Capítulo 15

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As provas foram todas apresentadas e avaliadas por cada integrante do clube, questões foram levantadas e respondidas, não haviam mais dúvidas.

Estavam todos no pátio, formando um círculo ao redor de quem um dia havia sido nosso Prez, naquele momento reinava um silêncio sepulcral entre todos.

- Agora que estamos todos reunidos, e todos já tem seu julgamento formado, quero que todos digam se o consideram culpado merecendo seu fim como traidor, ou se não o consideram um traidor, mas merece um castigo, pois as provas que foram apresentadas, não deixam dúvidas, de que ele é culpado por diversos atos cometidos contra nosso clube, contra nossas regras, contra nossos valores, então meus caros irmãos, seremos democráticos, pois eu não sou um verme como ele que decidia tudo sozinho, quero que levantem suas mãos quem o condena como um traidor!

Olho ao redor, cada um dos irmão foram movimentando-se sem olhar para os lados, sem hesitar.

A votação foi unânime.

Ele era culpado.

Era um traidor, e iria ser condenado ao seu pior castigo.

Ele estava com as mãos amarradas e amordaçado no centro da roda, o colete não estava mais em seu corpo, suas armas, objetos, tudo havia sido retirado, estava apenas vestindo roupas como uma pessoa comum, seu olhar era de desafio, ele não estava levando a sério que seria condenado, caminhei até ele, tirei a mordaça e soltei suas mãos, não hesitou em nenhum momento, assim que estava suas mãos livres, tentou acertar um soco no primeiro que encontrou a sua frente, esse foi o estopim para a sua morte.

Estavam todos alvoroçados, parecia uma enorme roda punk, mas que tinha um alvo a ser acertado, socos, chutes, o acertavam por todos os lados, todos queriam ter seu tempo, nessa altura já havia virado uma tremenda selvageria, ele tentava defender seu corpo já apresentando sinais de exaustão, tanto pela sua idade, quanto pelo grande número de pessoas o acertando, tentava acertar golpes aleatórios que não atingiam ninguém, eu havia saído da roda, estava a mirar tudo de longe.

- Tenham seu tempo com ele, mas não o matem, podem ferrar com ele o quanto quiserem, mas eu quero ele vivo.

Gritei para todos, virei para Skill que estava ao meu lado, com seu olhar distante, seu pensamento estava longe, certamente pensando na irmã.

- Skill, quando eles terminarem ordene que levem ele para o porão e o deixem preso na mesa, e insisto que não o matem e nem o deixem morrer.

Não esperei sua resposta, segui até a minha moto, fiz o motor rugir para o mundo, e sai pelo portão sem dar justificativa, eu precisava correr, sentir o vento batendo, isso sempre ajudou a pensar melhor, e nesse momento eu precisava pensar, precisava decidir o que iria acontecer com o clube agora que não temos mais um Prez, preciso pensar em uma forma de encontrar Luna.

Corri pela estadual até perder a cidade de vista, segui até as montanhas, entrei por trilhas até chegar ao topo, por entre as árvores encontrei uma clareira, parei a moto, e chorei.

Sentia-me como uma criança abandonada pelos pais, e que teve seu brinquedo quebrado.

Eu estava perdido, sem rumo, sem chão.

Não sabia mais o que fazer.

A situação do clube agora seria um caos, certamente alguns dos fornecedores e parceiros iriam nos virar as costas, pois eram cúmplices daquele desgraçado.

Luna desaparecida, não sabemos nem ao menos o que aconteceu, ela fugir e conseguir despistar nossos rastreadores, era impossível, ela só pode ter sido pega por aqueles bastardos, eles deveriam estar a espreita, esperando por um descuido nosso.

Não sei mais o que pensar, não sei mais o que fazer, não sei como agir, simplesmente eu não sei mais nada.

Estou inerte e vazio.

Desço da moto, deixo meus braços caírem ao lado do meu corpo, fecho meus olhos e ergo minha cabeça em direção ao céu pedindo forças, pedindo que ilumine meus pensamentos, que abra meus caminhos e mostre o certo a ser seguido, nunca fui religioso, mas céus dê-me um sinal de que está a escutar minhas preces, ajuda-me!

- POR FAVOR CÉUS, ME AJUDE!

Grito com todas as minhas forças, pingos de água começam a cair em meu rosto, abro os olhos e foco o olhar nas nuvens que se aglomeram no céu, começam a despejar sobre mim suas águas puras, como se estivesse abençoando-me e dando o sinal que tanto pedi.

As lágrimas se misturaram com as águas da chuva, meus soluços são emudecidos pelos estrondosos trovões, não sabia se eu era o reflexo da chuva, ou a chuva que era o meu, mas parecíamos ser iguais, eu fazia parte do temporal.

Deixo meu corpo cair de joelhos ao chão, coloco as mãos no rosto, entre lágrimas eu grito, grito até perder a voz, grito para colocar para fora tudo o que está sufocando-me.

Isso não começou agora, isso vem sendo acumulado durante anos, não sei mais até quando eu consigo suportar tudo isso.

Eu sei que escolhi essa vida, mas o preço dessa escolha está sendo caro demais.

Rolei ficando deitado na grama da mata com os braços abertos recebendo a chuva por todo meu corpo, deixando a chuva lavar tudo o que estava dentro de mim, lavando minha alma, o choro cessou, lágrimas ainda escorriam pelo meu rosto, com os olhos fechados podia sentir os pingos da chuva cair em meu rosto, fria, contrastando com o caminho quente das lágrimas.

A chuva começou a ficar cada vez mais calma, os pingos mais despassados, indicando que em breve iria parar de cair. Continuei ali, até não sentir mais nenhum pingo, completamente molhado, o vento frio atingia meu corpo causando calafrios, eu não queria sair dali, eu apenas queria sumir, que a terra abrisse sob meu corpo e eu fosse engolido pela terra fria e úmida que estava abaixo de mim.

Adormeci, não percebi que havia caído em sono profundo até ouvir sons de animais por entre as plantas, acordei sobressaltado, não recordava que estava entre a mata, pisquei algumas vzes para ajustar a minha visão, por conta da pouca luminosidade da noite, levantei vagarosamente, sacudi as folhas e terra que estavam agarradas em minha roupa.

Olhei mais uma vez para o céu mirando agora a lua, que reinava em sua plenitude no céu por entre as nuvens do tempo nublado.

- Por favor lua, proteja Luna onde quer que esteja, sei que ela vê a ti como eu lhe vejo, cuide dela assim como eu a cuidava.

Vou até minha moto e faço o caminho retornando para o complexo.

Dias turbulentos estão por vir.

LunaOnde histórias criam vida. Descubra agora