Capítulo 62

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Ansiava pelo momento que estaria voltando para casa, para os braços de minha família, mas esperava que voltasse por meios mais dignos, estar no meio de um monte de caixas de provavelmente uma carga ilegal, não era exatamente o que seria considerado digno de alguma coisa, mas é o que temos para hoje.

Quando escutei que o avião iria decolar, e ouvi o som das portas do compartimento de carga serem fechadas, senti um leve inclinar, e entendi que onde estava era o fundo onde as caixas iriam escorregar, dei meu jeito de seguir para a frente do contêiner, ou seria facilmente esmagada pelas caixas, o que poderia fazer um estrago irreversível em meu corpo, não era com certeza forma mais indicada de viagem, mas já que estamos no inferno abraçamos o diabo.

Abri caminho empilhando as caixas de uma forma a formar um pequeno corredor, esse seria meu espaço de movimentação, como havia ocupado lugar de caixas, que milagrosamente ninguém percebeu, sobrava um pequeno espaço, o que usei para montar uma base com caixas para formar uma cama, e sentar de forma digna.

Era como brincar de lego, que poderia ser minha morte, se por algum motivo desconhecido, essas caixas deslizassem com todo o peso para cima da minha pessoa, um desvio do avião, uma turbulência e eu viraria um patê.

Coloquei a bolsa com roupas em um canto em cima das caixas, assim ficaria como um travesseiro, um micro conforto.

Deitei e fiquei ali observando o teto daquela caixa de metal, tamborilando meus dedos sobre meu estômago.

Precisava manter-me calma, um ataque de pânico e eu estaria em apuros.

Não dava para sentir turbulência ou algo do tipo, estava tudo extremamente silencioso, calmo, sem movimento de uma mosca, a luz era praticamente escassa vindo do compartimento de carga que as mercadorias estão.

Adormeci.

Nem percebi o momento que isso ocorreu.

Acordei em um salto, sentindo-me imprensada, as caixas estavam vindo todas para o canto onde estava, tudo estava tremendo feito um terremoto, eu não sabia exatamente como era passar por uma turbulência, afinal havia viajado de avião uma única vez apenas, com a máfia, e certamente eu não passei por isso.

Não conseguia me equilibrar, as caixas continuavam se mexendo e batendo em mim, iam ficar marcas terríveis no meu corpo todo por conta das quinas das caixas, não podia destruir a carga, tinha que aguentar sem fazer estragos, estava sendo jogada de um lado para o outro, as caixas vinham, eu empurrava, mas outra me acertava, lágrimas começaram a invadir meus olhos.

Me sentindo, completamente impotente, e percebendo que poderia não conseguir chegar ao final dessa viagem.

Ataque de pânico.

Meu corpo tremia, chorava descontroladamente, faltava ar, como eu sou idiota, estou indo atrás de pessoas que me colocaram nessa situação, meu irmão e aquela vadia da namorada dele, e se nem o Death está me procurando, mesmo sem saber onde estou, e se ele simplesmente aceitou que fui embora, o que eu estou fazendo da minha vida?

Estava trêmula, e mesmo assim fechei com muita força as unhas na palma da mão, percebi apenas quando senti minha mão úmida e percebi que estava sangrando por um pequeno corte feito pela própria unha.

É isso que eu precisava.

Comecei a sentir a ansiedade cada vez maior dentro de mim, eu precisava sair dali, comecei a sentir minha pele formigando, comecei a arranhar desesperadamente meus braços, aquela sensação tinha que parar.

As caixas pararam de se mexer, parecia que tudo estava tranquilo novamente, mas eu não estava, eu queria sair, chorei ainda mais, cravei minhas unhas nas minhas próprias pernas, por cima das roupas, mas eu podia sentir as pontas contra minha pele.

Respira sua idiota, respira.

Olhei para a minha bolsa, eu sabia que tinha medicamentos nela, mas eu não sabia se estava apta a tomar medicamentos, uma vez que nesses momentos eu acabava tendo a inclinação de tomar a mais, por achar que não iria funcionar apenas aquela quantidade.

Fecho os olhos.

Respiro fundo.

Respiro mais uma vez.

Abro os olhos e volto a olhar a bolsa, minha mandíbula já estava ficando rígida, eu precisava tomar agora ou seria muito pior.

Avancei para a bolsa, procurei desesperadamente pelos comprimidos, acabei virando a maioria dentro da bolsa, mas consegui pegar dois comprimidos.

Coloquei na boca, mas não consegui engolir, estava praticamente sem saliva, busquei a garrafa de água e virei, sem nem medir o tamanho dos goles, acabei afogando com a água, saiu pelo nariz, era uma grande merda.

Encolhi meu corpo em posição fetal e esperei, abracei fortemente meus joelhos contra meu corpo, as lágrimas ainda escorriam pelo meu rosto, trilhando novos caminhos em meio aos já secos de lágrimas anteriores, forcei meus olhos contra os joelhos, eu odiava essa sensação, odiava ser fraca, odiava não ter controle sobre meu próprio corpo.

Não sei por quanto tempo permaneci daquela forma, em algum momento adormeci, provavelmente por conta dos medicamentos, acordei com minha boca seca, um gosto amargo.

Quantas horas estou aqui dentro?

Será que falta muito para chegar ao destino?

Sentei, senti todo meu corpo dolorido, principalmente minhas mãos e braços, meus olhos ardiam e estava com uma terrível dor de cabeça.

Olhei para as minhas mãos com sangue seco, isso era uma merda.

Esfreguei uma na outra para tirar o que conseguisse, passei o dorso da mão no rosto, estava um pouco pegajoso das lágrimas secas.

Mas eu estava melhor da crise.

Com calma peguei minha bolsa, recolhi todos os medicamentos que havia virado, procurei um para dor de cabeça, peguei um refrigerante que havia trazido para tomar, um pouco de glicose viria ajudar, meu estômago roncou, decidi comer um pouco, não sabia a quanto tempo estava ali, e muito menos sabia a quanto tempo estava sem comer, e tomar medicamentos com estômago vazio é uma grande receita para o desastre de uma gastrite.

Parabéns Luna, a sua brilhante ideia pode custar o resto de sanidade que tem em sua mente, será que nunca passou pela sua cabeça que isso poderia ser um desastre? Não, não passou porque queria fugir o mais rápido possível, e não pensou no que poderia lhe ocorrer.

Parabéns querida, o inferno lhe aguarda.

LunaOnde histórias criam vida. Descubra agora