Zach
Eu realmente amei aquela garota.
E sempre, verdadeiramente, e completamente, amarei.
Mas ela jamais me amou de volta.
Percebo enquanto ela fala. Os olhos verdes penetrantes fazem um bom trabalho se mesclando com a voz falha.
Sarah tenta não chorar, observo.
Não tinha como me manter bravo com ela. Digo, ela acabou de perder a irmã, juntamente com a mãe.
Pretendo contá—la sobre a origem de Eleanor, talvez ela possa ajudar a encontrá—la.
Alastair Livermoony diz sua parte do discurso. Ele não se renderia aos Vermelhos. Como poderia?
As câmeras desligam. Sarah suspira e relaxa os ombros. Vejo uma lágrima solitária escorrer por sua bochecha. Ela vem até mim.
— Gostou do espetáculo? — Era uma pergunta retórica, eu sabia.
— Podemos conversar? — pergunto, depois de uma pausa. Percebi vários pares de olhos me encarando. Incluindo os do governante. Com toda certeza não era uma sensação agradável.
— Claro. — Sarah pega uma maçã de uma cesta posta sobre a longa mesa em uma das pontas da sala, e joga outra para mim.
Fazemos menção à sair da sala. Ainda posso sentir olhos me encarando. Quando Sarah toca a maçaneta da porta, uma voz rouca e grossa diz:
— Filha, não vai me apresentar seu amigo? — É como se voltasse a ter quatorze anos. E consegue ser ainda mais embaraçoso. Ele é o governante. É um Verde. Durante toda minha vida fui ensinado que pessoas como ele eram superiores. Que eu deveria beijar o chão onde ele pisa.
Aquela sala estava lotada de pessoas que eu jamais vira, e que jamais verei novamente. Impressionantemente todas elas pareciam mais interessadas em mim do que em seus próprios trabalhos.
Sarah olha para mim, e como em um pedido de desculpas, segura meu ombro. Nem mesmo ela pode dizer não à Alastair Livermoony.
Andamos até ficarmos próximos do governante. Ele estica sua mão, devo segurá—la? Não sei. A encaro por tempo demais, o que justifica a cotovelada de Sarah.
Aperto a mão enrugada de Alastair.
Sinto que devo dizer algo, mas não tenho certeza do quê.
Opto pelo básico:
— Sou Zach... — Não, sou Zacharias Carter. — É um prazer conhecê—lo, Senhor Livermoony.
— O prazer é meu, rapaz. Então, de onde se conhecem? — Posso não entender muito de política, mas aquele homem à minha frente sabia como abusar de seu poder.
— Zach é da minha turma da escola — atendendo às minhas silenciosas preces, Sarah responde. — De qualquer forma, temos muito a tratar. Com licença, pai. — E me puxa para fora da sala. Dessa vez, saímos sem interrupções.
Seguimos por um caminho diferente da primeira vez. E entramos em uma sala diferente. Maior e, de certa forma, mais arejada.
Me sinto um imbecil.
— Eu sinto tanto, Zach. Sinto muito mesmo. Não fazia ideia de que ele faria isso... — Sarah continuaria se lamentando, então a interrompo.
— Tá tudo bem, de verdade. Seu pai ainda é um pai. Não importa, mesmo.
— Melhor assim. — Ela me encara por alguns segundos. — Então, o que queria falar comigo?
— Ah, isso. É meio estúpido, mas achei que você deveria saber: Eleanor não é de Livermoony. Ela vem de um desses Reinos que você falou mais cedo. Não sei qual deles.
Sarah suspira, parecendo genuinamente esgotada. Não entendo, não sabia que elas eram tão próximas.
— Eleanor nunca me contou. — Ela põe o rosto entre as mãos. Quando penso em fazer algo para ajudar, Sarah abre um sorriso.
— Está tudo bem? — indago.
— Sim. — Ela para e olha que mim de novo. — Quero te propor algo: o que acha de ir comigo para os Reinos? Não seria legal? Acabar com os Vermelhos? E talvez até encontrar Eleanor?
Minha animação acabou ali. Não podia ir. Meus irmãos ficariam com quem? Não ousaria deixá—los sozinhos com Aureste à espreita.
Existem muitas garotas no mundo, mas só um Will, e só uma Emma.
— Eu adoraria, Sarah, mas não posso. Tenho Will e Emma para cuidar e...
— Pois então! É justamente por eles que eu estou oferecendo. Enquanto você presta serviços à mim, eu me disponibilizo a pagar ensino na rede privada à ambos. E durante a viagem, eles poderão ficar na Residência Livermoony, de bom grado.
Fecho os olhos, tentando raciocinar.
Era uma oferta realmente tentadora, mas a única coisa em que conseguia pensar era: "Vou morrer e eles terão que viver com Aureste"
— Sarah, sinto muito, mas não posso — respondo, andando até a porta.
Ela respira profundamente de novo. E então, sorri.
— Eu entendo. — Sim, ela entendia.
— Preciso voltar para casa agora. Tudo bem por você? — pergunto, tendo cuidado com as palavras.
— Sim, com certeza. Vou pedir para alguém te levar. — Sarah abre a porta antes de mim e me guia até a saída da Câmara.
Não marcamos de nos falarmos novamente.
Ainda é possível dizer não à Sarah Livermoony. Por enquanto é.
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Home by Eleanor -Maria Brandão
Fantasía|HOME BY ELEANOR| Eleanor, uma garota que entrou dentro de um livro pego em uma biblioteca, em um mundo onde pessoas eram divididas pela cor dos seus olhos: Vermelhos, Azuis, Marrons e Verdes. Assim, Eleanor se torna uma Marrom e deverá rapidamente...