Pegou o telefone, digitou o número de sempre para a saudação de todo dia, tão comum como um desjejum qualquer.
"Bom dia, princesa!" - empostou a voz, meloso - "Anime este bruto. Diga pra mim: o que sou pra você?"
"Bom dia, amor! Você é o ar que eu respiro, sem você eu não vivo", replicou preguiçosamente a amada, em descompromissada cumplicidade.
"Te amo! Fica bem! Se cuida! A gente se fala! Beijão!" - despediu-se apresssado, o mancebo.
"Te amo mais, se cuida também, beijo! - finalizou a detentora do afeto recebido.
O telefone da moçoila torna a tocar. Ela sorri enquanto confere o número na tela e atende com inegável entusiasmo, contido num sussurro: "Bom dia! Pensei que tinha me esquecido."
O interlocutor, ignorando a saudação, vai direto ao assunto: "Hoje dá?"
Ao que lhe é replicado: "Meio-dia, no lugar de sempre."
Um toque simultâneo de dedos em botões, encerrando a ligação, fez as vezes de despedida.
Ela guardou o telefone na bolsa, pegou a chave do carro, abriu a porta e rumou a mais um dia de labuta, não sem antes grasnar em direção ao quarto de dormir: "Amor, tô indo. O café está na mesa".