Desligou o abajur e se recolheu à cama, refúgio de sua rotina ou como preferia imaginar, verdugo dos dias e berço que embalava as noites.
E assim como sempre, antes que o sono o abatesse toldando a consciência, começou a desfiar seu rosário de súplicas ao ser supremo.
Pediu saúde aos milhões de doentes e esperança aos tantos moribundos que jaziam nos leitos, por todo o mundo.
Suplicou pelo fim de todas as guerras e conflitos que dizimavam a humanidade em toda a extensão do planeta.
Clamou por todas as panelas, pratos e barrigas vazias que pontuavam invisíveis, a desigualdade entre as gentes.
Intercedeu pelas tantas crianças e mulheres abusadas, espancadas e mortas, pelas ruas e dentro das residências, por toda parte.
Reservou o fecho para aqueles muitos que não tinham moradia, que eram vítimas de incêndios, tsunamis, vulcões, terremotos, inundações, secas e todas as intempéries naturais que se abatiam sobre os seres viventes.
Virou-se de lado, rendendo-se ao peso que cerrava suas pálpebras, não sem antes sussurrar para si, antes de enfim, desfalecer:
Deus é pai.