Sinfonia átona

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Enquanto caminhava, ocioso a tentar me libertar do jugo da racionalidade, vi-me absorto em sentimentos, muito mais que em pensamentos.
Sentia o sol fustigante a dourar-me o dorso; sons de aves e insetos pondo meus tímpanos a vibrar, o vento, qual um suspiro etéreo a acariciar minha tez; o suor a singrar minha face em micro rios que a um incauto que observasse, poderia se confundir com lágrimas; os pés descalços a oprimir a relva, roçando ervas daninhas à medida em que as foices de meus dedos se moviam adiante.
O silêncio que não havia na natureza era abundante em meu íntimo e nessa sinfonia átona, mais imponente que o maciço pétreo a obstruir o horizonte, urgia a compreensão do que me movia na direção de um qualquer lugar chamado "encontrar-me".
Com o mar sereno interior a toldar a percepção da confusa cacofonia do arrabalde distante, o toque de suaves dedos em meu ombro despertou-me com a sutileza de uma hecatombe.
Era você.
Encontrei-me enfim.

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