Capítulo 47

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Acordo assustada, alguém muito gentil está espancando a minha porta e me chamando desesperadamente.

- Ta viva? Dá para levantar dessa cama? Algum sinal de vida por favor? Inferno de garota que dorme igual uma pedra!

- Já acordei!

Grito de volta, resmungo espichando meu corpo na cama, só queria mais cinco minutinhos, essa cama está tão boa, e sabe que dormir nua não é tão estranho quanto eu imaginava.

- Abre a porta, tenho as tuas roupas aqui!

- Merda.

Levanto amarrando meu roupão caminhando até a porta.

- Que horas são para você me acordar com toda essa disposição?

- Hora de acordar, aqui estão suas roupas, vista-se logo, irei esperar para levar a senhorita tomar seu café.

Pego as roupas e não entendo o porque de ele continuar não olhando nem para meu rosto, mas tudo bem.

Fecho a porta, caminho até o banheiro e dou de cara com a minha roupa íntima que havia esquecido de lavar, ótimo Luna, agora o que vai vestir?

Decidi tomar um banho rápido e aproveitar para lavar pelo menos a calcinha, e é isso o jeito é secar com o secador de cabelo, tem tudo para dar certo, não é mesmo?

Após tomar banho, coloquei meu roupão e enrolei a toalha no cabelo, vamos iniciar a operação seca calcinha, e parabéns, ficou uma bosta, mas é o que temos para hoje, pelo menos está limpa.

Visto rapidamente, mas não tenho escova para escovar os cabelos, nem escova de dentes, ótimo vou parecer um demônio, de cabelos desgrenhados e bafo dos infernos.

Faço pelo menos um bochecho apenas com água mesmo, pode ser que ajude a diminuir a má impressão.

Saio do quarto, trancando a porta e guardando a chave no meu bolso, o rapaz me olha de canto e de repente solta uma gargalhada e se contém logo em seguida.

- Você precisa dar um jeito nesse cabelo, assim está parecendo uma sem teto que invadiu a casa.

Assim pega meu braço, me arrastando pelo corredor, para em frente a uma porta, tira chaves do bolso, abre e faz menção para que eu entre. O cheio denuncia que este espaço é dele, ele anda pelo quarto que era exatamente igual o meu, porém com toques pessoais dele, quadros de paisagens, a brisa leve que entrava pela janela espalhando o perfume do local, algumas fotos na escrivaninha que certamente são sua família.

Entra no banheiro e sai rapidamente com algo nas mãos.

- Aqui, use a minha, é menos pior que sair com os cabelos parecendo um leão.

- Não sei se agradeço ou ficou constrangida pelo comentário sobre meu cabelo, mas obrigada pela escova.

Peço licença e vou até o banheiro, tento domar da melhor forma meu cabelo, considerando que mesmo que tenha usado condicionador, ele fica péssimo se deixar passar um tempo secando sem escovar ele, até porque estava tentando secar minha calcinha, ele começou a secar, e secar sem escovar deixa ele rebelde.

Aproveito que estou no banheiro dele e procuro por algo que pareça ser uma pasta dental e dou uma escovada com o dedo mesmo, tudo para disfarçar a merda do mau hálito.

Saio do banheiro quase correndo, pois sempre tenho a impressão que estou demorando muito para fazer qualquer coisa quando o lugar não é meu.

- Bem melhor, vamos antes que fique atrasada.

- Você quase derrubou minha porta e não está nem perto de ficar atrasada?

- Você prefere chegar atrasada nos lugares?

- Não.

- Então...

- Entendi.

Ele abriu a porta e deixou espaço para que eu saísse, sai extremamente constrangida por ter ficado no quarto de alguém completamente desconhecido, e usando as coisas dele.

Juntamente com a ansiedade de ver a minha "cunhada", a vontade de correr de volta para meu quarto, ficar lá no meu espaço, mas preciso agir como a adulta que aparentemente eu sou.

