Naufrágio

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Ele a fitava, olhando para o mar.
_Quero ter-te de novo. Você me conhece e sabe do meu desejo - disse-lhe ela.
_Você é perfeita demais para que alguém diga que te merece, ainda que quem diga seja você mesma. E isso não é ruim, apenas significa que você é mar revolto e sou uma jangada - ele respondeu.
_Então imerja em mim; seja o naufrágio que acolherei nas profundezas do mar de lágrimas que minha saudade criou.
_Ao risco dos vagalhões levarem os destroços do meu ser a praias que não sejam seus braços, para que a areia de seus litorais profanem o que nasceu para ser seu?
_O risco da perda daquilo que pode ser meu, vale um instante que seja de seu singrar em minha superfície ávida dos carinhos de sua proa. Capitaneia-me, meu marujo.
E num mergulhar de cabeça, abandonando a frágil segurança da madeira sob seus pés, ele se atirou nos braços de sua sereia, qual tritão em volúpia, ressurreto em forma e essência, compartilhando sua verdadeira natureza com o par há muito desgarrado.
E num estreito abraço de corpos e lábios colados, deixaram se levar pelo morno e errático fluido, rumo à imensidão e às profundezas que seriam seu lar derradeiro.

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