Luna

Capítulo 59

Exatamente como eu imaginei.

Eu me arrumei apenas para um encontro de despedida, não fizemos nada demais, apenas jantamos, assistimos filmes, demos altas risadas, mesmo abraçados na cama a roupa continuou intocada, não nos beijamos, nem tivemos toques mais fogosos como aquele beijo no lago, mas foi muito melhor do que eu poderia imaginar, pode ser que eu esteja confundindo meus sentimentos, ou pode ser que esteja aprendendo a ter um amor adulto e não aquele amor jovial como por Dylan.

Quando o terceiro filme acabou já eram 22h, disse que estava na hora de voltar para meus aposentos, Dim me acompanhou até a porta, deu um beijo em minha testa e voltou para seu quarto, ele era sem nenhuma dúvida um gentleman.

Mas minha noite não acabaria agora, e ainda tinha um ótimo álibi, troquei de roupa rapidamente, coloquei uma roupa toda escura com capuz, para que fosse mais fácil de me camuflar na noite.

Pulei minha varanda, dei a volta me esgueirando para evitar chamar atenção dos guardas que estavam de plantão naquela noite, segui pelo caminho por entre os arbustos até chegar ao laguinho, me abaixei o máximo que podia, sem me rastejar, isso causaria mais som, e por conta disso chamaria mais atenção.

O plano era simples, fazer um mapa mental de todos os lugares com maior vulnerabilidade, para que eu possa usar para adentrar em algum contêiner, observar principalmente quais cargas vão para a américa, e marcar os horários de troca de guardas.

Cada horário correspondia a um tipo de sirenes quase imperceptíveis, que apenas nós entendíamos, mas eu não estava acostumada com o turno da noite, ainda mais não tinha necessidade decorar esses horários, mas tinha que gravar muito bem o som que iria tocar, para que pudesse voltar para o quarto e descobrir, já que relógios a essa altura estavam fora de questão e a percepção pelo movimento da lua estava impossível, com as nuvens a nublando.

Não sei quanto tempo fiquei ali, mas consegui traçar um caminho entre os arbustos que dava ao lago, até atrás dos pavilhões de carga, o mais difícil seria o horário de troca de guardas, eles eram sempre muito disciplinados e praticamente não deixavam nenhum ponto sem estar ao alcance da visão deles, qualquer movimento não passava despercebido.

E então soou uma leve sirene, os guardas começaram a se movimentar, essa era a hora, esperei que todos saíssem e os próximos assumissem os lugares, eu tinha cerca de dois minutos para entrar sem ser vista, ia ser um desafio e tanto, mas todo o meu treinamento tem que servir para alguma coisa.

Sabia que cada um tinha um tempo para sair de seu lugar até outro entrar, nem todos saíam ao mesmo tempo, assim meus movimentos seriam pausados conforme o tempo de movimentação de cada um.

Os primeiros a sair eram os dos fundos, eu tinha poucos segundos para conseguir entrar e esgueirar meu corpo, por entre caixas, andando até os contêineres que eu queria.

Era uma dança, uma dança perigosa, meu destino estaria todo em jogo, conseguir escapar e ajudar o clube, mas perder a confiança de todos, ou ser pega e me tornar uma traidora e inimiga da máfia e ferrar ainda mais com tudo.

De qualquer forma minha cabeça seria servida em uma bandeja de prata, mas pelo menos se der sorte em escapar, farei algo bom em ajudar quem eu amo, mesmo que isso desenhe um alvo nas minhas costas e um sinal de traíra em minha testa.

Com tudo memorizado, o caminho traçado, hora de voltar para o quarto e pesquisar o som da sirene para ver o horário, só isso que faltava, agora era esperar o dia e colocar o plano em ação.

Pulo de volta a sacada do meu quarto, abro o janelão e dou de cara com Dim sentado na minha cama.

- Onde foi a essa hora?

- Fui caminhar, precisava de um tempo a sós, e queria pegar a brisa leve da noite, inclusive como entrou aqui? Eu deixei a porta trancada.

- Eu tenho uma chave do seu quarto, desde a vez que você quase morreu por parar de comer, e quando bati e chamei, você não respondeu, e como a luz estava ligada entendi que não estava dormindo, achei que tivesse passado mal, então eu entrei, quando vi que não estava optei por esperar para ver o que tinha acontecido, caso precisasse de ajuda.

- Olha Dim eu gradeço de coração a preocupação, mas eu precisava desse momento sozinha de verdade.

- Sente falta deles não é?

Ele tinha entendido que eu estava apenas com saudades, o que era verdade também, e essa era uma boa saída para despistar o que realmente estava fazendo.

- Muita, eu queria pelo menos poder falar com eles, mas a Mirka não deixa, eu sei que ela fala com meu irmão, mas eu queria falar com ele, saber se estão bem, como estão as coisas, ela sempre me diz que tudo está como deveria estar, mas isso não responde minhas preocupações, e afinal por que veio aqui?

- Só queria conversar sobre a gente, indo direto ao ponto, eu gosto muito de ti, mas eu confundi as coisas, eu não gosto para namorar, não que você não seja namorável, eu peço desculpas se isso te magoar, mas eu estive pensando e o que eu sinto por ti é um carinho enorme, mas é como amigo.

Ele já estava sentado aos pés da cama, sentei ao lado dele e peguei suas mãos nas minhas.

- Dim não se preocupe, eu acho que aconteceu a mesma coisa comigo, acabamos confundindo o amor de amigos, com amor de casal, mas quero deixar aqui bem claro que independente do que acontecesse, eu ainda seria tua amiga, e ainda estarei ao teu lado, para tudo, você é meu presente da Rússia mais incrível que poderia ter ganho na vida toda.

Ele sorriu aquele sorriso doce e genuíno que só ele conseguia dar, e me abraçou, ele não sabia que estes momentos seriam os últimos nossos, e eu estava aproveitando cada segundo, porque eu sabia que eram os últimos, e cada lembrança de despedida eu iria levar gravada no meu coração.

- Posso dormir aqui hoje?

- Claro, festa do pijama?

- Que coisa mais pré-adolescente.

- Não reclama e deita ai, vou escolher um filme e pegar doces e refrigerante.

- Sem bebidas?

- Sem bebidas.

- Como vou suportar horas e horas de filmes de comédia romântica sem um pingo de álcool?

- Suportando, meu quarto, minhas regras, agora vou pegar as coisas e deitar, que já vai começar.