Espero o rapaz seguir pelo corredor a minha frente, assim eu poderia o seguir sem me perder, e ir dando respirações profundas para conter meu nervosismo.

- Fique tranquila, a senhorita Mirka é uma mulher maravilhosa, ela vai te tratar muito bem, deve se preocupar mesmo é com o senhor, ele pode ser muito desagradável, mas a esse horário não é para o mesmo estar na mesa de café da manhã.

- Certo.

Ele para e acena para uma porta.

- Nesta porta, pode entrar a senhorita deve estar esperando sua companhia.

- Não pode entrar comigo? Eu realmente estou muito nervosa.

Ele olha para trás, onde dava para a sala que havia atravessado na noite passada ao entrar neste lugar.

- Tudo bem, mas só irei lhe apresentar e terei de sair, tenho coisas a fazer.

- Muito obrigada!

Assim ele bate na porta e abre, entra na sala e faz sinal para que eu entre, respiro profundamente e mexo minhas pernas, parece que estou entrando em um corredor da morte, como um animal a ser abatido, um frio na barriga, um calafrio na espinha.

- Entra cunhada, estou só te esperando para começar a comer, não me deixe esperando, estou morrendo de fome!

Olho para o rapaz que ri da minha cara.

- Dimitri, por favor traga ela para dentro.

- Senhorita, por favor entre, antes que a senhorita Mirka venha até aqui e a arraste para dentro.

Era uma cena que não se encaixava com o local, uma pessoa tão leve e animada em um lugar tão sério e aterrador. 

Dimitri, o rapaz que por fim descobri seu nome, sai dizendo que estava quase atrasado, por fim, crio vergonha na minha cara e coragem no meu corpo, entro na sala, era uma sala ampla, com grandes janelões de vidro, com leves cortinas brancas que dançavam com o vento.

- Eu mesma que fiz a decoração desta sala, meu pai é um pouco tradicional demais, mas aqui eu que escolhi tudo.

Finalmente olho para a minha interlocutora, uma jovem russa típica, ruiva, de pele branca, olhos claros. Estava sentada com uma camisola de seda, preparando um chá, uma mesa redonda de vidro com um centro rotativo, diversas comidas, bebidas, e um lugar posto para mim, cadeiras estilo poltronas de madeira com encostos estofados, quadros de arte abstrata pelas paredes. Parece realmente uma típica casa de ricos, na verdade nunca entrei em uma, mas imagino que seria algo padrão nesse nível.

- Sim aqui tudo é muito caro, os quadros de pintores famosos, a mesa feita a meu pedido, os janelões blindados, eu mesma sou uma mulher cara, mas pode sentar ai, não irei cobrar nada.

- Está sendo irônica ou é arrogante assim mesma?

- Entenda como quiser, mas a sua postura desde que entrou nessa porta está sendo bem desagradável.

- Mas eu não falei nada.

- Mas sua expressão facial e corporal está demonstrando o quanto não está confortável aqui e seus olhos de julgamento demonstra muito o quanto está criticando o valor de tudo aqui.

- Só me desculpe, é tudo muito novo pra mim, e não estou olhando para as coisas "julgando", é involuntário, eu nunca estive em um lugar como este, venho de uma realidade muito diferente, é errado olhar para tudo isso e questionar o quanto custou e que provavelmente eu nunca chegarei a este patamar?

Nisso ouço um barulho de alguém entrando pela porta atrás de mim.

- Sim está muito errada, até porque isso aqui não é uma simples casa, não me interessa de onde vem, e você não é nem um pouco bem-vinda aqui com esse olhar de desdém, nem sequer está está a altura de estar aqui.

Vejo Mirka falar um mudo "desculpa" para mim e desviar o olhar, faz um sinal como se eu estivesse sendo dispensada, algo não está certo aqui, não era esse o combinado com meu irmão.

LunaOnde histórias criam vida. Descubra agora