Capítulo 66

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Chegamos na lavanderia depois de caminhar o restante do caminho em silêncio, ele não devolveu minha trouxa de roupas, mas também não pedi, estava um clima estranho e eu não tinha registrado mentalmente a reação do meu corpo.

- Então deste lado são as máquinas de lavagem e lá são as de secagem, elas funcionam com fichas tipo moedas, pode trocar ali naquela máquina, tanto nota quanto moedas.

- Obrigada, pode retornar ao seu trabalho.

- Eu sou dono daquele lugar, eu e minha abuela, então não tem problema eu ficar um tempo fora.

- Quando cheguei era tarde da noite não era? E você estava trabalhando já.

- Não tenho um horário fixo, meu irmão reveza comigo nos atendimentos, mas nunca temos período certo, logo depois que você chegou eu fui dormir, por isso que estou trabalhando já de novo.

- Entendo.

Enquanto conversava troquei umas moedas por fichas e coloquei a roupa lavar, havia sabão em pó, e amaciante, o que ajudou muito, porque nem tinha pensado em levar isso, até porque eu também não teria para levar junto.

- Senhorita, você derrubou cinco garotas, lutadoras profissionais de MMA, você tem noção do que você fez? Você derrubou elas, nocauteou todas, e não tem nenhum arranhão, foram socos certeiros, rasteiras, isso não foi luta de defesa pessoal, eu sei que não, elas iriam te destruir, você não teria a menor chance, se fosse apenas uma garota que treina defesa pessoal normal e está muito acima do nível de lutadoras profissionais comuns, quem é você?

- Eu não sou ninguém importante.

- Você já pensou em ganhar dinheiro lutando?

- Eu ganhar dinheiro lutando?

- Não me entenda mal, mas tem muitas lutas clandestinas, rola muito dinheiro, sei que está de passagem por aqui, mas seria sensacional ver alguém destruindo esse mercado de investimento em garotas como aquelas, seria como dar uma lição, elas precisam baixar a bola.

- Eu não quero ser envolvida nessas coisas.

- É só uma ideia.

- Agradeço.

Depois dessa conversa se instaurou um silencio constrangedor, eu não precisava de uma confusão dessas na minha vida, mas a questão das lutas, acaba sendo interessante, juntar uma grana ajudaria muito a chegar em casa, mas como faria isso sem chamar atenção? Obviamente que se eu começasse a lutar, e começasse a ganhar, isso ia chamar uma puta atenção, iam perceber que algo está errado, e certamente os caras das famílias das máfias estão dentro desse mundo, e fácil fácil iam perceber as técnicas e a notícia correria rápido demais e logo os russos estriam me arrastando de volta.

Se eu quisesse mesmo precisava encontrar uma forma de entrar disfarçada, mas como? Não podem ver meu rosto, se uma imagem vaza, eles me encontram, a forma de lutar é algo que pode ser distorcida, mas o rosto não tem como.

Uma máscara seria ridículo, um lenço quem sabe, mas precisa ser algum tipo que fosse "normal", usar algo que seja muito fora do comum, logo vão perceber que estou me escondendo, e logo vão conseguir me descobrir.

Penso nas mulheres islâmicas, aqueles lenços seriam algo que com certeza daria certo, mas precisava descobrir se existe alguma comunidade por aqui, se não vai ser algo difícil das pessoas acreditarem. 

Estava sentada em cima de uma das máquinas esperando as roupas ficarem prontas, olhei para Juan, ele estava escorado na batente da porta olhando para a rua.

- Aqui tem alguma comunidade Mulçumana? 

- Sim.

- Estava pensando em conhecer.

Ele vira olhando para mim com uma cara curiosa.

- Posso perguntar por que?

- Quero entender como funciona algumas coisas, como por exemplo os lenços.

- Entendi.

- Estou pensando sobre as lutas.

Ele continuou me olhando com uma cara de interrogação e ainda mais interessado.

- Se por a caso eu aceitar lutar, quero usar lenços para não ser reconhecida.

- Por que?

- Só aceito participar se for assim, com o rosto coberto.

- Você é alguma criminosa? Fugindo de alguém? Quem é você?

- Já falei que não sou ninguém importante.

Ele acenou concordando com o que falei.

- Vou ligar para um amigo meu, ele deve conhecer pessoas que podem te ajudar.

- Certo, obrigada.

Pegou o celular e saiu da lavanderia, fiquei ali escutando o som da máquina, imaginando a merda que poderia dar essa história de lutas, se der errado eu vou ficar muito fodida.

Minutos depois Juan volta.

- Hoje a noite meu amigo vai ir no motel nos encontrar, e disse que vai levar um casal de irmãos que são amigos dele e são mulçumanos para conversar.

- Podemos nos reunir no meu quarto.

- Você que sabe, podemos pedir comida ou posso pedir que minha abuela faça alguma coisa para nós.

- Gostaria de experimentar comidas típicas daqui.

- Certo quando voltarmos pedirei a minha abuela para preparar para nós, mas e me diga como você veio parar aqui?

- Estou só de passagem voltando para casa.

- Mochileira?

- É, mochileira.

A mentira vinha pronta e eu embarcava na ideia, eu ia me enrolar em algum momento? Provável, mas eu não tinha o que fazer, a situação estava virando uma bola de neve, tinha tudo para dar errado.

Juan percebeu que a conversa não iria fluir e voltou a ficar escorado na porta olhando para a rua, sai da máquina, retirando a roupa de uma máquina colocando na outra para secagem, colocando a outra ficha que tinha, mais um tempo e estava tudo pronto, fiz novamente uma trouxa com as roupas para voltar para casa.

O caminho de volta foi feito em silêncio e sem nenhuma interrupção, ainda estava um pouco receosa em andar por aquelas ruas, estava esperando que aquelas pessoas voltassem.

- Aquela garota é sua namorada?

- Ex-namorada, é uma longa história.

- Gostaria de ouvir.

- Hoje a noite, no seu quarto, respondo tudo o que quiser.

- Certo.

Chegamos no motel, Juan combinou com a avó dele para preparar alguns pratos para nós, avisou que os amigos iriam chegar pelas 08:00pm, segui para meu quarto, era hora de organizar as coisas já que irei ter visitas, guardei as roupas no armário, e ajeitei o restante das poucas coisas que tinha, o quarto havia recebido o serviço de limpeza enquanto estava fora, então estava tudo organizado.

Liguei a televisão em canal de músicas e deixei em volume baixo, tomei mais um banho rápido, sentei na cama e aguardei dar o horário para o pessoal chegar.

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