"Olhe por onde anda!"
Talvez o aviso, proferido em tom de ameaça, com um incompreensível resfolego por parte do emissor, tenha ocasionado menos prontidão que o gestual utilizado para evitar um eventual esbarro.
Será que a necessidade de um espaço físico entre as pessoas, que garanta o distanciamento entre existências inconvenientes, justificaria tal desconforto?
Porventura alguma vivência entre os protagonistas, de mim olvidada, pudesse significar a hostilidade, quem sabe?
Até uma neurastenia patológica que gerasse ao portador uma indisposição para interações fortuitas, por mais involuntárias que fossem, daria sentido à misantropia fugaz.
Num exercício de empatia e situando-me no contexto de uma conjuntura de pandemia, enxerguei-me não como um anteparo biológico que se interpusesse entre um cidadão e seu direito de ir e vir, mas como possível vetor de uma praga que, por distração, representasse ameaça à existência dos transeuntes.
Findos estranhamento e consequente reflexão, deixei os sacos no chão, em dúvida se deveria estar dentro deles.
Da próxima vez, terei mais cuidado ao deixar o lixo na frente de casa.