Café e Cevada

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Em uma manhã de segunda-feira, na padaria de sempre, os colegas se encontram antes de iniciar o batente.
_Passe o açúcar. De amarga basta a vida, quanto mais café.
_Ficou louco? Você é diabético.
_E essa cerveja aí, às sete da manhã? Também mata e é amarga como café sem açúcar.
_Amigo, não sou mais casado justamente porque não gosto que deem pitaco nos meus gostos. E olha que minha ex-mulher tinha xana. Você, nem isso.
_Coleguinha, você que me encheu o raio do saco quando te pedi o açúcar. Está explicado porque a gostosa da sua ex-mulher te trocou pelo ascensorista. Você é chato demais.
_Bicho, perder mulher pra ascensorista pouco me afeta. Triste seria perdê-la para um folgado que não presta nem para adoçar o café sozinho.
_Você não precisa de mim para ser corno, brother. Basta arranjar uma mulher e esperar o dia seguinte para ela te trocar pelo primeiro cara que cruzasse o caminho, não por escolha, mas por necessidade.
_Pode até ser, mas pelo menos eu não sou um inútil que precisa que o amigo o apresente para as garotas porque tem vergonha de puxar conversa. E depois tenha que ouvir suas queixas após broxar pela centésima vez.
_Pois se eu soubesse que você era esse ingrato falastrão, jamais aceitaria ser padrinho de seu casamento. Aliás, quando encontrar sua ex, vou pedir desculpas por não tê-la avisado da fria em que ela estava se metendo.
Os quase ex-amigos se calam, fitam entre si olhares coléricos,  levantam-se num ímpeto agressivo, esbarrando na mesa e derrubando as vítimas da vez: a cerveja e o café amargo.
Olhares assustados dos demais clientes censuraram, assustados, o entrevero que se anunciava, até que o diabético abraçou o corno, que receptivo ao afago, respondeu entredentes:
_Cara, as mulheres não prestam. O que vale é a amizade.
_Você tem razão. Bora então? Hoje, eu pago.
E seguiram felizes para o trampo, certos que desilusões viriam, mas a amizade dos tolos era para sempre.

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