O último trago dele coincidiu com o derrame da última gota de vinho na taça dela.
Baco já os tinha acolhido, abençoado e agora esconjurado, tal volúpia etílica compartilhada pelos consortes naquela sacal noite de terça-feira.
Ao esgotar o assunto, assim como o combustível engarrafado de seus absurdos, os olhares atravessaram a mesa de plástico branco, chispando convites entre as pálpebras pesadas de um e outra.
Em impulsos mútuos se puseram em pé com o apoio da mesa, depois da parede e por fim, do abraço que os esperava com sofreguidão.
Como muletas compartilhadas, os corpos rumaram, trôpegos e unidos, para o cubículo que os aguardava com finalidade de alcova.
E assim, entre esbarrões na mobília e topadas com as quinas do interminável corredor, deixaram-se prostrar no catre do cubículo, amontoados como fardos jogados ao acaso.
A ébria se prostrou de costas, com a saia caprichosamente levantada até o pescoço, deixando vislumbrar um hirsuto caminho de vênus, que como rombuda seta, rumava ao sul do corpo até se ocultar numa mínima lingerie de algodão estampado com pimentas rubras.
Caprichosamente, o rosto do bêbado aconchegou-se no portentoso e exposto ventre, onde a tez, os pelos, e o vislumbre do caminho eram um convite ao êxtase.
Atiçado pela luxúria, pôs-se a, lentamente, descer o rosto no sentido dos pelos, fazendo malabarismos com os lábios, como se serpenteasse numa trilha sinuosa.
Os vapores etílicos turvavam sua percepção, gerando um embate entre a lascívia e o torpor.
Resistindo bravamente aos efeitos dos embriaguez, chegou finalmente à fronteira entre a pele e o tecido, porém todo esforço motivado pela guerra entre a volúpia e a modorra o venceu, fazendo com que desfalecesse nos braços de Morfeu, babando na lingerie.
Seu fracasso na devassidão foi compartilhado pela parceira, que desde a derrocada no leito, se encontrava no deleite onírico do sono absoluto.
Menos mal que haveria outros encontros, outros porres homéricos e outras oportunidades que não terminassem em sono e calcinha molhada de saliva.