz. Então, de onde se conhecem? — Posso não entender muito de política, mas aquele homem à minha frente sabia como abusar de seu poder.

— Zach é da minha turma da escola — atendendo às minhas silenciosas preces, Sarah responde. — De qualquer forma, temos muito a tratar. Com licença, pai. — E me puxa para fora da sala. Dessa vez, saímos sem interrupções.

Seguimos por um caminho diferente da primeira vez. E entramos em uma sala diferente. Maior e, de certa forma, mais arejada.

Me sinto um imbecil.

— Eu sinto tanto, Zach. Sinto muito mesmo. Não fazia ideia de que ele faria isso... — Sarah continuaria se lamentando, então a interrompo.

— Tá tudo bem, de verdade. Seu pai ainda é um pai. Não importa, mesmo.

— Melhor assim. — Ela me encara por alguns segundos. — Então, o que queria falar comigo?

— Ah, isso. É meio estúpido, mas achei que você deveria saber: Eleanor não é de Livermoony. Ela vem de um desses Reinos que você falou mais cedo. Não sei qual deles.

Sarah suspira, parecendo genuinamente esgotada. Não entendo, não sabia que elas eram tão próximas.

— Eleanor nunca me contou. — Ela põe o rosto entre as mãos. Quando penso em fazer algo para ajudar, Sarah abre um sorriso.

— Está tudo bem? — indago.

— Sim. — Ela para e olha que mim de novo. — Quero te propor algo: o que acha de ir comigo para os Reinos? Não seria legal? Acabar com os Vermelhos? E talvez até encontrar Eleanor?

Minha animação acabou ali. Não podia ir. Meus irmãos ficariam com quem? Não ousaria deixá—los sozinhos com Aureste à espreita.

Existem muitas garotas no mundo, mas só um Will, e só uma Emma.

— Eu adoraria, Sarah, mas não posso. Tenho Will e Emma para cuidar e...

— Pois então! É justamente por eles que eu estou oferecendo. Enquanto você presta serviços à mim, eu me disponibilizo a pagar ensino na rede privada à ambos. E durante a viagem, eles poderão ficar na Residência Livermoony, de bom grado.

Fecho os olhos, tentando raciocinar.

Era uma oferta realmente tentadora, mas a única coisa em que conseguia pensar era: "Vou morrer e eles terão que viver com Aureste"

— Sarah, sinto muito, mas não posso — respondo, andando até a porta.

Ela respira profundamente de novo. E então, sorri.

— Eu entendo. — Sim, ela entendia.

— Preciso voltar para casa agora. Tudo bem por você? — pergunto, tendo cuidado com as palavras.

— Sim, com certeza. Vou pedir para alguém te levar. — Sarah abre a porta antes de mim e me guia até a saída da Câmara.

Não marcamos de nos falarmos novamente.

Ainda é possível dizer não à Sarah Livermoony. Por enquanto é.


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