Capítulo 74

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Acordar com a sensação de estar sendo observada, não é exatamente algo normalmente esperado.

Abro meus olhos já em alerta, sento na cama rapidamente e começou a vasculhar o local a procura de alguém me espionando, russos talvez, será que já me encontraram? Será que dá tempo de escapar?

- O que foi?

Olho para o lado assustada, Juan estava ali, ainda estava ali, ele havia dormido comigo, olho para baixo eu ainda estava sem roupas, puxo o lençol cobrindo meu peito, morta de vergonha.

- Ei muchacha, calma, o que foi? Teve um pesadelo?

Ele sentou abraçando meus ombros, como explicar para ele isso? Então querido, eu só estava em alerta, nada demais só seguindo os treinamentos que tive na máfia sabe, nada demais.

- Nada, só acordei achando que estava atrasada, costume de acordar com despertador sabe, dai quando dorme a mais fica perdida.

- Sim, sei bem como é isso, quando tenho algum compromisso principalmente, acabo acordando antes do despertador e achando que já perdi a hora.

Assim ele deixa seu corpo cair preguiçoso de volta para o colchão, a minha mentira tinha sido de última hora, mas aparentemente ele acreditou, depois de muito treinar eu fiquei absurdamente boa nisso.

- Bem isso!

- Mas você tem alguma coisa para fazer?

- Não, não mesmo, agora eu estava pensando em começar os treinos, preciso também encontrar equipamentos para as lutas e tudo mais.

- Sim, podemos fazer isso, mas eu vou ter que trabalhar hoje, meu irmão precisa fazer algumas coisas, mas vou te passar algumas localizações de lojas que podem ser úteis para você.

- Isso, ótimo!

- Você está bem mesmo?

- Sim, sim, tudo bem.

Dou meu melhor sorriso, ainda sonolenta, mas feliz, de verdade, apesar de tudo. Juan que estava deitado de costas vira de lado ficando apoiado em um abraço olhando para mim, é estranho um cara tão bonito quanto ele prestar atenção em uma pessoa como eu, mas iria aproveitar o que a vida estava me oferecendo, com o braço que estava livre ele colocou a mecha do meu cabelo que estava caindo no meu rosto, atrás da minha orelha, mantendo a palma da mão em minha bochecha fazendo leve carinho, ele era tão carinhoso, de onde eu vim isso é tão incomum.

- Estava te observando dormir, seu rosto sereno, tão tranquila.

Então era isso que me acordou, a sensação de ser observada, eu realmente estava sendo observada, mas não por um espião, não eram os russos, pelo menos não por enquanto. Não tinha resposta para dar a ele, apenas virei meu rosto para a palma de sua mão e depositei um beijo.

- Certo, já que acordamos, vamos iniciar o dia.

- Irei tomar um banho e seguir meus planos de compras.

- Tome um banho e passe no restaurante, irei deixar o café pronto para você, tem que comer, não seja teimosa, saco vazio não para em pé.

- Tudo bem, estou realmente morrendo de fome, vamos?

- Vamos.

Assim levantei e segui para o banheiro, ouvi ele vestindo as roupas, gritou um até logo e depois escutei a porta sendo fechada, estava sozinha, com meus pensamentos, é uma absurda loucura o que tem ocorrido comigo nos últimos tempos, já não sei mais quem sou, todas as certezas que tinha se diluíram no espaço, mas uma coisa permanecia, eu precisava voltar para casa, para a minha família, entender o que aconteceu, e o principal, levar a lista para eles, tinha saudade de casa, mesmo tendo passado pouquíssimo tempo.

Entro no banho com a água morna, quase fria, o calor que faz aqui o tempo todo é uma pequena amostra do inferno.

Saio vestido uma roupa confortável, precisava levar a roupa de ontem para lavar e devolver para a dona, que vergonha, imagina se ela soubesse o que aconteceu enquanto vestia aquelas roupas, ri com o pensamento, melhor não imaginar mesmo, até porque ela não gosta de homens, o que seria bem pior.

Pego minha bolsa, as roupas sujas e sigo até o restaurante, a essa altura já passava das 09:00 a.m., o que significava que o local estava completamente vazio.

Apenas uma mesa estava posta, com o café, um bilhete estava em cima com meu nome, Juan havia deixado preparado para mim um pelo dejejum, café com leite, um suco de laranja, um sanduíche e um bolo de chocolate com cobertura, boa escolha.

Estava terminando de comer quando um Juan com um cesto enorme de roupas aparece, estava sem camisa, suando, e eu estava salivando, e lembrando da nossa noite.

- Espero que a porta esteja destrancada quando eu chegar.

- O que disse?

- Você escutou muito bem muchacha.

Sim eu escutei muito bem, mas eu precisava ouvir mais daquela voz aveludada, e entendi principalmente a promessa que estava escondida em suas palavras.

- Essas são as roupas que usou na festa?

- São sim, vou levar para lavar assim que terminar meu café.

- Deixa que eu levo, vou levar essas roupas de cama aproveito e já lavo estas também, não me custa nada, vou para a lavanderia de qualquer forma.

- Tudo bem, aceito, quero evitar as pessoas daquela rua mesmo.

- Boa garota, e aqui está a lista de lojas e endereços que podem te ajudar, são todas aqui perto, caso não ache o que precisa, posso te levar amanhã em lojas mais ao centro.

- Muito obrigada.

Levanto colocando as roupas no cesto, pego o bilhete e dou um beijo em sua bochecha.

- Até a noite.

- Até a noite.

Saio do lugar seguindo o mapa que ele havia desenhado.

Comecei pelo básico, encontrando equipamentos de treino, joelheiras, luvas de treino e luva de luta, faixas, um protetor bucal, duas mudas de roupa para treinar e uma para lutar oficialmente, top, regata e legging, e para a luta além disso uma blusa leve de mangas compridas, precisaria parecer realmente com uma muçulmana, e no mínimo deveria respeitar a sua forma de vestir, todos na cor preta. Ali perto havia uma farmácia aproveitei para comprar um kit de primeiros socorros com muitos esparadrapos e gaze, para possível machucados, uma pessoa prevenida vale por muitas.

Primeira parada concluída com sucesso.

Agora só faltava a outra parte do meu plano, encontrar um meio-niqab, como faço para encontrar uma loja dessas sem celular? Parabéns senhora criadora de planos meia-boca.

Volto para o motel, talvez eu consiga algo para acessar a internet, chego deixando as compras no meu quarto e saio pelos corredores procurando Juan, ele deve estar na recepção ou ainda lavando roupas, mas pode ter alguém para atender, quem sabe me ajude com um celular.

Entro dando de cara com dois caras estranhos, a roupa e o jeito lembravam muito os russos, tento chegar mais perto o mais silenciosamente para ter um vislumbre de seus sotaques.

O sotaque carregado ao falar espanhol marcava que não são naturais dessa língua, o que leva a entender que são estrangeiros, mas o que fez minha ficha cair, foi a conversa baixa entre eles, a clara língua russa, e uma foto, eles estavam me procurando.

A abuela de Juan me viu atrás deles, ela sabia que estavam me procurando, sinalizei que não, ela entendeu, sai o mais de vagar possível para não chamar atenção, corri para meu quarto e tranquei portas e janelas, fechei completamente as cortinas e permaneci no mais profundo silencio, se eles caminhassem pelos corredores não iria chamar atenção um quarto supostamente vazio, assim não me encontrariam.

Pelo menos é o que eu esperava.

LunaOnde histórias criam vida. Descubra agora