Era um prédio erigido em juscelinas eras.
Não tinha o ar vetusto das construções seculares que persistiam em abrigar estabelecimentos por aquelas plagas e as grades que o circundavam lhe conferiam uma aura de austeridade que oprimia mais a percepção de quem observava do que aquele que o habitava.
Esta arquitetura peculiar abrigava a mais variada fauna pedagógica:
Sisudos bastiões de uma permanentemente afrontada dignidade docente;
Simpáticas senhorinhas de conservadores modos a desfilar por passadiços, sempre abraçadas a livros, cadernos e calhamaços de almaços;
Púberes aprendizes, alguns insolentes, outros em sincero esforço em aprender e um sobejo apenas pondo em prática o que não aprenderam em casa e cujos pais delegaram à estrutura a responsabilidade que lhes cabiam;
Adolescentes em joculares vestes, cortes de cabelo esdrúxulos e trejeitos estereotipados que não os definiam, porém os identificavam com as respectivas vertentes estéticas em voga;
Onipresentes barnabés toureando fluxos de gente ao léu dos interesses da estrutura.
Tudo contribuindo para a alternância dos burburinhos e pontuais calmarias afeitas à atividade que ali se produzia.
Era um prédio em uso em contemporâneas eras.
E ainda o seria em futuras e vanguardistas eras.
Porém...
Os sisudos bastiões cederão à obsolescência e vergarão os modos ante as birras dos filhos de seus filhos;
As simpáticas senhorinhas um dia irão desfilar sua simpatia em passadiços menos formais;
Púberes aprendizes ainda o seriam pelo resto de suas vidas, cada vez menos jovens, cada vez mais safos, mas não necessariamente mais sábios;
Adolescentes trejeitosos seriam um dia, pais, professores, policiais, serventes, políticos, vagabundos ou coisa que o valha, cada qual em seu papel social, ainda que muitas vezes um mero arremedo de promessa nunca levada a termo;
Barnabés, como tudo que cede à marcha inexorável do tempo, um dia serão esmaecentes lembranças, até que um dia nem isso sejam mais.
Mas o orgulho, o despeito, o ranço, a inveja, os sentimentos menores?
Esses meu caro, serão os primeiros a fenecer.
Não sobreviverão quais o austero prédio que os abrigou.
E quem não optar em carregá-los quais rotos defuntos pela vida até que sejam definitivamente sua companhia para o porvir definitivo, certamente será mais feliz enquanto vivo e sobre duas pernas